O BeefPoint lançou seu prêmio mais importante do ano para reconhecer e celebrar quem faz a diferença na pecuária de corte brasileira.
Nosso trabalho é focado em 3 pilares: conhecimento, relacionamento e inspiração. Tudo isso com foco em uma pecuária mais moderna, lucrativa e eficiente. Realizar um prêmio que seja uma festa e uma homenagem a essas pessoas especiais da pecuária de corte é a melhor maneira que encontramos para trazer inspiração a todos os envolvidos na cadeia da carne. Celebrar e destacar os bons exemplos é o caminho que encontramos e por isso estamos fazendo o Prêmio BeefPoint Brasil 2013.
A premiação ocorreu durante nosso maior evento de 2013, o BeefSummit Brasil, que reuniu mais de 1.000 pessoas em Ribeirão Preto, SP, nos dias 10 e 11 de dezembro de 2013.
A cerimônia de entrega dos prêmios e divulgação dos ganhadores foi no final do dia 10 de dezembro, após as palestras e antes do coquetel com Chopp Pinguim e degustação de carnes especiais.
Para conhecer melhor os finalistas de cada categoria, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um deles.
Confira abaixo a entrevista com André Bartocci, um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Brasil, nas categorias: Terminador / Invernista a Pasto, Produtor – Destaque Sanidade, Produtor – Destaque Qualidade de Carne.
André Bartocci é pecuarista e formado em Direito. Realiza recria e engorda com Integração Lavoura e Pecuária na Fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó – MS.
A Fazenda Nossa Senhora das Graças fica em uma região de terras férteis, agrícola, altamente tecnificada e estrategicamente localizada na beira da BR 163, que escoa a produção para o Porto de Paranaguá.
Eficiência no setor agropecuário é sinônimo de produção, indústria, varejo e governo em constante diálogo [André Bartocci]
BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do Brasil hoje?
André Bartocci: É entender que a partir da década de 90, principalmente com o fim do período inflacionário, a pecuária começou a mudar e hoje vivemos outro ciclo produtivo, o da moderna pecuária brasileira de pasto. E a parte boa da história é que sinceramente ainda somos muito ruins neste novo sistema, portanto temos muito a melhorar.
Nesta nova pecuária, existem produtores em vários estágios de desenvolvimento e também varias são as formas de atingi-la. Porém, há um consenso: no século XXI não há espaço para a pecuária do século XX.
BeefPoint: O que o setor poderia fazer para aumentar sua competitividade no Brasil?
André Bartocci: É importante nós, produtores, sabermos realmente onde estamos, nossas potencialidades e nossos problemas. Lembrar que só somos grandes porque do outro lado tem alguém muito maior que nós: o consumidor. Porém, dependemos de toda a cadeia para alcança-lo.
O setor seria mais eficiente se tivéssemos um órgão onde produção, indústria, varejo e governo pudessem dialogar e se beneficiar mutuamente. Este conselho poderia regulamentar entre outras coisas: os rendimentos de carcaças, castração, tipificação, rastreabilidade e até eliminar o sistema Peneirão de compra de animais, arriscado para a indústria e prejudicial para a cadeia.
E enquanto isto não é possível, precisamos eleger pelo menos um mesmo idioma para todos os elos! Hoje a produção fala grego, a indústria mandarim e o varejo aramaico … E a dona de casa continua comendo carne de vaca!
BeefPoint: Você poderia nos contar sobre os acertos? O que fez e deu certo em sua carreira? Qual a sua maior realização?
André Bartocci: Em abril de 1990 comecei administrar a NSG. Além da minha pouca experiência, o mercado era assolado com furacões inflacionários que tornavam a pecuária o ambiente mais economicamente irracional do planeta.
Havia uma regra de sucesso para ser pecuarista: compre antes, venda depois.
Me lembro de 3 conselhos muito simples que mesmo após 24 anos ainda sigo: primeiro registre seu passado, segundo compare seu presente e terceiro faça previsões paro o futuro.
BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?
André Bartocci: Durante o período inflacionário, que dentro da pecuária penso que se estendeu até 1997, nosso foco era comercial. Minha principal meta era comprar barato e vender da melhor forma. O comércio era o comandante e eu era muito bom nele. Consequentemente genética, produtividade, qualidade e gestão eram sacrificadas. Reposição e escala eram números buscados. Esta era a forma correta de se praticar pecuária neste período.
Meu erro foi ter mantido este foco comercial mesmo após o Brasil ter superado esta fase de indexações. Somente a partir de 2001 percebemos que nossa célula de produção, como racionalmente deveria sempre ser, era o hectare. E o que pagaria a conta dali para frente seria a produtividade de cada hectare (kg/ha) e não a quantidade de bois que viviam neles.
BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?
André Bartocci: Primeiro foi investimento em pastagens de inverno via integração.
Porém o maior custo benefício de 2013 foi o investimento em qualificação das pessoas que trabalham comigo e moram na fazenda. Foram cursos de manejo racional, adubação de pastagens, de primeiros socorros, de culinária, de inglês, de informática, artesanato, reforço escolar, cinema e literatura, além de conferências internas com o objetivo de escutar opiniões de todos. Enfim, investimentos nas pessoas, não só nos trabalhadores.
BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?
André Bartocci: Pretendo desenvolver nosso lado agrícola. Entender mais de solo, plantas, raízes e folhas e como é a relação deles com os herbívoros ruminantes. Acho que o Brasil tem muito a descobrir sobre este tema e a moderna pecuária brasileira passa por ai.
Também gostaria de contribuir para a melhor relação entre os elos da cadeia da carne.
BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?
André Bartocci: A imagem ruim do agronegócio brasileiro deve ser transformada e depende de nós e de nossos líderes. Se é que eles existem. Agora existem duas categorias de jovens: os com e os sem opção.
O primeiro grupo vejo que o envolvimento está de bom tamanho. Não há falta de jovens profissionais sendo formados, pelo menos não em quantidade. Talvez alguns patriarcas imaginem que a pecuária ainda é um sistema monárquico onde os príncipes devem substituir os reis. Não é.
Agora no segundo grupo aqueles sem condições, os que frequentam a escola pública brasileira ou os filhos de trabalhadores rurais, o problema é grave e tende a piorar. Os jovens da cidade nem pensam em trabalhar no campo e os de lá só pensam em mudar para a cidade. O êxodo rural esta ativo!
As lideranças pecuárias precisam se comprometer seriamente na formação e envolvimento destes jovens.
BeefPoint: Qual o exemplo de pecuarista do futuro do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
André Bartocci: Admiro e procuro aprender com pecuaristas e produções que tem na pecuária seu negócio principal, portanto tem a pressão do mercado para se aperfeiçoar.
O Professor Moacyr Corsi trabalha com conceitos de vanguarda na pecuária em sua fazenda. Focado em altas produtividades por hectare, mas com medição individual de desempenho animal. É um trabalho complexo, mas com conceitos claros. Tenho certeza que este é o caminho do Brasil.
BeefPoint: Em sua opinião, qual fazenda se destaca na pecuária hoje?
André Bartocci: As fazendas que formam a Associação do Novilho Precoce do Mato Grosso do Sul por:
Existem bons exemplos de produtores lá e a união deles os tornaram fortes.
BeefPoint: Por que você acha que foi finalista do Prêmio BeefPoint Brasil?
André Bartocci: Por ser otimista.
BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas?
André Bartocci: Vivemos em uma sociedade democrática capitalista, que incentiva nosso lado empreendedor e nos pede para produzir mais e melhor. Apesar de seu lado democrático não ser perfeito e tão pouco o ser a parte capitalista, gostaria que meus filhos vivessem neste sistema. Acredito nele e acho que é meu compromisso tentar perpetua-lo.
Porém, esta sociedade nos impõe um sócio universal. Ele define nossas estradas, nossa educação, nossa segurança, nossa saúde e nossa cultura. Enfim, as regras do jogo. Em poucos momentos este sócio nos pede opinião, apesar de cobrar impositivamente sua parte com a maior carga tributária do planeta!
Em 5 de outubro de 2014, o sócio perguntará nossa opinião. Nos próximos dez meses deveríamos refletir sobre infra estrutura, educação rural, questões indígenas, o controle da aftosa, os juros cobrados para financiamentos, os estímulos a produção e também o quanto a pecuária colabora com o país. E a partir desta reflexão dar a melhor reposta.