A cana-de-açúcar é utilizada no Brasil, principalmente, para produção de açúcar e álcool. Essa planta forrageira, no entanto, tem lugar de destaque também como volumoso para a produção de bovinos, apesar de apenas pequena parte da sua produção anual ser destinada à alimentação de animais.
Sendo assim, os trabalhos de melhoramento em cana-de-açúcar visam sempre a produção industrial, ficando a nutrição animal defasada de valores de qualidade das novas variedades. Além disso, há como agravante o fato da cana-de-açúcar não ser considerada um bom volumoso, sendo seu uso, portanto, indicado apenas para unidades produtoras pequenas e de baixo uso de tecnologia
Apesar das características da cana-de-açúcar citadas acima não serem verdadeiras, poucas instituições de pesquisa em nutrição animal se interessam em estudar, com maiores detalhes, as variedades de cana-de-açúcar que são lançadas no mercado. Como a pesquisa na área de produção de açúcar e álcool é muito intensa, novas variedades entram no mercado todo ano. Uma propriedade com atividade em pecuária, que utiliza a cana-de-açúcar como volumoso, geralmente não faz reforma de canaviais todo ano, pois as áreas são relativamente pequenas e isso torna as reformas anuais desnecessárias. O problema surge quando essa propriedade vai fazer a reforma de seu canavial e aquela variedade que foi cultivada por alguns anos, com um certo sucesso, não mais possui mudas disponíveis no mercado, pois não é mais cultivada pelas usinas. A solução é plantar o que a indústria sucro-alcooleira está cultivando. As variedades que as usinas plantam sempre têm a tendência de produzir mais e terem maiores teores de açúcar, mas… e o teor e a qualidade da fibra e, em segundo plano, o teor de proteína? Pois bem, esses valores não existem.
A tabela abaixo traz alguns dados bromatológicos de variedades originárias do Centro de Ciência Agrárias da UFScar e a CO 413. Essas variedades foram cultivadas pelo Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Ciências Agrárias de Jaboticabal, foram cortatadas com 17 meses do plantio e avaliadas em relação a matéria seca (MS), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE), extrativo não nitrogenado (ENN), matéria mineral (MM), estimativa de nutrientes digestíveis total (NDT) e a energia bruta em bomba calorimétrica (EB).
A escolha da variedade de cana-de-açúcar para alimentação animal deve estar relacionada, principalmente, aos teores de fibra. Nesse caso, as melhores variedades seriam as RB 855156 e a RB 855065, pois apresentam os menores teores de FDA e FDN e, conseqüentemente, maiores valores de NDT e, certamente, apresentarão maior potencial de consumo pelos animais.
1 Colaborou
Patricia Menezes Santos, Engenheira Agrônoma, doutoranda em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP