A segurança de se consumir carne bovina tem sido intensamente questionada após surgirem novos casos de BSE (doença da vaca louca) no continente Europeu. Como amplamente divulgado, o consumo de carne bovina na Europa caiu assustadoramente, e os consumidores têm discriminado contra a presença de tecidos de bovinos nos produtos disponíveis nas prateleiras das lojas. Segundo relatório da FAO, existe possibilidade concreta do aparecimento da BSE em vários países que importaram alimento contaminado da Inglaterra. É esperado que, a cada novo caso de aparecimento da BSE em países ainda sem ocorrência da doença, a restrição ao consumo de carne bovina seja aumentada.
Que atitudes aqueles que vivem da cadeia da carne bovina precisam tomar e fazer cumprir para que essa tendência de restrição ao consumo de carne bovina seja, pelo menos, interrompida?
Dois aspectos são bastante óbvios. Primeiro, deve ser assegurado com absoluta credibilidade que os produtos que estão sendo oferecidos são seguros quanto à presença de BSE e de outras doenças transmissíveis. Em segundo lugar, deve ser feita uma campanha de esclarecimentos, tanto para consumidores com o objetivo de mostrar que existem produtos seguros, como para todos os componentes da cadeia da carne para mostrar a importância e a necessidade de se produzir e colocar à disposição dos consumidores produtos seguros em termos de contaminação por doenças, em especial pela BSE.
Uma reação inicial a essa falta de segurança e de credibilidade na carne bovina, é aumento do interesse dos consumidores por produtos naturais ou orgânicos. Pesquisas de mercado na Europa têm mostrado que os consumidores estão dispostos a pagar até 20 a 30 % a mais pelos produtos orgânicos ou naturais. Parece claro que não existe a mínima possibilidade de no curto e no médio prazo, atender uma parcela significativa dos consumidores interessados em consumir produtos orgânicos, principalmente de proteínas animais e em especial de carne bovina. Está bastante claro também que carne bovina natural ou orgânica com certificado de origem, inclusive para ausência de doenças transmissíveis ao homem, será um excelente nicho de mercado.
Entretanto, existem nichos de mercado para produtos não orgânicos cuja qualidade e origem possam ser rastreadas por toda a cadeia produtiva. Mesmo antes do problema da BSE ficar crítico e de demonstração de qualquer interesse dos governos, algumas cadeias de supermercados que atuam no Brasil, começaram a estimular a produção de produtos que pudessem ser rastreados, inclusive de carne bovina. Normas de produção estabelecendo critérios de uso de insumos, de cumprimento das leis sociais e de sutentabilidade do sistema de produção foram desenvolvidas e estão em aperfeiçoamento. Cadastro de produtores e emprego de auditorias independentes, essenciais em um programa de rastreabilidade, estão em andamento.
Um dos maiores problemas no cadastramento e rastreamento é encontrar e ou desenvolver métodos de identificação eficientes e de fácil execução. Está sendo apresentado no Congresso Nacional um projeto, aparentemente bastante detalhado, de cadastramento e rastreamento para a cadeia da carne bovina. Independente de interesses partidários, esse projeto deveria receber atenção especial de nossos Congressistas e de todos os componentes da cadeia da carne bovina, visando aperfeiçoá-lo e colocá-lo em execução o mais breve possível. Não temos mais tempo a perder, aliás estamos novamente atrasados.