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Considerações adicionais sobre a cadeia da carne bovina

Dando sequência às nossas argumentações sobre a falta de uma integração saudável e eficiente entre os elos da cadeia da carne bovina, vamos comentar hoje sobre a relação produtor frigorífico quanto ao sistema de apuração do pagamento do boi ao frigorífico.

Dando sequência às nossas argumentações sobre a falta de uma integração saudável e eficiente entre os elos da cadeia da carne bovina, vamos comentar hoje sobre a relação produtor frigorífico quanto ao sistema de apuração do pagamento do boi ao frigorífico.

Para fundamentar a argumentação, vão ser utilizados os resultados de duas pesquisas sobre o assunto feitas com os usuários do BeefPoint. Em uma pesquisa foi perguntado, “na sua opinião, o pagamento com base no peso de carcaça no gancho do frigorífico pode estar sujeito a: a) excesso de toalete (limpeza); b) peso subestimado; c) excesso de toalete e peso subestimado; e d) nenhum tipo de fraude. Na outra pesquisa perguntou-se “qual seria a alternativa mais justa para pagamento do boi gordo: a) kg de peso vivo na propriedade; b) peso em arrobas no gancho do frigorífico; e c) peso vivo vezes um rendimento de carcaça.

As respostas à primeira pergunta ( a= 9,4; b= 3,1; c= 84,4 e d= 3,1%) mostram claramente que a desconfiança dos usuários do BeefPoint é quase total em relação à credibilidade dos abatedouros como parceiro confiável. Infelizmente, esse tipo de sentimento é confirmado na prática entre os produtores. É comum a afirmação, às vezes facilmente comprovada pelo abate de sub lotes de um mesmo lote em frigoríficos diferentes, de que o rendimento de carcaça (peso de carcaça dividido pelo peso do boi na fazenda) varia muito entre frigoríficos, e que em condições de alta do boi gordo o rendimento normalmente diminui. Outro fator identificado por alguns produtores, que afeta o peso de carcaça no gancho para baixo, é a prática de desossa e empacotamento dos cortes comerciais nos frigoríficos. Parte das aparas que sairia durante a desossa da carcaça e preparo dos cortes para empacotamento, é retirada durante o processo de abate (toalete). O advento de sistemas de balanças eletrônicas computadorizas parece não ter contribuído para o aumento da credibilidade, pois é sabido que permitem manipulações de pesagens com muito maior sofisticação do que as possíveis com as balanças mecânicas.

Quanto à segunda pergunta, a preferência maior dos usuários do BeefPoint foi do pagamento ser efetuado com base no peso vivo na propriedade (a= 45,5%), seguida pelo peso de carcaça no gancho (30,3%) e por último pelo peso vivo vezes rendimento de carcaça (24,2%). Os frigoríficos têm restrições quando o peso na propriedade entra na determinação do preço a ser pago, com exceção dos da região sul, especialmente os do estado do Rio Grande do Sul. Em parte, essa restrição poderia ser justificada, pois haveria necessidade de acompanhamento das condicões de pesagem (manejo pré pesagem, aferição de balanças e pesagem propriamente dita) ou confiança total no produtor. A primeira altermativa parece ser a mais comum e desejável, o que restrige ou encarece no caso de compra de pequenos lotes. Entretanto, a prática da pesagem na propriedade diminui a flexibilidade dos frigoríficos poderem manipular peso de carcaça para compensar preços do boi gordo em alta, o que provavelmente contribui para a resistência de uma adesão à pesagem na fazenda.

Qualquer um dos sistemas de pagamento seria bom se regras bem definidas de pesagens e de evisceração e toalete fossem estabelecidas e praticadas com transparência total, incluindo auditorias independentes para verificação do cumprimento das normas e estabelecimento de penalidades nos casos de transgressão por ambas as partes, produtores e frigoríficos.

Os integrantes da cadeia, no presente caso principalmente os produtores e os frigoríficos diretamente ou através de suas entidades representativas tem que ter o desprendimento e a coragem para discutir e resolver esse problema que na maior parte do Brasil é tão antigo quanto a própria pecuária de corte pós advento dos grandes frigoríficos. Para bem da verdade, o problema no início era bem menor do que é hoje. Os grandes grupos frigoríficos que hoje estão começando a centralizar a maior parte dos abates poderiam dar o exemplo de boa vontade para ajudar a resolver o problema, pois isso ajudaria a diminuir os receios dos produtores sobre as consequências dessa concentração dos abates nas mãos de grandes grupos. Não devem esquecer que a cadeia da carne só será forte e eficiente se os elos também forem fortes e eficientes. Deve haver parceria e ela só será viável se todos os envolvidos ganharem.

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