A experiência do confinamento no ano passado não foi das melhores. Os preços médios do boi gordo acabaram subindo pouco (os valores médios do segundo semestre foram apenas 0,37% superiores aos valores médios do primeiro semestre), choveu durante o período de confinamento, o mercado de reposição concentrou os reajustes no segundo semestre, enfim, ocorreram diversos contratempos.
Isso sem mencionar aqueles que fecharam animais a custos elevados, apostando na valorização da arroba do boi gordo, que não aconteceu. Ainda sim, dependendo da estratégia adotada, o confinamento possibilitou lucratividade.
O que muda para este ano
Em termos de volumosos, pode-se esperar aumentos da ordem de 8 a 11% nos custos de produção desses alimentos. Parte destes aumentos podem ser atribuídos principalmente à quebra de produção. No caso da cana, o aumento médio do custo de produção foi de 20,5%.
Ainda considerando os volumosos, pecuaristas que utilizam bagaço hidrolisado de cana nas dietas, terão como concorrente na demanda pela matéria-prima, as indústrias na procura de bagaço cru para queima e geração de energia. Quem não tem contrato terá dificuldades para conseguir comprar bagaço hidrolisado este ano.
No caso dos concentrados, excetuando-se o farelo de soja que está cerca de 40% mais caro em relação ao mesmo período do ano passado, os principais concentrados são comprados atualmente com preços médios 11% menores em relação a 2000.
A polpa cítrica, com valores em torno de R$120,00/tonelada, custa 1,64% menos em relação a julho de 2000. E, considerando o mesmo período, o milho vale hoje cerca de 20% a menos, apesar da tendência de aumento nos preços.
A polpa cítrica, que em junho tinha que chegar às fazendas a preços inferiores a R$130,00/tonelada para competir com o milho nas formulações de rações, vem ganhando maior espaço nas dietas calculadas visando custo mínimo.
Custo das dietas
Para efeito comparativo, formulamos quatro dietas alternando os volumosos (silagens de milho, sorgo e de capim) com aditivos e cana de açúcar (picada).
Considerou-se o confinamento de um animal sendo levado de 12@ até 16,5@ no confinamento. Observe nas tabelas subseqüentes as dietas médias sugeridas.
Vale lembrar que estas dietas são ilustrativas e não é recomendável aplicá-las sem o acompanhamento de um técnico nutricionista. Há de se considerar ainda a condição corporal dos animais a serem confinados, o manejo a que foram submetidos, a estratégia de sanidade, etc
Estima-se que o confinador desembolse este ano cerca de 5% a menos com a alimentação dos bois em confinamento. A alimentação mais em conta não implica dizer que os custos de confinamento deste ano estejam mais baixos.
O custo total
Neste ano, o gargalo dos confinadores está sendo o preço do boi magro, ou animal de reposição. Em São Paulo, os preços médios do boi magro giraram em torno de R$520,00 desde maio até o presente momento.
Observe na tabela 5 e figura 1 os custos do confinamento e a participação dos itens de custos de produção.
Observe que a preços de mercado atual a lucratividade do confinador seria muito baixa.
Expectativa de preços
Mesmo que o ano corrente se pareça cada vez mais com o de 1999, quando o valor da arroba do boi gordo no segundo semestre valorizou-se cerca de 11,5% em relação à média do primeiro semestre, balizar-se naquele ano pode consistir em excesso de otimismo.
Caso o comportamento se desse da mesma forma que ocorreu em 1999, poder-se-ia esperar valores médios em torno de R$46,00/@ no segundo semestre com picos de até R$53,00/@.
Observe que estes números estão fora da realidade atual de mercado tendo em vista o preço da carne e de couro. Quem compraria a carne de um boi de R$53,00/@?
Como, historicamente, o preço do boi gordo gira em torno de US$21,00/@, outra estimativa grosseira que poderia ser feita é de preços do boi gordo atingindo R$48,00 a R$50,40/@, valores também muito fora da realidade atual.
Em termos de sazonalidade de preços da arroba ao longo do ano, os valores entre o segundo e o primeiro semestre têm se reduzido ao longo do tempo.
Observe na tabela 6 as valorizações médias do segundo semestre em relação ao primeiro semestre nas cotações da arroba do boi gordo nos últimos 20, 10 e 5 anos.
Portanto, caso o boi gordo se comporte como a média dos últimos 5 anos, o produtor poderia esperar por preços médios de R$43,60/@ no segundo semestre a média de R$47,70/@ no mês de pico, um valor otimista dentro da realidade de mercado.
Hoje, as apostas na BM&F giram em torno de valores médios de R$45,32 no segundo semestre e picos de R$46,74/@ do boi gordo. Considere a tendência de que os valores das apostas se aproximem do mercado físico ao invés do contrário.
Considerações finais
Em termos históricos, o mercado de boi tenderia a uma melhora de preços. Mesmo analisando o mercado de acordo com o comportamento do ano passado (péssimo em termos de valorização), poderíamos esperar este ano picos de preços isolados entre R$46,00 a R$47,00/@. No entanto, a realidade que se observa é um ambiente cujo comportamento é de difícil previsibilidade.
Há sinais pró aumento de preços, como comportamento histórico, expectativa de bom desempenho da exportação, política cambial etc, e há também os sinais contra, onde o item de maior peso é a dificuldade do mercado consumidor absorver o aumento de preços da carne em uma sociedade cuja renda é mal distribuída. Os preços da carne de frango, cujas cotações permitem alta competitividade com a carne bovina, e ainda, o ovo e o feijão como alternativas à nutrição protéica.
No entanto, a terminação de boi em confinamento, como estratégia dentro do contexto da propriedade, é uma boa alternativa e tende a gerar bons resultados, desde que planejado com critérios.