Desempenho da pecuária de corte em 1999
23 de maio de 2000

Entendendo o florescimento dos capins

Marco Antonio Alvares Balsalobre

As folhas apresentam qualidade melhor que as hastes. No início da estação de crescimento o valor nutricional das hastes e folhas é semelhante. Porém, a haste apresenta uma queda acentuada de qualidade com a idade. Na Tabela 1 pode-se observar que, em capim elefante, a extensão da degradação das hastes é semelhante à das folhas no início da estação de crescimento, porém a redução na extensão de degradação das hastes com o avanço da estação é mais acentuada que nas folhas.

Tabela
A presença de hastes pode reduzir a eficiência do sistema de duas formas: limitando a capacidade de colheita da forragem pelo animal ou reduzindo o seu valor alimentar. Isso mostra a importância de se controlar a participação da haste na dieta. Porém, o controle do crescimento da haste não é simples, pois é dependente dos efeitos fisiológicos e ambientais. A época em que a forragem apresenta maior proporção de hastes é durante o período de florescimento.

O florescimento está altamente correlacionado a fatores do ambiente. O mais estudado é o fotoperíodo.As plantas que florescem quando o fotoperíodo é menor que o valor crítico, são consideradas de dia curto, e aquelas que florescem em resposta à comprimentos do dia acima do valor crítico, são classificadas como de dia longo. As plantas indiferentes florescem independentemente do fotoperíodo, enquanto as intermediárias só vão florescer quando submetidas à comprimentos de dia intermediários, ou seja, dias muito longos ou muito curtos inibem o processo.

As plantas de dias curtos ou de dias longos podem ainda ser classificadas como qualitativas ou quantitativas. Nas plantas qualitativas, o florescimento só ocorre se as exigências quanto ao fotoperíodo forem atendidas. No entanto, as quantitativas aceleram o processo de florescimento a partir de determinado comprimento do dia.

O gênero Brachiaria apresenta diversas respostas aos fatores climáticos. A Brachiaria mutica é uma planta de dia curto qualitativa, enquanto a Brachiaria brizantha e a Brachiaria decumbens não respondem ao fotoperíodo. Já a Brachiaria ruziziensis é uma planta de dia curto quantitativa (figura 1).

A B. mutica não produziu inflorescência com fotoperíodo acima de 14 horas, sendo que seu florescimento foi acelerado quando se passou de 12 para 10 horas de fotoperíodo. A B. brizantha e a B. decumbens já apresentavam inflorescência com menos de cinco dias de crescimento e a B. ruziziensis, no fotoperíodo de 14 horas, apresentou as primeiras inflorescências com menos de 40 dias.

As espécies do gênero Cynodon (coast-cross, estrela e tifton) são, em geral, consideradas plantas de dia longo que exigem vernalização, sendo esse é o motivo dessas plantas não produzirem sementes em nossas condições.

O Panicum maximum (colonião, tobiatã, mombaça, tanzânia), em geral, é classificado como planta de dia curto. No caso do Capim Colonião, o fotoperíodo crítico é de 12 a 14 horas. O cultivar Gatton panic é uma planta de dia curto quantitativa respondendo a fotoperíodos entre 12 e 14 horas.

O capim Elefante (Pennisetum purpureum) é uma planta de dia curto com fotoperíodo crítico entre 12 e 15 horas. Após a iniciação, no entanto, as inflorescências só completam seu desenvolvimento com fotoperíodos de 16 horas.

Algumas plantas forrageiras tropicais, como a Brachiaria decumbens, florescem durante o ano todo, pois são plantas de dias neutros. Neste caso, o controle do florescimento é mais difícil, porém, como a porcentagem de perfilhos reprodutivos em um dado momento não é alta, a qualidade alimentar da planta não fica tão comprometida.

Gráfico
Figura 1. Curva de florescimento acumulativo de três espécies de Brachiaria submetidas a diferentes fotoperíodos (— B. brizantha e B. decumbens sob fotoperíodos de 10,12 e 14h; 3/4 B. ruziziensis).

Nas plantas que apresentam uma época determinada de florescimento o valor alimentar da forragem reduz rapidamente após a indução floral. Desta forma, é interessante se buscar alternativas de manejo para evitar esse fato.

Uma das alternativas de controle do florescimento é se fazer pastejos estratégicos em determinadas épocas do ano, visando a eliminação do meristema (ponto de crescimento) do perfilho que tenha sofrido indução floral. Esse tipo de manejo só poderá ser adotado se o ciclo de pastejo for variável ao longo do ano. O uso de diferentes forrageiras em um sistema de produção também pode ser adotado para minimizar tal efeito.

fonte: MilkPoint

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