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Entenda a queda do valor do bônus do JBS

O "bônus do JBS" é uma dívida emitida pelo frigorífico e comprada por investidores qualificados, predominantemente o BNDES. Esse bônus específico do JBS contém também uma cláusula de conversão em ações da JBS USA, o que agrega valor ao papel. Ou seja, além de um papel de renda fixa, ele também é uma opção de compra da ação de uma empresa. Para se resguardar da queda de valor do bônus na hipótese do JBS não cumprir seu compromisso, o BNDES negociou a inclusão de uma multa pagável a ela pelo JBS se ele descumprisse o prazo. Ao pagar a multa, o JBS "comunicou" ao mercado que talvez nunca venha a cumprir sua promessa de abrir o capital da JBS USA e dessa forma aquela opção de conversibilidade embutida no bônus perdeu valor.

Entramos em contato com João Gustavo de Paula, da Associação de Criadores de Gado de Corte do Norte de Minas Gerias para entender melhor a piora dos títulos da dívida da JBS S.A. que aconteceu na semana passada e os motivos para essa perda de valor. Veja abaixo a explicação de João Gustavo de Paula sobre o assunto.

“O “bônus do JBS” é uma dívida emitida pelo frigorífico e comprada por investidores qualificados, predominantemente o BNDES.

Diferentemente de um empréstimo bancário, que é feito normalmente com uma única instituição financeira e não pode ser repassada a terceiros (não é negociável), um bônus é uma empréstimo dividido em vários certificados de menor valor que são “vendidos” também a instituições não financeiras, como empresas comerciais e fundos de investimento, e podem ser facilmente revendidas pelos compradores originais a outros investidores. Para tanto, existe uma cotação diária de mercado para esses certificados que varia em função da saúde financeira da empresa emissora, da taxa de juros do mercado e de outros fatores. Como os bônus normalmente são estruturados com pagamentos de valores fixos em datas pré-estabelecidas até seu vencimento, seu valor de revenda tende a cair quando a taxa de juros sobe (porque o valor descontado dos pagamentos reduz) e subir quando a taxa de juros cai.

Esse bônus específico do JBS contém também uma cláusula de conversão em ações da JBS USA, o que agrega valor ao papel. Ou seja, além de um papel de renda fixa, ele também é uma opção de compra da ação de uma empresa.

Acontece que para dar mais valor a essa conversibilidade, o JBS incluiu no contrato do bônus um compromisso de abrir o capital da JBS USA (porque uma ação de empresa de capital aberto vale mais do que uma de capital fechado, devido à maior facilidade de se vender essas ações). Para se resguardar da queda de valor do bônus na hipótese do JBS não cumprir seu compromisso, o BNDES negociou a inclusão de uma multa pagável a ela pelo JBS se ele descumprisse o prazo. Para não pagar a multa, o JBS tinha ainda a opção de converter os bônus em ações da JBS Brasil (matriz e de capital aberto), ao invés da JBS USA (subsidiária e de capital ainda fechado). Como essa segunda opção aumentaria muito a participação do BNDES no capital da JBS, diluindo seus controladores, o frigorífico optou por pagar a salgada multa.

Mas porque o valor de mercado do bônus caiu?

Caiu porque ao pagar a multa, o JBS “comunicou” ao mercado que talvez nunca venha a cumprir sua promessa de abrir o capital da JBS USA e dessa forma aquela opção de conversibilidade embutida no bônus perdeu valor (porque a JBS USA permanecerá como empresa de capital fechado).

Outros artigos do Valor Econômico dessa semana também falaram do baixo valor das ações do JBS, mas essa análise é totalmente isolada do valor do bônus. O bônus perderia valor se houvesse um rebaixamento da classificação de crédito do JBS, o que não ocorreu. Quando uma empresa emite dívida no mercado de capitais (ou seja, sem ser um empréstimo bancário), ela é obrigada a contratar uma ou mais empresas de classificação de risco de crédito para monitorar sua situação financeira e publicar para o mercado uma nota que indica sua probabilidade de honrar os pagamentos de sua dívida. Um rebaixamento da classificação de crédito, como ocorreu com o Independência em jan/2009, por exemplo, é uma opinião de um perito independente de que diminuiu a probabilidade de uma determinada empresa conseguir pagar suas dívidas”.

Equipe BeeFPoint

0 Comments

  1. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Muito boa a explicação do senhor João Gustavo de Paula!

    O que me remete,e confirma,a minha primaria interpretação de que as operações da JBS USA são mais relevantes para a companhia,do que as operações da JBS Brazil.

    Daí então,provavelmente,o porquê desta empresa ser mult proteínas somente lá no EUA.

    O que trás ainda mais duvidas sobre o porquê dos aportes por parte do BNDEs para o JBS.

    Neste jogo ratings mudam sempre,caldo de galinha,atenção e cuidado sempre é pouco.

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

  2. Antonio Carlos de Souza Queiroz Cardoso disse:

    Sinto muito, mas nesse caso os bônus estão caindo devido à péssima administração que a empresa está tendo, inclusive privilegiando setores externos que deveriam estar em segundo plano por vários motivos, o principal deles sendo que a parte industrial mais relevante da JBS está no Brasil e aqui é que ela foi agraciada com recursos do governo.

    Naturalmente, os investidores raciocinam e concluem que o risco aumenta exponencialmente nessa curiosa e perigosa operação de lançar bonds no mercado externo, captando porém $$ “privado”no mercado interno (após a entrada de $$ do governo), através de uma empresa off-shore especialmente criada para isso.

    Em suma: estão com dinheiro daqui lá fora e não querem dar muita satisfação…

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