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Canadá fecha porteira para boi brasileiro

Um dia depois de uma tensa reunião na OMC (Organização Mundial do Comércio) para discutir subsídios para aviões com o Brasil, o governo canadense decidiu suspender a importação de carne de boi brasileira, alegando questões de saúde pública. O Canadá decidiu também retirar o produto já comprado das lojas. É o que informa reportagem de André Soliano, publicada na Folha de São Paulo.

A medida, além de fechar as portas do mercado do Canadá, também deve impedir as vendas de carne para os Estados Unidos e México. Como os três países fazem parte da Nafta (Área de Livre Comércio da América do Norte), as medidas sanitárias de um país devem ser seguidas pelos demais.

O embaixador José Alfredo Graça Lima, principal negociador brasileiro no contencioso entre a Bombardier e Embraer, preferiu não classificar a atitude canadense como um afronta ao Brasil.
“O Brasil não tem nenhuma razão para supor que essa medida tenha qualquer vínculo com a disputa em curso”, declarou.

Com a medida, o Canadá mostrou que tem poder para incomodar o país numa eventual guerra comercial. Devido às regras do Nafta, medidas desse tipo não afetam apenas as vendas brasileiras ao Canadá, um mercado secundário. Afeta também as vendas para o maior mercado consumidor do mundo, os EUA.

No ano passado, o país vendeu apenas US$ 5,5 milhões em carnes de boi industrializada para o Canadá. Já para os Estados Unidos embarcou US$ 82 milhões. O total de vendas atingiu US$ 275,5 milhões.

Os canadenses também mostraram que podem arranhar a imagem de produtos brasileiros no exterior. Eles proibiram a entrada da carne por suspeitarem que o gado brasileiro possa estar contaminado pela doença da “vaca louca”. O medo de consumidores europeus em se contaminarem com a doença já prejudicou os produtores da Inglaterra, Alemanha e França.
Além de impedir a importação, os canadenses vão recolher toda a carne brasileira à venda nas gôndolas de supermercados. Isso deve levantar preocupações no consumidor canadense e de outros países que importam carne do Brasil.

“Se arranhar, vão ter que lustrar com cera depois”, disse o ministro interino da Agricultura, Márcio Fortes, referindo-se ao impacto da medida canadense na imagem do Brasil.
Fortes, afirmou que até os EUA disseram que, caso venham a acompanhar a medida canadense, como prevê as regras do Nafta, não o farão por questões técnicas.
Segundo Fortes, os norte-americanos confiam na qualidade do produto brasileiro e só adotaram a medida por causa de seu acordo com o Canadá.

Informações

Segundo o conselheiro comercial do Canadá no Brasil, David Weiner, a medida foi tomada porque o Brasil não enviou as informações necessárias para a Agência de Inspeção do Canadá.

Weiner disse que a Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Austrália e a Nova Zelândia, que também estavam tendo a qualidade de seu rebanho analisada, cumpriram os prazos e não tiveram suas importações suspensas.

Weiner fez questão de enfatizar que a decisão foi técnica. “Quando for retaliações por causa da disputa Bombardier versus Embraer, vamos deixar claro.”

Por André Soliano, para Folha de São Paulo, 03/02/01

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