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Economia chinesa tende a parar com nova epidemia

A rápida propagação de um novo coronavírus, potencialmente devastador, trouxe pânico à China e assustou os mercados financeiros ao redor do mundo. A acelerada progressão das mortes e o aparecimento de casos em pelo menos 13 países — a maioria deles asiáticos — levou a China a experiência inédita em tempos de paz — isolar a região de Hubei, com 60 milhões de habitantes, e sua capital, Wuhan, com 11 milhões, do resto do país e do mundo. Até anteontem, os números oficiais registravam 106 mortes e 4.515 pessoas infectadas.

A evolução da doença é imprevisível e informações relevantes para enfrentá-la não estão disponíveis. Caso o passado sirva de guia, o surto de síndrome respiratória aguda grave, em 2002 e 2003, provocou estragos importantes e de curta duração, seguidos de recuperação econômica rápida. Não há garantias disso, porém.

Os mercados tombaram na segunda e recuperaram-se parcialmente na terça, ao precificar consequências futuras de um surto da mesma extensão e intensidade da Sars na segunda maior economia do mundo. Em um ano o PIB chinês caiu 2 pontos percentuais e alguns bancos internacionais projetam um estrago ao redor de 1,2% no PIB deste ano e redução de 0,5% no crescimento global, que permanece claudicante.

Como a economia chinesa mudou bastante nos últimos 18 anos, é possível que os efeitos negativos sejam maiores, sempre supondo que o vírus será controlado, como foi o da Sars. Em 2003, o PIB chinês era de US$ 1,66 trilhão e hoje é oito vezes maior, de US$ 13,1 trilhões. O colapso do consumo e da produção decorrentes de epidemia seriam proporcionalmente maiores do que em 2003. E, pela mudança do modelo de crescimento do país, o consumo passou a ter um maior papel, no lugar dos investimentos e das exportações. Pelos números do FMI sobre o PIB pelo lado da demanda, o consumo move 76,2% do PIB e o investimento 32,4% — sua menor fatia em muito tempo.

Desde que assumiu plenos e concentrados poderes, que pretende vitalícios, o presidente Xi Jinping passou a enfrentar desafios em série. Donald Trump, no comando da maior economia do mundo, moveu uma guerra tarifária contra a China, a parte de uma estratégia que busca cortar o caminho dos chineses à vanguarda da revolução tecnológica. Pequim fez concessões secundárias até agora.

Depois, uma gripe suína africana devastou metade do rebanho, o que elevou o preço das carnes no mercado mundial em 30%. E agora uma nova versão do coronavírus veio a paralisar o país. A ação do governo chinês foi a mais contundente, porém, em uma época pouco propícia, o Ano Novo Lunar, feriado no qual cerca de 100 milhões de chineses viajam pelo país. Apenas de Wuhan, o foco da epidemia, saíram 4 milhões. O feriado foi estendido até o dia 2 de fevereiro, enquanto que todas viagens de e para a região estão proibidas.

As atividades produtivas foram interrompidas. Xangai suspendeu todas as aulas e funcionamento de empresas até 9 de fevereiro. Hong Kong limitou as viagens para o continente, enquanto Pequim proibiu a circulação nos locais mais visitados da cidade e limita o acesso à capital. Mesmo atitudes drásticas, tomadas pela ditadura, não evitaram críticas. O governo provincial notou casos de pneumonia sem causa desconhecida em dezembro, mas sua divulgação dependia de autorização do governo central. Em 31 de dezembro, 27 casos vieram à tona. Há suspeitas de que o vírus então já circulava há um mês, mas foi apenas a partir de 20 de janeiro que o PC chinês tomou medidas severas para tentar atenuar a propagação.

É possível que a mortalidade e os prejuízos econômicos sejam contidos a curto prazo. A China tem toda a infraestrutura necessária para combater o vírus e experiência do passado a seu favor. O vírus causou estragos relevantes, mas só em Hubei. De 81 mortes registradas até segunda-feira, 76 ocorreram na província. O destino do combate ao coronavírus, e a magnitude dos prejuízos humanos e financeiros, dependerão de respostas que ainda não existem. Há indícios de que o vírus é transmitido no período de incubação, antes dos sintomas aparecerem. Se for assim, controlar a epidemia será mais difícil, custoso e demorado, e mais fácil a proliferação global.

A recuperação mundial, já moderada, sofrerá o impacto, assim como o Brasil, que tem na China seu principal mercado exportador, que compra minério de ferro, petróleo e alimentos. Os dois primeiros setores serão os mais afetados em caso de uma crise sanitária longa e grave.

A recuperação mundial encontra novo obstáculo, assim como o Brasil, que tem na China seu principal mercado de exportação.

Fonte: Valor Econômico.

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