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Não é mais aceitável que problemas seculares assolem a pecuária nacional [Rinaldo Vianna]

BeefPoint lançou seu prêmio mais importante do ano para reconhecer e celebrar quem faz a diferença na pecuária de corte brasileira.

Nosso trabalho é focado em 3 pilares: conhecimento, relacionamento e inspiração. Tudo isso com foco em uma pecuária mais moderna, lucrativa e eficiente. Realizar um prêmio que seja uma festa e uma homenagem a essas pessoas especiais da pecuária de corte é a melhor maneira que encontramos para trazer inspiração a todos os envolvidos na cadeia da carne. Celebrar e destacar os bons exemplos é o caminho que encontramos e por isso estamos fazendo o Prêmio BeefPoint Brasil 2013.

A premiação ocorreu durante nosso maior evento de 2013, o BeefSummit Brasil, que reuniu mais de 1.000 pessoas em Ribeirão Preto, SP, nos dias 10 e 11 de dezembro de 2013.

A cerimônia de entrega dos prêmios e divulgação dos ganhadores foi no final do dia 10 de dezembro, após as palestras e antes do coquetel com Chopp Pinguim e degustação de carnes especiais.

Para conhecer melhor os finalistas de cada categoria, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um deles.

Confira abaixo a entrevista com Rinaldo Vianna, um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Brasil, na categoria Professor – Pesquisador.

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Rinaldo Vianna é médico veterinário formado há 15 anos pela Universidade Estadual do Ceará. Mudou-se para São Paulo para continuar os estudos na Universidade de São Paulo, onde fez seu mestrado em Clínica Veterinária no Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, orientado pelo Prof. Dr. Eduardo Harry Birgel Junior, e o doutorado em Reprodução Animal no Departamento Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, orientado pelo Prof. Dr. Pietro Sampaio Baruselli.

Além do mais, é especialista em Metodologia do Ensino Superior pelo convênio Harper Adams University College, University of Wolverhampton, Universidade Federal Rural da Amazônia, há 10 anos é professor adjunto do Instituto da Saúde e Produção Animal da Universidade Federal Rural da Amazônia (ISPA/Ufra).

Principais Atividades Profissionais:

  • Líder do Grupo de Pesquisa em Andrologia, Inseminação Artificial, Sanidade e Melhoramento Genético de Bovinos e Bubalinos (Gaia)
  • Ex-Coordenador do Curso de Graduação em Medicina Veterinária (2008 – 2013)
  • Ex-Editor Chefe Adjunto do Amazonian Journal of Agricultural and Environmental Sciences
  • Criador e atual Tutor do Grupo PET de Medicina Veterinária da Ufra – Programa de Educação Tutorial – Secretaria de Educação Superior (PET-SESu/MEC)
  • Chefe da Unidade de Bubalinocultura Leiteira Eva Daher Abufaiad-ISPA/Ufra

Principais linhas de pesquisas:

  • Sanidade de ruminantes
  • Manejo reprodutivo de bovinos e bubalinos

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do Brasil hoje?

Rinaldo Vianna: A pecuária brasileira precisa indicar definitivamente seus clusters de produção. Em um futuro próximo a Amazônia se consolidará nesse cenário como cluster de produção pecuária, principalmente no Estados de Rondônia, Acre e Pará que detém o maior rebanho da região.

Todavia, questões precisam ser equacionadas, sobretudo inerente a preservação ambiental, sanidade dos rebanhos e qualidade de vida do homem no campo. A isso, modernamente chamamos de pecuária sustentável. Ou seja é preciso produzir mais por menos. Mas, o aumento da produtividade não deve perpassar, necessariamente pela expansão das fronteiras agrícolas.

Podemos dizer, portanto que o maior desafio hoje, é aliar o aumento da produtividade com preservação ambiental, contudo sem prejudicar o rendimento dos meios de produção, ou a lucratividade das atividades pastoris. Como? Agregando tecnologia e valores aos bens produzidos.

Não há como produzir mais, sem tecnificação dos processos de criar animais. E a sanidade se destaca nesse contexto, pois não há produção animal sem sanidade, tampouco alimento seguro oriundo de animal enfermo.

BeefPoint: O que o setor deveria fazer para aumentar sua competitividade no Brasil?

Rinaldo Vianna: Investir. Esta é a palavra de ordem. Recuperação de pastagens degradas, utilização e manejo adequados dos solos, nutrição e alimentação corretas dos animais, preservação ambiental, adoção de boas práticas de criação com manejo racional dos animais, utilização de biotecnologias reprodutivas, melhoramento genético dos rebanhos e, principalmente efetivo manejo sanitário dos animais, entre outras medidas, são ações que trarão incremento e sustentabilidade à pecuária nacional.

Não é mais aceitável que problemas seculares tais como a ocorrência de doenças como a tuberculose bovina, brucelose e febre aftosa ainda assolem a pecuária nacional.

Além disso a pecuária precisa agregar valor ao seu produto: carne de sabor nobre, oriunda de animais criados sobre as melhores condições e boas práticas pecuárias, com alta tecnificação, isentos de doenças, rastreados do nascimento ao abate. Assim a carne produzida trará consigo a garantia tão esperada do sabor e nutrição associadas à segurança alimentar.

BeefPoint: Você poderia nos contar sobre os acertos? O que fez e deu certo em sua carreira? Qual a sua maior realização?

Rinaldo Vianna: Os maiores acertos perpassam pelas escolhas que fazemos. Tivemos a felicidade de ser forjado pelos melhores cientistas e professores desse país. O fato de ter estudado na melhor universidade brasileira, a USP nos proporcionou um enriquecimento cultural e científico singulares, visto que tivemos a oportunidade de conviver com pesquisadores do país inteiro, com quem muito aprendemos.

Os meus colegas de pós-graduação estão povoando academias de ensino superior e pesquisa do Oiapoque ao Chuí. Essas pessoas fizeram de mim, o pesquisador que hoje somos. Além disso o fato de termos nascido e vivido na Caatinga, ido estudar no Sudeste do Brasil e escolhido a Amazônia para viver, já há uma década, torna-nos uma pessoa multifacetada, assimilando as mais vastas culturas desse país-continente. Isso reflete, sobremaneira na carreira profissional.

A maior realização de um pesquisador que atua nessa área em que atuamos, poderia ser, facilmente traduzida nas soluções criadas para resolver os problemas que assolam a pecuária nacional e melhorar os meios de criação de animais pecuários. Porém, particularmente destacamos a nossa contribuição à formação de profissionais que estarão diretamente envolvidos no desenvolvimento da pecuária brasileira. Formar os melhores médicos veterinários e zootecnistas para alavancar o desenvolvimento da pecuária do nosso Estado e de outras regiões do nosso país tem sido nossa maior meta.

Hoje temos ex-orientados (pós-graduação, graduação, educação tutorial, iniciação científica e outros) atuando nas melhores fazendas, empresas e academias de ensino e pesquisa do país. Isso não tem preço.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

Rinaldo Vianna: Não sei se, especificamente erros. Mas, na construção de uma carreira nem tudo sai como planejado. Muitas vezes investimos em profissionais, ou seja, na formação de um futuro profissional que não dá resultados. Ou porque não é vocacionado, ou porque não tem talento. Isso tende a causar frustração e uma certa insegurança. Todavia, esses desacertos, também são importantes, pois nos fazem crescer e amadurecer, profissionalmente.

O importante é buscar sempre o lado positivo de cada situação e evoluir constantemente. A evolução não, necessariamente significa acumular vitórias, mas sim tirar proveito até mesmo das derrotas e perdas. E isso que temos buscado no nosso grupo de pesquisa e que tentamos ensinar aos nossos orientados.

BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?

Rinaldo Vianna: Entre as muitas ações que fizemos em 2013, algumas delas nos deixaram bastante satisfeitos. Entre elas destacamos um projeto de cooperação científica que temos com as universidades Estadual do Ceará (UECE) e Estadual Prof. Julio de Mesquita Filho (Unesp/Jaboticabal) que tem proporcionado a consolidação do nosso Programa de Pós-graduação em Saúde e Produção Animal na Amazônia e capacitação dos estudantes egressos da nossa universidade, a Ufra.

As parcerias estabelecidas principalmente com a Ourofino Agronegócio, Idexx e MSD estão entre aquelas ações que nos orgulhamos, dado os bons frutos que temos colhido.

Finalizando, em 2013 tivemos a grata surpresa de ser escolhidos pela Globalstar, uma das maiores empresa de telefonia e comunicação via satélite americana, para testar um protótipo para rastreabilidade remota de bovinos, o “GPS do boi”.

São ações que vão pouco a pouco nos inserindo no destacado universo da pesquisa científica nacional.

BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?

Rinaldo Vianna: Em 2014 pretendemos dar continuidade aos projetos vigentes. Consolidar ainda mais as parcerias estabelecidas e buscar novos parceiros. E sobretudo continuar na constante busca de soluções para os entraves da pecuária do nosso Estado.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Rinaldo Vianna: Nós particularmente temos trabalhado arduamente para isso. Criamos o Prêmio Birgel de Buiatria, um prêmio patrocinado pela Ourofino Agronegócio que visa laurear o melhor aluno do curso de medicina veterinária da Ufra, com melhor desempenho acadêmico nas disciplinas correlatas a atuação do Buiatra, o médico veterinário que cuida dos animais ruminantes.

Além disso é preciso mostrar a força pujante do agronegócio nacional. O Prêmio Agrotalento 2013 também é uma dessas inciativas que faz com que jovens profissionais se estimulem a fazer parte da cadeia produtiva da pecuária de corte e do agronegócio brasileiro.

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BeefPoint: Qual o exemplo de pecuarista do futuro do Brasil hoje?

Rinaldo Vianna: O pecuarista do futuro é aquele que se preocupa com tudo que cerca a criação e produção de bovinos. Desde a qualidade de vida dos seus colaboradores rurais, bem-estar dos animais, preservação dos recursos naturais renováveis, faunísticos e florísticos, e medidas que visem o aumento da produção sem destruição do meio ambiente, inclusive com tecnificação dos processos produtivos. O pecuarista do futuro, enfim, contribuirá para a soberania e segurança alimentares de sua nação.

BeefPoint: Por que você acha que foi finalista do Prêmio BeefPoint Brasil?

Rinaldo Vianna: Essa é a pergunta mais difícil de se responder. Então vou basear-me nos três pilares que enfoca o trabalho do BeefPoint: conhecimento, relacionamento e inspiração. Talvez pela busca constante do conhecimento, por primar o bom relacionamento profissional e pessoal e por ser imbuído de inspiração e sonhos para um mundo mais equânime aonde não existam pessoas passando fome, tenhamos sido finalista.

Mais do que cuidar de animais, sempre vi nossa atuação profissional como uma possibilidade de produzir alimentos para a humanidade. Mas não queremos fazer isso a qualquer custo, a qualquer preço. Paradoxalmente, nos preocupamos com o bem estar dos animais que criamos e com as pessoas que dedicam sua vida a esse ofício. Quem nos conhece sabe o quanto amamos essa atividade.

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BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas?

Rinaldo Vianna: Queremos dizer ao pecuarista do nosso país, que não há nação desenvolvida sem produção de alimentos para nutrir sua gente. O papel do pecuarista é de grande relevância, uma vez que é responsável pela geração de empregos, fixação do homem no campo e desenvolvimento sustentável do país. E já que nos apregoam a condição de celeiro do mundo, portanto compete ao pecuarista brasileiro uma missão ainda maior.

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