Alguns criadores gaúchos começam a articular medidas judiciais para garantir a vacinação do rebanho e obter indenizações compatíveis com o valor dos animais, caso surjam focos da doença e o rifle sanitário tenha que ser acionado. Ontem, durante reunião, parlamentares, dirigentes e criadores do Rio Grande do Sul divergiram sobre os rumos para a proteção do rebanho, diante dos focos na Argentina. A decisão da Federação da Agricultura (Farsul) de não retomar a vacina está causando muita polêmica no setor.
O juiz da 10a. Federal de Porto Alegre, Roger Raupp Rios, determinou 10 dias de prazo para que o Estado e a União se manifestem a respeito da ação cautelar movida pelo produtor de Teutônia (RS), Carlos Edwino Wolf, que pretende imunizar seu rebanho. O produtor ajuizou pedido de liminar para que seja autorizado a vacinar o rebanho de forma emergencial, temendo que a febre aftosa se alastre da Argentina para o Rio Grande do Sul.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Aberdeen Angus e dono da Cabanha Catanduva, Fábio Gomes, promove uma avaliação judicial de seu rebanho para se prevenir de futuros abates. O criador disse que a opção pela não-vacinação coloca em risco o banco genético gaúcho, construído em mais de 100 anos. Gomes cria animais no Rio Grande do Sul e no Uruguai e comercializa alta linhagem a preços médios superiores a R$ 5 mil. Ele avalia em R$ 1 milhão o valor total do rebanho angus gaúcho. Gomes entende que a vacinação não implicaria perda de mercado para o Rio Grande do Sul, porque Paraná e São Paulo estão em processo de vacinação e com as vendas para o exterior em alta.
Os prefeitos de Uruguaiana e Barra do Quaraí colocaram suas assessorias jurídicas à disposição dos produtores, mas, por enquanto, os sindicatos rurais das duas cidades acompanham a proposição da Farsul, que decidiu em assembléia não vacinar o rebanho.
O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos de Oliveira, afirmou que não existe no Brasil uma vacina capaz de assegurar totalmente a imunidade do rebanho contra o vírus da febre aftosa que atinge a Argentina. A revelação serviu como argumento para sustentar a posição do Ministério da Agricultura, contrária à vacinação preventiva do rebanho.
Ele informou que o vírus no país vizinho, o A24, ainda não foi seqüenciado e o cronograma para que isto seja feito será estabelecido pelo Centro Pan-Americano de Febre Aftosa.
(Por Jorge Correa, para Zero Hora/RS, e Luiz Guimarães, com a colaboração de Ayr Aliski, para Gazeta Mercantil, 06/04/01 )