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COURO – Esse negócio vale ouro para a pecuária nacional

Vinicius Batemarque1

Você sabe quanto vale um couro cru? Se sua resposta for não, não precisa se preocupar, pois essa é uma realidade na pecuária nacional: a desinformação a respeito do couro produzido no Brasil.

O setor coureiro obteve saldo positivo de US$ 1,9 bilhão em 1996, US$1,9 bilhão em 1997, US$ 1,7 bilhão em 1998 e US$ 1,9 em 1999, conseguindo ainda entre 1992 e 1999 um superávit de US$ 14,69 bilhões. Já o saldo positivo de exportação/importação no setor de carnes e laticínios foi de US$ 736 milhões em 1996, US$ 875 milhões em 1997 e US$ 858 milhões em 1998. O mercado cresceu, mas não se desenvolveu. E, principalmente no setor couro, todos estão deixando de ganhar.

Durante a última década, o setor de curtumes remunerou o couro cru brasileiro pela metade do valor recebido pelo produto americano. Isto aconteceu porque somente 5% dos couros americanos apresentaram os defeitos abaixo descritos, que são encontrados em 93% dos couros brasileiros:

Quadro

O mercado remunerou a sub-qualidade oferecida com sub-preço. Quem perdeu foi o produtor.

Apesar da maioria achar que não, o produtor realmente recebe pelo couro de seus bois. Na realidade, os frigoríficos utilizam, para definir o preço final a ser pago ao pecuarista pela arroba do boi, uma somatória de cada item que compõe o aproveitamento bovino – e entre estes itens, um é o couro (ver tabela 1).

Tabela 1: Representatividade de cada item no valor final da arroba

Tabela 1

Nos EUA, remunera-se o couro ao produtor como no Brasil, ou seja, o valor do couro está implícito no preço total pago pela arroba do boi.

Nos últimos 10 anos, o frigorífico americano recebeu, em média, US$ 48,10/couro enquanto que o brasileiro recebeu apenas US$ 27,01/couro. O diferencial por perda de qualidade, somente no couro, em relação ao americano, foi de US$ 21,09.

Segundo a Braspelco (maior curtume da América Latina), a melhoria do couro tende a beneficiar não somente as empresas de curtumes, mas toda a cadeia produtiva, já que o couro tem influência direta sobre o preço da arroba, ou seja, melhorando a qualidade do couro haveria incremento no preço final da arroba, aumentando o faturamento do produtor, indústria processadora e curtumes. Para isso, no intuito de esclarecer melhor os produtores como melhorar o couro de seus animais, a Braspelco resolveu fazer uma lista com os principais pontos que devem ser levados em conta no manejo do gado. Essa lista recebeu o nome de “Os 10 mandamentos da melhoria na qualidade do couro” e segue abaixo:

Os 10 mandamentos da melhoria da qualidade do couro

1º) Nunca usar arame farpado;
2º) Não usar ferrão pontiagudo e nem cães para o manejo do gado;
3º) Combate periódico aos ectoparasitas (carrapato, berne, mosca-do-chifre, etc);
4º) Manter as pastagens limpas;
5º) Olhar sempre os currais, procurando pontas que possam furar o gado;
6º) Marcar nos locais corretos (cara, pescoço e canelas) com no máximo 11 cm de diâmetro (Figura 1);
7º) Descornar o gado;
8º) Ofertar suplementos minerais;
9º) Escolher veículos adequados para transportar os animais, evitando pregos e pontas de madeira;
10º) “Gado bem tratado é gado de melhor resultado”.

Figura 1: Marcação correta

Figura 1

Fonte: Revista do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB)

Para que todos possam ganhar, existe a necessidade urgente de trabalharmos em parceria. É preciso reestruturar os pontos onde ocorrem perdas, promovendo, assim, um crescimento organizado e saudável no mercado.

Por fim resta um dilema: é verdade que o produtor sempre produziu um couro de qualidade ruim, mas também é verdade que o frigorífico nunca pagou a mais para quem produzisse um com melhor qualidade. Acaba que dessa maneira o produtor não vai tentar melhorar o couro de seus animais, esperando um melhor pagamento dos frigoríficos, e o frigorífico não paga mais enquanto os produtores não melhorarem a qualidade de seu couro. Fica a pergunta: quem deve tomar a iniciativa? Produtor ou frigorífico?

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Para saber mais a esse respeito:
Curtume Braspelco : www.braspelco.com.br ou Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, e-mail:cicb@zaz.com.br

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1 Zootecnista formado pela FZEA, USP, Pirassununga

0 Comments

  1. Marcelo Queiroz disse:

    É bravo: quanto mais procura mais acha, isto não mudou, mas a atividade pecuária está remunerando pouco e exigindo muito para poder continuar remunerando mesmo que pouco, mas é segura.

    O pecuarista de hoje é o mesmo de ontem com menos dinheiro e mais o que melhorar, mas a classe pode contar com empresas como a BEEFPOINT. Neste caso do couro poucos sabemos que o mesmo vale 50% do do boi. Quando isto é dito pelo frigorífico o pecuarista retruca: então nos pague o couro. Importante é que isto chegue ao ouvido do produtor por fontes como sindicatos rurais e/ou boca aboca.

    Parabéns pelo alerta!

  2. Artur Freitas Bahia disse:

    Muito boa a reportagem, o fazendeiro tem que ter um melhor cuidado com o couro,isso é indiscutível.Mas a industria tem pagar melhor pelo produto de melhor qualidade.