Breno Carvalho Pereira
Dupla musculatura, em bovinos, é o nome dado à característica dos animais que possuem musculatura muito desenvolvida, principalmente no quarto traseiro. A paleta é também bastante musculosa e a ossatura, modo geral, é mais fina. É fato consumado que os animais que apresentam dupla musculatura têm rendimento de carcaça superior aos comuns, sem prejuízo das qualidades da carne.
Poucas raças apresentam esta mutação genética. Na raça piemontesa, esta característica surgiu no final do século XIX e, em decorrência de seleção, quase todo o atual rebanho piemontês possui o gene da dupla musculatura.
Em 1999, cientistas do Clay Center (Nebraska) descobriram o posicionamento do gene, e a maneira como ele é herdado. O gene da miostatina, como é chamado, está localizado no cromossomo 2 dos bovinos e, no caso da raça piemontesa, o mesmo se manifesta por “efeito aditivo”, também chamado de codominância.
O teste efetuado pelo Clay Center pode ser observado na figura abaixo. Os animais da raça piemontesa apresentam dois alelos A, animais comuns apresentam dois alelos G e animais cruzados com piemontês apresentam um alelo A e um alelo G.
O resultado prático desta descoberta, que pode ser considerada um marco na história do melhoramento genético de bovinos, é que o touro piemontês, quando utilizado em cruzamentos, transmite a todos os seus filhos, metade da herança da dupla musculatura. Em pesquisas do mesmo Clay Center, foi constatado que animais 1/2 Piemontes 1/2 Angus apresentaram um aumento de 7% no rendimento de carcaça, comparado ao angus puro.
O Piemontês, por ter dois alelos da miostatina, apresentou rendimento de carcaça 14% maior que o rendimento do angus puro.
No Brasil, diversos experimentos da Embrapa mostraram que o rendimento de carcaça do 1/2 Piemontes 1/2 Nelore chega a atingir 60%. Sabemos também que o nelore comum tem cerca de 52% de rendimento de carcaça enquanto que o piemontês puro apresenta 68% de rendimento.
Na prática, os resultados brasileiros confirmam as descobertas americanas.
O avanço destas pesquisas levará provavelmente à manipulação do gene da miostatina e sua inclusão em outras raças e até mesmo em outras espécies.
Aqui no Brasil a tecnologia já está disponível, basta o pecuarista interessado adquirir Touros Puros da Raça Piemontesa ou sêmen dos touros piemonteses, brasileiros ou italianos, disponíveis no mercado.
A propósito, a Leachman Cattle Company lançou no mercado americano o programa “Better Beef” ou “A Melhor Carne”, que pretende oferecer carne mais macia que a de angus, com menos gordura que a de frango e com origem conhecida. A carne com estas características precisa de pelo menos 50% de sangue piemontês, segundo regra do programa.
Estas informações evidenciam que a raça piemontesa, embora pouco conhecida no Brasil, está presente não só em importantes pesquisas de melhoramento genético como também em programas avançados de produção de carne.
Bons rendimentos a todos.
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Breno Carvalho Pereira é Eng. agrônomo, consultor da Correnteza Consultoria Rural Scl e presidente do Conselho Deliberativo Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Piemontês.
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