Como na semana anterior, até a metade dessa semana a maioria das notícias continuaram, de uma forma ou de outra, vinculadas à ocorrência na Argentina de bovinos provenientes do Paraguai soropositivos para aftosa. Parte dessas notícias tem abordado as providências tomadas ou sendo tomadas para evitar o risco de surgimento de focos no Brasil através da entrada de animais vivos e de carcaças contaminadas pela aftosa. Outra parte das notícias tem se referido aos possíveis efeitos da interrupção das exportações argentinas, para países livres de aftosa sem vacinação, sobre os preços no mercado brasileiro e sobre as exportações brasileiras.
Na última quarta-feira, a notícia de que focos de febre aftosa surgiram no Rio Grande do Sul, um dos estados brasileiros que tinha feito a última vacinação e estava aguardando passar o período necessário para receber o certificado de livre de atosa sem vacinação, foi um dos piores golpes que a pecuária de corte brasileira recebeu nos últimos anos.
Um rastreamento rigoroso sobre a origem desses focos deve ser feito. O surgimento deles parece ter ocorrido durante o período no qual os animais deveriam estar protegidos pelos efeitos de imunização da última vacinação. Se isso for verdadeiro, e os animais afetados não forem provenientes de regiões sob suspeita de ocorrência de aftosa recentemente, mais especificamente do Paraguai e das províncias Argentinas onde ocorreram os focos, tanto a eficiência das vacinas como dos sistemas de vacinação, de gerenciamento e de controle das campanhas de vacinação, assim como a responsabilidade dos próprios pecuaristas cujos animais foram acometidos, precisam ser questionadas para que as causas que levaram ao surgimento desses focos de aftosa sejam conhecidas em detalhes. Isso é básico, tanto para punir os responsáveis, caso existam, como para planejar e gerenciar a executação de um programa que evite o surgimento de novos casos.
Como mencionado em nosso comentário da semana passada, esse planejamento e gerenciamento tem que ser feito de uma maneira integrada entre todos os países da América do Sul. Melhor ainda, se envolvesse todos os países abaixo do México. É importante mencionar o que foi dito por uma autoridade do Sul do país antes da ocorrência dos focos no Rio Grande do Sul, que tem mais ou menos o seguinte sentido: “se policiamento de fronteiras fosse a solução para evitar o problema de entrada de animais e carcaças, o contrabando e o fluxo de drogas entre países seriam fácilmente resolvidos”. Sabemos que, por inúmeros motivos, a coisa não é tão fácil assim. Também não será fácil essa integração entre os diferentes países para o controle e possível erradicação da febre aftosa de todo o continente. Entretanto, achamos que se isso não ocorrer, as chances para se chegar primeiro ao controle da aftosa e posteriormente à sua erradicação, não serão muito grandes. Achamos também que é difícil a manutenção, dentro do continente sul americano, de manutenção de zonas livres sem vacinação e zonas livres com vacinação, sejam essas zonas constituídas de regiões dentro de países, de países isolados ou de grupo de países sem atingir o continente como um todo.
A tarefa e as responsabilidades são muito grandes, mas precisamos acreditar que temos, nos diferentes países, tanto lideranças políticas como competência técnica e gerencial para enfrentar e vencer a aftosa e outras doenças importantes que afetam o rebanho bovino do continente sul americano.