O Brasil assume neste ano a liderança mundial na produção de couros, mas os curtumes não têm o que comemorar. Assim como os demais setores da economia que sobrevivem das exportações, os produtores de couros enfrentam dificuldades financeiras. A meta de crescimento das vendas externas caiu de 15% para 5%. Os investimentos estão parados.
Em 2005, a produção de couros do Brasil deve atingir 40,5 milhões de peças, acima da China, antes a principal produtora, onde a produção ficará próxima dos 40 milhões.
De janeiro a maio, as exportações de couro somaram US$ 554 milhões, valor 8% superior ao mesmo período do ano passado. Mas, desde janeiro, o índice de crescimento está caindo. No início do ano as exportações somavam US$ 97,4 milhões, 16% acima de dezembro. Em maio atingiram US$ 120,6 milhões, apenas 5% mais do que no mês anterior. Até setembro, com a queda da demanda na Europa, isso deve continuar.
“Nosso crescimento está comprometido”, disse o presidente do Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB), Amadeu Pedrosa Fernandes. Segundo ele, o câmbio atual, a demanda fraca e a falta do repasse de crédito da contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) têm prejudicado a rentabilidade do setor. Existem aproximadamente 800 curtumes em todo o país e apenas uma das empresas têm crédito superior a R$ 80 milhões. “O governo demora até três anos para repassar esse dinheiro”, afirmou.
A maior parte do couro exportado pelo Brasil é de wet blue e salgado, que não tem valor agregado. Esses segmentos respondem por 57% dos embarques (cerca de 6,2 milhões de peças) e 37% da receita. Por outro lado, os produtos mais elaborados, que representam 63% dos ganhos, detêm 43% da participação do total enviado ao exterior.
“A tendência é, cada vez mais, exportarmos produtos de valor agregado”, afirmou Fernandes. Mas para isso o setor quer que o governo continue taxando a exportação da matéria-prima. Hoje, o imposto é de 7%, no entanto, a partir do ano que vem cai até chegar a 0% em 2007. “Nosso concorrentes protegem a matéria-prima e exportam produtos de valor agregado”, comparou.
Redução
Para o diretor da Indústria de Peles Minuano Ltda, de Lindolfo Collor (RS) Paulo Enzweiler, além das férias européias, que diminuem a demanda, o câmbio e o não repasse do crédito de PIS/Cofins dificultam a competitividade do setor.
Além disso, o couro nacional tem valor muito menor do que o dos Estados Unidos, por exemplo, devido à qualidade. Para diminuir essa diferença, o CICB e o Sebrae estão investindo R$ 6 milhões em ações educativas para que produtores, frigoríficos e esfoladores tenham mais cuidado no trato dos animais e da pele, objetivando menos marcas. Estima-se que o Brasil perda R$ 1 bilhão ao ano devido aos problemas no couro.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Neila Baldi), adaptado por Equipe BeefPoint