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Erradicação da febre aftosa: hora de reflexão

Nos últimos dias (semanas), o assunto mais relevante para a Cadeia da Carne Bovina Brasileira, que foi objeto de inúmeras notícias, entrevistas com autoridades e até artigos de políticos, foi o reconhecimento, pelos países que constituem a Organização Internacional de Epizootias (OIE), do chamado Circuito Centro-Oeste como zona livre de febre aftosa com vacinação.

Nos últimos dias (semanas), o assunto mais relevante para a Cadeia da Carne Bovina Brasileira, que foi objeto de inúmeras notícias, entrevistas com autoridades e até artigos de políticos, foi o reconhecimento, pelos países que constituem a Organização Internacional de Epizootias (OIE), do chamado Circuito Centro-Oeste como zona livre de febre aftosa com vacinação. Sem dúvida, essa conquista brasileira é um marco vitorioso na verdadeira guerra para a erradicação da febre aftosa do território nacional.

Muita ênfase foi dada ao possível aumento das exportações de carne bovina “in natura” e ao provável aumento da rentabilidade dos produtores. Pelo menos dois aspectos devem ser considerados para reflexão.

O primeiro está relacionado com a falta de tradição do Brasil na exportação de carne bovina de qualidade. Esse mercado tem que ser trabalhado por longos períodos, de uma maneira contínua e eficiente, para que o Brasil possa ser visto como um fornecedor constante de carne bovina de qualidade. Para isso, haverá necessidade da introdução efetiva de um sistema de tipificação de carcaças flexível para atender os diferentes mercados. Entretanto, qualquer que seja o mercado, inclusive nacional, maciez é condição essencial. Sabe-se que maciez está relacionada com idade e com os manejos pré e pós-abate. A redução da idade de abate está ocorrendo rapidamente. Os programas estaduais de estímulo à produção de novilho precoce foram mais importantes para mostrar aos produtores que o maior retorno econômico na produção de novilhos precoces ocorria mais pelo aumento da eficiência de produção do que pelas recompensas dadas pelos estados em termos de devolução de ICMS. Para isso, contribuiu também a decisão de muitos estados em reduzir drasticamente esse tributo, de tal maneira que praticamente muito pouco sobrava para devolução. Isso fez com que os produtores pudessem ver com clareza que a produção de animais mais jovens é o único caminho para viabilizar a pecuária de corte. Hoje, quem não está produzindo novilhos tidos como precoces (até quatro dentes), terá que evoluir rapidamente nessa direção ou não terá condições de competir. Quanto aos manejos pré e pós-abate, embora algumas atitudes isoladas já tenham sido implementadas ou estão em implementação (casos de algumas alianças mercadológicas) muito está para ser feito. Tanto produtores como frigoríficos têm dado muito pouca atenção a esse assunto, e acreditamos que isso seja mais por falta de conhecimento de causa do que por irresponsabildade. As entidades representativas dos agentes da cadeia da carne bovina tem que organizar cursos para treinamento de pessoal e campanhas de esclarecimento.

O segundo aspecto está relacionado com a responsabilidade em dar continuidade à campanha de erradicação da febre aftosa. Às vezes, quando se conquista algo que exige muito esforço, pode ocorrer um relaxamento a seguir. Na nossa opinião, as atitudes e principalmente as ações dos responsáveis pela erradicação da febre aftosa no Brasil (todos os envolvidos na cadeia devem ser considerados como tal) precisam ser no sentido de que estamos apenas no início de um processo que para ser definitivamente vitorioso tem ainda a maior parte do caminho a ser percorrida. Punições jurídicas e financeiras drásticas deveriam fazer parte de uma legislação para punir aqueles que porventura cometerem atos que prejudiquem alcançar o objetivo de erradicação da febre aftosa do rebanho bovino brasileiro no mais curto espaço de tempo possível. Além das implicações em termos de abertura de novos mercados e de ampliação dos existentes, existe o problema de conceito do Brasil perante a comunidade internacional.

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