Marcelo de Queiroz Manella1 e Celso Boin2
A castração de bovinos é uma prática rotineira nas propriedades rurais que se dedicam à pecuária de corte. A castração de bovinos machos é adotada nos sistemas de produção por apresentar vantagens quanto ao manejo e quanto à qualidade da carcaça.
O termo castração pode ser definido como uma operação que consiste na ablação testicular ou supressão funcional dos orgãos reprodutores. As técnicas de castração de bovinos podem ser cirúrgicas ou não.
Exemplos de técnicas cirúrgicas são:
* Orquiepididectomia bilateral, ou seja, retirada dos testículos por meio cirúrgico, podendo ou não ter a ligadura do cordão com fio de sutura, também conhecido como método da “faca”. Apesar de bastante comum, é uma técnica cruenta, onde o animal fica susceptível a infecções e miíases (bicheiras), e o tempo de recuperação do animal é maior.
* Castração parcial, também conhecida como castração “Russa”, onde apenas o parênquima espermático é removido.
Outras técnicas foram desenvolvidas para evitar a necessidade de abordagens cirúrgicas, que além de facilitar o manejo e a recuperação do animal, são mais rápidas. Algumas das técnicas não cirúrgicas são:
* a técnica da angiotripsia, mais conhecida como do Burdizzo. É uma técnica menos cruenta, onde a circulação para o testículo é interrompida com auxílio de um “alicate”, causando a degeneração do mesmo. O inconveniente é que, quando mal feita, há necessidade de se refazer a castração.
* Castração química, que consiste na aplicação de solução de aldeído-fórmico + cloreto de cádmio, causando atrofia dos testículos. É uma técnica menos invasiva e de simples execução.
* Vacina anti-GnRH, que consiste em vacinar os animais com anti-GnRH, prejudicando o desenvolvimento normal dos testículos. Ainda são poucos os dados científicos deste processo, mas parece ser uma estratégia promissora.
Na tabela 1 são apresentados alguns dados de Luchiari et al. (1984), onde foram comparados os efeitos da castração química e cirúrgica com faca, em relação aos animais não castrados, para algumas características produtivas. Os autores relatam tendências favoráveis para animais não castrados. A castração química propiciou recuperação rápida dos animais, propiciando maior ganho de peso do que a castração cirúrgica tradicional.
Tabela 1: Desempenho comparativo de bovinos cruzados holandeses em confinamento
Na tabela 2, adaptada de Galbraith e Topps (1981), são apresentadas as principais diferenças entre animais inteiros e castrados, observadas em trabalhos disponíveis na época.
Tabela 2: Diferenças entre bovinos inteiros e castrados
A presença dos testículos mantém os níveis hormonais, que exercem efeitos anabólicos na musculatura, com maior aproveitamento do nitrogênio alimentar. Os resultados são: melhor eficiência alimentar e maior deposição de musculatura, além da redistribuição da gordura corporal. Estes efeitos são caracterizados por maior velocidade de ganho de peso vivo, melhor conversão alimentar, produzindo carcaças mais magras em relação a animais castrados. Apesar destas vantagens, quando comparados com animais castrados, o valor comercial da carcaça é inferior, devido a problemas com a qualidade da carne.
Nos artigos seguintes serão discutidas as idades para castração e as características qualitativas e quantitativas das carcaças de animais castrados e não castrados.
Bibliografia Consultada:
Luchiari Filho, A., Leme, P. R.; Gorni, M., Alleoni, G. F.; Boin, C. Efeitos de diferentes métodos de castração no desempenho e características de carcaça de bovinos em confinamento. Zootecnia, Nova Odessa. V.22, n.1, p.5. 1984.
Galbraith, H.; Topps, J.H. Effect of hormones on the growth and body composition of animals. Nutrition Abstracts. v.51, n.8, p.521. 1981.
__________________________________________________
1. Curso de Mestrado, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP
2. Celso Boin, Eng. Agr., PhD, Prof. Convidado,ESALQ/USP, Consultor
6 Comments
Excelente este artigo, imprimi uma cópia para arquivar nos meus documentos de estudo e irei repassar para os colegas da Faculdade.
Timon / Ma 02/12/2009
Att. Espedito Linhares
É de costume em minha propriedade, castração pelo modo cirúrgico, nada cruel como se pensa e se fala, pois utilizando-se de anestésicos locais, boa acepsia, e aplicação de protetores contra moscas e antibióticos recomendados pelo médico veterinário, se torna uma situação muito bem protegida para a saúde e bem estarfísico do animal se recuperando rápido e muito bem. vamos salientar que quem consome carne bovina de boa qualidade (maciez), provem esta do boi castrado.
o artigo é excelente, eu sendo formada em técnica em agropecuária pude notar que a matéria expõe as informações de sucinta e de fácil entendimento…
Estou procurando uma implementação para um software de gerenciamento bovino e com suas informações eu consegui uma boa ideia para realizar!!! Muito interessante a leitura e de boa qualidade, com mais informações do que o site da Embrapa e não sendo uma copia de la.
Obrigado.
são ótimas as respostas.
Muito boa a publicação, ainda mais completada pelos comentários acima. Contudo, na castração não cirúrgica, faltaram explicações sobre pelo menos dois outros tipos, se bem que quase não mais usados – “de volta” e “a macete”; gostaria de mais detalhes, pois foi objeto de discussão entre produtores. Grato.