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Especialistas discutem o uso do caroço de algodão e sua influência no sabor da carne

Durante mesa redonda promovida pela Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), que debateu sobre o uso do caroço de algodão na pecuária e sua influência no sabor da carne, foram apresentados estudos conduzidos pela Esalq/USP e IFMT onde foi avaliado que seu uso em percentuais entre 15% a 20% não promovem variação de aroma e sabor na carne.

Durante mesa redonda promovida pela Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), que debateu sobre o uso do caroço de algodão na pecuária e sua influência no sabor da carne, foram apresentados estudos conduzidos pela Esalq/USP e IFMT onde foi avaliado que seu uso em percentuais entre 15% a 20% não promovem variação de aroma e sabor na carne.

Em 2009, os professores Dante Pazzanese Lanna, do Departamento de Ciência Animal e Pastagens da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e Dorival Pereira Borges da Costa, coordenador da área de zootecnia do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) conduziram em Guiratinga (MT), experimento com 36 novilhos inteiros nelore em 91 dias de confinamento com concentração proposital entre 28% e 34% de caroço de algodão do total da matéria seca.

Conforme explicam os professores, neste experimento o percentual utilizado foi bem acima da dosagem convencional utilizada nos confinamentos que gira entre 10% a 20%. Na dieta dos animais foram utilizados níveis administrados respectivamente de 0%, 14%, 28% e 34% da matéria seca da dieta total para aferir possíveis incidências de oxidação libídica (ranço da carne).

Um fato observado pelos especialistas é que, quanto maior a participação do caroço de algodão na massa seca da dieta total, menor é a taxa de consumo da ração pelos animais confinados, que passaram a apresentar diminuição do ganho de peso. A redução gradativa fica ilustrada nos números do experimento que demonstra que no nível zero de adição do caroço de algodão o ganho de peso observado foi de 1,35 Kg/dia.

Na medida em que o subproduto é adicionado à alimentação a perda de peso é proporcional, podendo atingir GPD (Ganho de Peso Diário) de 1,1 kg/dia – menos 250 gramas por animal/dia – em dietas que receberam 34% de caroço de algodão”, destacou o professor Dante Lanna.

Segundo Dorival Costa esse experimento é o quarto realizado por pesquisadores brasileiros que em que se constatou que na concentração de até 20% de caroço de algodão, nenhuma alteração no aroma e/ou sabor da carne foram observados.

As mudanças começaram a ocorrer quando o nível de massa seca com o uso do caroço de algodão na dieta total superou este percentual e alterou ligeiramente a escala de análise sensorial da carne. Vale destacar que nesta análise sensorial da carne é considerada uma escala de 0 a 9, sendo que o índice 5 é classificado como sendo uma carne saborosa.

Ao usar o nível 28% de concentração e depois o de 34% de teor de caroço de algodão na dieta dos bovinos, o aroma apurado no nível 28% ficou dentro da escala 5 e no sabor foi constatado intensidade 5,4. Em níveis de concentração acima de 34% a intensidade constatada no resultado da análise sensorial da carne foi 6 nos dois itens: sabor e aroma. “Em resumo a mudança significou uma ligeira alteração, no entanto, pouco expressiva em função da pouca diferença com a intensidade de uma carne saborosa que é o índice 5”, destacou Dorival Costa.

A conclusão dos especialistas é a de que não há nenhum dado conclusivo que demonstre cientificamente uma correlação entre o uso de caroço de algodão nas dietas sobre o atributo de influenciar o sabor da carne bovina. “O confinador dificilmente terá problema de alteração de sabor ou aroma da carne produzida se respeitar a faixa média de 15% de teor de caroço de algodão na concentração de massa até porque muito acima disto, se tornará inviável”, conclui Costa.

Os pesquisadores lembraram de outros dois experimentos conduzidos no Brasil neste assunto. O primeiro pela Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS) em parceria com a USP, coordenado pelo Dr. Sergio Medeiros e o segundo experimento, conduzido pela equipe do professor Paulo Leme, na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) de Pirassununga (SP), em ambos sem efeito negativo no sabor da carne de bovinos alimentados com 10% a 20% de caroço de algodão.

Lanna defendeu ainda que mais experimentos do gênero sejam conduzidos até para ampliar possibilidades de que o problema esteja em outra área ou outro fator e não no caroço de algodão. Ele também informou que outra pesquisa vem sendo desenvolvida em Mato Grosso com avaliações a respeito de outras matérias-primas ou oleaginosas utilizadas na dieta de bovinos confinados, como o farelo de girassol, bagaço de cana e farelo de mamona.

Este assunto já foi debatido outras vezes aqui no BeefPoint – clique aqui para ler matéria relacionada ao assunto – e ganhou fôlego também no Twitter após a divulgação dos resultados do estudo de Lanna e Costa.

Roberto Barcellos comentou: “Trabalhei 5 anos no Marfrig e toda reclamação de gosto desagradável na carne investigada tinha origem no uso indiscriminado do caroco de algodão”. Segundo ele a Assocon deveria adotar o discursso de limitar o uso do caroço de algodão e completa que “não vai ser um único trabalho que vai endossar um sério problema dos animais confinados”.

Para Fábio Dias, o gosto ruim não está ligado ao uso do caroço de algodão na dieta, mas sim ao uso “indiscriminado”. “O uso deste ingrediente tem que ser correto. Neste caso quem manda é o técnico. O que não podemos é sair criando mitos sem base científica”.

As informações são da Assocon, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

3 Comments

  1. FÁBIO ARANTES QUINTÃO disse:

    Primeiramente, quero parabenizar os autores pela pesquisa.
    Não podemos esquecer que a inclusão de coprodutos como o caroço de algodão só é relevante se diminuirmos o custo da dieta sem prejudicar o desempenho animal.
    Outra coisa importante é que balancear dieta não é balancear ingredientes e sim nutrientes, ou seja, quaisquer que seja o ingrediente utilizado temos que privar por lucro máximo (desempenho x rentabilidade).
    Portanto, a influência do caroço de algodão no gosto da carne é muito importante, mas não a principal questão a ser avaliada.
    O ponto mais interessante que eu achei do artigo foi a influência deste coproduto no consumo e no desempenho. Acredito que é para isto que temos que olhar.

    Fábio Quintão
    Zootecnista, Msc.
    Palmas – TO

  2. joao carlos dias da silva disse:

    tenho certeza pela a experiencia que tenho o uso indicriminado do caroço de algudao deixa gosto na carne bovina

  3. Zhivago antonio de aguiar disse:

    A procura de produzir carne com custo menor tem forcado o produtor a procurar custo,pra que se equilibre os exageros deve haver um bonus para sabor da carne senao a batalha vai ser longa, prejudicando toda a cadeia produtiva e por consequencia industrias,com bonus eu mesmo ,ja tentei dialogar,queria ser produtor da melhor carne, com melhor sabor, isso tem custo extra,mas a remuneração nao chega .
    No final o que se discute e’ o que nao deve ser feito, e nao o que e melhor a fazer!!
    mais 10 anos de queda de braço ,produtor versus industria

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