O preço da arroba do boi gordo em Mato Grosso do Sul saltou de R$ 35 na primeira quinzena de fevereiro, quando foi liberada venda de gado a outros estados, para R$ 37 na semana passada, segundo reportagem de Hudson Corrêa, publicada hoje na Gazeta Mercantil.
O aumento, de 5,7%, reduziu a diferença entre o preço verificado no mercado paulista e o praticado no estado, que possui 25 milhões de bovinos. Sem as barreiras sanitárias que impediam a saída de gado em pé, devido aos riscos de contaminação por febre aftosa, os frigoríficos paulistas passaram a comprar dos produtores sul-mato-grossenses.
No ano passado, quando não tinham o certificado de área livre da aftosa (com vacinação), conquistado em janeiro, os produtores de Mato Grosso do Sul tiveram perdas de R$ 120 milhões, devido à redução do preço da arroba no mercado local, uma queda forçada pelo frigoríficos que eram os únicos compradores. O prejuízo foi calculado pela Federação da Agricultura (Famasul).
Abates
De com o assessor econômico da Famasul, Cláudio Mendonça, a possibilidade de venda para São Paulo elevou o preço da arroba e deve causar uma redução no número de abates pelas indústrias instaladas em Mato Grosso do Sul. Em fevereiro, foram abatidos 260,4 mil animais, 30 mil a menos em relação a janeiro. A redução, no entanto, foi atribuída à restrição nas exportações, devido aos boatos que o Brasil teria casos da vaca louca. Os produtores, com propriedades localizadas próximo à divisa com São Paulo, são os mais procurados pelos frigoríficos paulistas.
Apesar do aumento no preço da arroba, os pecuaristas ainda esperam uma melhora na cotação. “A carne sofre muita propaganda negativa nesse momento. Quando acabou a história da vaca louca, começou o surto de aftosa na Europa”, comenta o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Laucídio Coelho Neto. De acordo com ele, os europeus que são bastante exigentes em relação aos produtos que adquirem estão reduzindo o consumo da carne. As exportações caíram o que se reflete nos preços. “A arroba já deveria estar em R$ 42”, acrescenta Laucídio Coelho. Segundo ele, falta esclarecer que a aftosa só atinge o rebanho e não os seres humanos.
Na avaliação do assessor econômico da Famasul, há um fato positivo no surgimento de casos de aftosa na Inglaterra. “A Rússia principal compradora suspendeu as exportações”, explica. As opções passaram a ser os mercados da Austrália e do Brasil, pois a Argentina também sofre a ameaça da doença. Mendonça acredita que a situação pode ser melhor ainda para Mato Grosso do Sul, que está reduzindo a diferença em relação à São Paulo. A avaliação do economista é confirmada pelos produtores. “Encurtou a diferença de preço para de R$ 2 a R$ 3, antes era de R$ 4 a R$ 5”, afirma.
Perspectivas
O presidente da Federação da Agricultura, Léo de Brito, lembra que aftosa causou um prejuízo de R$ 120 milhões aos pecuaristas, que ficaram com o gado no pasto. Para Brito, as perspectivas são boas.
“Temos esperança de que o mercado de carne vermelha, principalmente bovina, reagirá”. Bom também para o estado de Mato Grosso do Sul, que deixou de recolher R$ 33 milhões em ICMS com a retenção do gado em pé.
(Por Hudson Corrêa, para Gazeta Mercantil, 20/03/01)