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Chegou a hora da multidisciplinaridade no agronegócio

Por José Francisco Feital Silva1

Tenho acompanhado com interesse os temas relacionados com a sucessão em empresas agrícolas no Brasil (correspondem a mais de 80% com comando familiar), constato que é tema recorrente em artigos publicados no site do BeefPoint.

Entretanto, considero este assunto apenas a ponta de um grande “iceberg” que envolve outros temas que se interrelacionam, como por exemplo ´grupalidade´ (condomínios, associações, cooperativas, parcerias, alianças estratégicas e outras formas de associativismo), o ´manejo dos conflitos´, as ideologias que permeiam as atividades, o afastamento do objetivo que funda (estrutura) o negócio, e outros pontos observados com o distanciamento crítico de um analista institucional.

Quantos exemplos foram publicados em artigos anteriores, falando que na falta do fundador, ou o distanciamento dos pressupostos fundadores, aparece “o não-dito” e passa a imperar os conflitos “dando a sensação de uma nau sem rumo”, levando empreendimentos geralmente lucrativo, a condição de colapso ou direto a insolvência.

Se explicando os fatos de forma mais direta, não existe no cenário do agronegócio brasileiro, profissional voltado para “escuta” e “intervencões” (entenda-se tal palavra, como estratégias próprias, para cada caso), que tenha formação e ferramental específico para lidar com esses fatos.

O zootecnista, o veterinário nem tampouco o agrônomo, recebem formação para agir nesses casos, pois estão voltados para desenvolvimentos técnicos e informações, que cada vez mais tomam sua atenção e as ´novas técnicas´ isoladas, jamais darão conta de tais problemas…

As resistências (abertas ou ocultas) às mudanças, a dificuldade de implantação de novas tecnologias, bem como outros entraves, funcionam como verdadeiras barreiras ao desenvolvimento dos negócios. Não adianta seguir o “bom senso”, a “racionalidade técnica”, pois nessa área impera “os instintos” por vezes conscientes ou totalmente inconscientes.

Em passado não muito remoto tivemos um presidente que bradava na mídia, que a inflação iria cair (como se fosse possível cair por decreto), gesticulava fortemente e falava para milhões de brasileiros tentando dar conta de situações econômicas, mas não entendia que também afetava o núcleo familiar do povo brasileiro, pensava ele, que tal situação fosse exequível. Vimos no que deu… Estamos vendo agora na mídia, a série JK da Rede Globo, onde a grande frustação do Dr. Juscelino e sua dívida para com o Brasil foi: “Cinco anos de agricultura para 50 anos de fartura”, também não foi possível.

A atividade do agronegócio, hoje exige um “olhar que estranhe” estratégias já gastas pelo tempo e que não contribuem em nada para o Brasil, não dão mais conta do recado.

O administrador de hoje está conectado a internet, sabe lidar com as informações, começa a entender a necessidade do planejamento estratégico, das alianças estratégicas, participa da BM&F, procura se encaixar na cadeia produtiva, enfim, deixou de lado o ´esteriótipo´ do “Jeca Tatu” que muito atrasou nosso setor primário.

A velocidade, a resposta ao mercado, o planejamento, a grupalidade, a convergência de interesses, são atitudes definidoras do sucesso ou insucesso de qualquer empreendimento do agrobusiness em nossos dias. Podemos ver a procura cada vez maior de profissionais da área, proprietários e administradores buscando qualificações “skills”, para melhor conduzirem seus negócios

Já começa a ser desvelado a real intenção da classe política “pseudos representantes do agronegócio em épocas eleitoreiras”. Discursos repetitivos sem novidade preenchem a mídia de forma ineficaz.

Vamos ao que interessa: o administrador, o proprietário, as pessoas que lideram as empresas do setor primário, demonstram ´desejos´ de trabalho sério e profissional, então essa é a hora de mudar o viés do olhar o negócio, precisamos colocar mais instrumentos à disposição desse enorme contingente de trabalhadores e profissionais. Uma das ferramentas disponíveis é a análise institucional. Existem outras, porém vou falar especificamente desta.

Para que serve? Como funciona? Que resultados podemos esperar? Essas e mais outras indagações seriam normais, para se entender a visão institucional. Serve como possibilidade de melhor avaliar e corrigir os negócios do ponto de vista da viabilidade financeira, fazendo alinhamentos e ajustes para tal resultado.

Cria a ´escuta´ diferenciada as queixas e entraves do dia a dia, promovendo a liberação das “barreiras” ao bom desempenho. Promove a integração do grupo respeitando as individualidades e diferenças para se alcançar os objetivos propostos. Cria-se o “clima necessário”, para que o grupo funcione positivamente, desde o grupo familiar a grande cooperativa ou corporação. Torna claro, “o que não está sendo dito”, mostra de fato como as relações se operam, na maioria das vezes bem diverso daquele organograma pendurado (empoeirado) na parede da gerência.

Trabalha em conjunto com os proprietários , gerentes, técnicos (zootecnistas, agrônomos, veterinários), e funcionários de todos os níveis hierárquicos visando uniformizar a linguagem sem ´despersonalizar´ seus atores.

Não estamos falando em “colocar o empreendimento no divã” da psicanálise, mas sim, ´dar voz´ a todos que participam do negócio. O que se questiona é o processo de tomada de decisões, no qual se decide para alguém que, sendo agente passivo e excluído do circuito decisório, se expressará como tal: sabotando – muitas vezes sem saber ou sem querer – o que lhe foi imposto. Com roupagens encobridoras que confundem o ´acidental´ com o essencial, causas com efeitos e meios com fins, o social se traveste e fica reduzido a “falhas” nos organogramas, nas normas, nos treinamentos ou na seleção do pessoal.

Finalizando, as poucas experiências bem sucedidas no mercado são frutos isolados de empresários com clara visão de futuro, que tem redefinido a interação entre capital e tecnologia com base numa nova dinâmica das ´relações´.

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1José Francisco Feital Silva, Economista, CORECON/RJ, Psicólogo, Psicanalista, Pós Graduado em Psicanálise, Mestre em Psicologia Social pela UERJ, MBA pela FGV/RJ em E-Business. Criador de Ovinos em Petrópolis, RJ.

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