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Calagem em Pastagens

Ainda hoje se discute sobre a necessidade de calagem em pastagens tropicais. Apesar dos inúmeros trabalhos na área, há quem não acredite que o calcário traga algum benefício para esse tipo de pastagem.

Existem algumas formas de cálculo de necessidade da quantidade de calcário que são adotadas em algumas regiões do País. As mais conhecidas são: através da soma de cálcio (Ca) e magnésio (Mg); através da eliminação do alumínio; e, por último, através da soma de bases. Essa última foi desenvolvida pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e tem por finalidade calcular a quantidade de calcário a ser aplicada em uma área pela elevação da saturação por bases para as diferentes culturas. Talvez por ter sido desenvolvido em São Paulo, é o método de calagem mais discutido, pois, sem dúvida, atualmente, a melhor agricultura do País não está em São Paulo e sim no Centro-Oeste brasileiro. Nessa região os solos são ácidos e têm se conseguido boas produtividades com saturações por bases na ordem de 50% ou menos (soma de Ca e Mg superior a 20 mmolc/dm-3).

Por outro lado, existe uma linha de trabalho que divulga saturações por bases mais elevadas, entre 70 e 80%, quando se trabalha com adubações nitrogenadas para altas produções. Há quem discuta que a necessidade de calagem está relacionada ao tipo de planta que se está cultivando, que as braquiárias são menos exigentes e, por isso, podem ser trabalhadas em solos mais ácidos. Além disso, existem também os que trabalham no Centro-Oeste e dizem que lá os solos são diferentes do estado de São Paulo, e desse modo se trabalha com saturações menores.

Enfim, existem várias linhas de raciocínio para quantificar a necessidade de calcário em uma área de pastagem. Assim, ao meu ver, transforma-se uma simples tecnologia em uma tarefa difícil de ser entendida pelo pecuarista. E a pergunta sempre acontece: Qual a saturação que eu devo trabalhar para a planta?

Pois bem. Existem trabalhos que mostram respostas das plantas forrageiras à calagem e outros que não. Na maioria das vezes, os trabalhos de longa duração (alguns anos) mostram respostas, da mesma forma que os trabalhos onde há calagem e a não adubação com micronutrientes podem promover queda de produção da planta forrageira. Como se sabe, com a elevação do pH a disponibilidade dos micronutrientes é reduzida.

O trabalho de Paulino et al. (1994), mostra respostas positivas à calagem, sendo que essa prática potencializou os efeitos positivos da adubação fosfatada. Esse trabalho, conduzido em um Latossolo amarelo com saturação por bases (V%) de 29% e teor de fósforo (P) de 2ppm, recebeu calcário na dosagem de 0, 1 e 2 t/ha e adubação fosfatada de 0, 22, 44, 88 e 132 kg/ha de P. Essa quantidade de calcário foi suficiente para, através da equação do IAC, prever V% de 55 e 79%, respectivamente para as doses de 1 e 2 t/ha de calcário.
Através da figura 1 é possível verificar que, na medida em que se aumentou a quantidade de calcário, houve um aumento na produção do braquiarão independentemente da dosagem de P.

Figura 1- Efeito de três níveis de calagem sobre a produção de matéria seca de Brachiaria brizantha cv Marandú, em cinco níveis de fósforo

Figura 1

P (0): Y = 3.08 + 1.86833X (R2 = 0.99)
P (22): Y = 9.22 + 1.66000X (R2 = 0.98)
P (44): Y = 10.48 + 5.0633X – 1.383X2 (R2 = 1.00)
P (88): Y = 13.17 + 1.93833X (R2 = 0.99)
P (132): Y = 14.46 + 1.36166X (R2 = 0.94)

Pode se dizer que um dos benefícios da calagem é o aumento de Ca e Mg no solo, além do aumento de seu pH. O malefício que uma calagem pode trazer é o de reduzir a disponibilidade de micronutrientes, fazendo com que a planta tenha alguma deficiência (cobre, zinco, manganês, boro). Nesse caso, porque não fazer uma adubação com micronutrientes?

Os solos brasileiros, na maioria, apresentam níveis muito baixos de fósforo. Sabe-se que as jazidas desse mineral são limitadas (vão se esgotar). No entanto, os solos apresentam grande quantidade de P, que é indisponível à planta quando o pH é baixo. Em pHs maiores esse P passa a ser disponível. Talvez esse seja o grande benefício de se fazer calagem em solos de Cerrado.

Diante disso, acredito que saturações por bases entre 60 e 70% são interessantes no sentido de disponibilizar nutrientes para a planta, principalmente o P. Entretanto, a melhor recomendação é seguir o histórico da área em relação à produção de forragem, associar essa produção com análises foliares e não ter apenas a análise de solo como instrumento para a definição de calagem e adubações.

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