Um cientista da área de saúde do Canadá, que havia se expressado contra a tão controversa barreira canadense em relação à carne bovina brasileira, está sendo chamado para explicar sua opinião.
Margaret Haydon e outros cientistas, que pediram para não divulgarem seus nomes, disseram ao jornal canadense The Globe and Mail na semana passada, que a barreira imposta pelo Canadá, que acusa o Brasil de ter um “risco teórico” de aparecimento da doença da vaca louca, é mais “uma medida política do que de saúde”, baseada não em ciência mas, sim, na disputa comercial entre os dois países no setor de aviação.
Ontem, Haydon ia ser questionada para explicar suas afirmações, que criou um furor político entre Ottawa e o Brasil. A reunião está sendo apoiada pela atitude do Canadá de tomar medidas conciliatórias com o Brasil, mandando uma equipe para reavaliar a barreira, até o final dessa semana.
Outros cientistas da área de saúde do Canada disseram na segunda-feira que Haydon somente estava tornando pública a opinião da maioria deles. Um deles disse que, caso o órgão continue insistindo no caso de Haydon agressivamente, outros cientistas do departamento irão assinar um depoimento apoiando as declarações de Haydon, feitas para o jornal canadense.
“Ela está apenas dizendo o que o público precisa ouvir”, disse um de seus colegas em uma entrevista. “Se os governantes tivessem perguntado a nós, os cientistas, nós teríamos dito para que não fosse feita a barreira”.
Há alguns anos, Haydon e outra cientista, Shiv Chopra, receberam uma ordem de proibição de publicação, depois de manifestarem-se a respeito da pressão do departamento para que fosse aprovado o uso do hormônio bovino de crescimento, que elas consideravam seguro. Em uma Corte Federal ocorrida no ano passado, as duas cientistas confirmaram seu direito de falar em público. “Da última vez, nós fomos até a Corte Federal”, disse Haydon. “Nós veremos até onde vai dessa vez. Esse é um assunto de grande importância para a segurança e para a saúde. É nossa obrigação falar sobre isso”.
O presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, disse que o assunto seria tratado como “guerra”, caso o Canadá não pusesse fim nessa barreira em três semanas.
Em uma conferência feita na sexta-feira passada, Brian Evans, diretor executivo do departamento de produtos animais da Canadian Food Inspection Agency, disse que “não há evidências” de que existe a encefalopatia espongiforme bovina (EEB), ou doença da vaca louca, no Brasil.
A ação foi tomada devido a informações de que o Brasil poderia ter importado animais da Europa em 1999, no meio da crise da vaca louca. Nunca foi documentado nenhum caso da doença da vaca louca no Brasil. No Canadá, já houve um caso, em 1993.
Na realidade, alguns especialistas afirmam que a carne bovina brasileira é uma das mais seguras do mundo, porque o rebanho brasileiro é alimentado com pasto, desde a década de 1980. O animal pode se infectar com a EEB alimentando-se de ração contendo produtos bovinos (farinha de carne o osso), ou pelo contato com um animal infectado.
Enquanto o ministro da Agricultura do Canadá, Lyle Vanclief, insiste que o país nunca importou farinha de carne e osso da União Européia para alimentar o rebanho, o jornal de Londres, Sunday Times, informou na semana passada que a companhia Prosper de Mulder, a maior da Inglaterra, exportou material potencialmente contaminado com EEB para pelo menos 70 países, incluindo o Canadá.
O ministro do Comércio do Canadá, Pierre Pettigrew, insistiu que a barreira à carne brasileira não tinha nada a ver com ele, embora Evans tenha dito que consultou o Departamento de Assuntos Exteriores e Comércio Internacional antes de tomar sua decisão.
Fonte: The Globe and Mail, por Equipe BeefPoint