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Características do estro dos bovinos – implicações para a realização da inseminação artificial

Ed Hoffmann Madureira e Francisco Bonomi Barufi

A inseminação artificial constitui-se numa ferramenta de manejo que vem sendo a cada dia mais empregada no rebanho brasileiro. De fato, são inúmeros os benefícios que esta técnica apresenta: favorece o melhoramento genético do rebanho, ao possibilitar a utilização de touros de alto valor genético, que passam por testes de progênie, a um custo relativamente reduzido; e possibilita cruzamento entre raças zebuínas e taurinas, sem que seja necessária a manutenção de touros de raçaa européias sob as condições extensivas que se observam na maioria dos sistemas de criação de gado de corte.

Na década de 30 foi instituído o sistema de inseminação artificial após a detecção de cio “a.m. – p.m.”, ou seja, para cios detectados à tarde, inseminam-se as vacas na manhã seguinte; vacas que apresentem cio pela manhã são inseminadas à tarde. Este sistema vem sendo empregado desde então, a despeito de inovações nos processos de congelação do sêmen e da utilização de diluidores que parecem haver proporcionado um aumento da viabilidade dos espermatozóides no trato genital da fêmea.

Entretanto, ocorrem falhas na concepção que segue a inseminação. Em um experimento de SREENAN e DISKIN (1986), verificou-se que apenas 90% e 88% das fertilizações ocorriam, respectivamente em vacas e novilhas. Essa falha na fertilização deve ocorrer em virtude de uma assincronia entre a inseminação artificial e a ovulação (HUNTER e GREVE, 1997).

Outro sério problema que vem sendo enfrentado para viabilizar a utilização da inseminação artificial consiste na detecção dos cios. SENGER (1994), em revisão de literatura, constata que menos de 50% dos cios são corretamente detectados na grande maioria das fazendas leiteiras dos Estados Unidos, e ainda que a análise de progesterona oo leite atestam que cerca de 30% das vacas inseminadas não se encontram verdadeiramente em cio.

Visando superar essas deficiências, vários pesquisadores vem atualmente orientando seus estudos no sentido de viabilizar tratamentos hormonais que provoquem cio e ovulação em momentos previsíveis, agindo sobre o desenvolvimento folicular para provocar a emergência e seleção sincronizadas do folículo ovulatório.

Por outro lado, acentua-se também a importância de estudos sobre a fisiologia do ciclo estral dos bovinos. RANDEL (1984) verificou diferenças no que tange à duração, intensidade e tempo estro-ovulação quando se comparam animais de raças européias e indianas. Dessa maneira, parece fundamental a realização de estudos com animais zebuínos aqui no Brasil, de modo a poder adequar suas respostas aos vários tratamentos que vem surgindo.
PINHEIRO et al. (1998) efetuaram um estudo em vacas Nelore, com observação visual contínua do cio, e obtiveram duração média do estro de 10,9 horas, com intervalo início do estro – ovulação de cerca de 26 horas.

O aparelho “Heat Watch” permite o acompanhamento das atividades de monta através de telemetria. Neste sistema, sensores de pressão são acoplados à garupa das vacas, transmitindo sinais para um computador central. Assim, é possível determinar-se a quantidade de montas recebidas pelos animais durante o cio, bem como o tempo decorrido entre seu início e término.

Recente experimento realizado no Centro de Biotecnologia em Reprodução Animal da Universidade de São Paulo, em Pirassununga, com emprego do sistema “Heat Watch”, possibilitou uma série de observações quanto ao comportamento de aceitação de montas em novilhas zebuínas e mestiças zebuínas:

* o estro durou em média 10,35 ( 5,65 horas;
* o número de montas/cio foi de 22,98 ( 16,87;
* a duração média das montas foi de 2,65 ( 0,32 segundos;
* 43,62% das montas ocorreram durante o dia e 56,37% durante a noite, sendo que esta diferença não foi significativa;
* 49,35% dos estros duraram menos do que 10 horas
* com observações por um período de 1 hora pela manhã e de 1 hora à tarde teriam sido detectados apenas 81,81% dos estros.

A partir destes dados, conclui-se que a eficiência de detecção de cios continua sendo o ponto crítico para a utilização da inseminação artificial, principalmente em gado zebuíno criado em condições extensivas em regiões tropicais. Considerando-se a duração média dos cios que foi observada, de aproximandamente 10 horas, a utilização de apenas duas observações diárias de cio não parece ser suficiente. Além disso, condições adversas podem inibir a manifestação do estro pelos animais. A viabilização técnica e econômica de estratégias de sincronização do cio e da ovulação, que a cada dia se tornam mais reais, configuram-se como ferramentas de grande utilidade para a utilização da inseminação artificial com resultados satisfatórios.

Bibliografia:

HUNTER, R. H. F. e GREVE, T. Reprod. Dom. Anim., v. 32, p. 137 – 141, 1997.
PINHEIRO, O. L.; BARROS, C. M.; FIGUEIREDO, R. A.; VALLE, E. R.; ENCARNAÇÃO, R. O. e PADOVANI, C. R. Theriogenology, v. 49, p. 667 – 681, 1998.
RANDEL, R. D. Theriogenology, v. 21, p. 170 – 185, 1984.
SENGER, P. L.. J. Dairy Sci., v. 77, p. 2745 – 2753, 1994.
SREENAN, J. M. e DISKIN, M. G. In SREENAN, J. M. e DISKIN, M. G. (eds), , Martinus Nijhoff, Dordrecht, p. 1 – 11, 1986.

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