No último comentário de 2000, quando fizemos alguns acontecimentos importantes da pecuária de corte, terminamos dizendo: “Finalmente, um fato muito importante que parece ter despertado o interesse dos consumidores durante esse último ano foi o relacionado à qualidade da carne bovina. Em alguns comentários abordamos esse assunto e achamos que o mesmo é de crucial importância para o futuro da cadeia da carne bovina no Brasil. Será que o sistema brasileiro de tipificação (classificação) de carcaça é capaz de diferenciá-las por qualidade da carne?”
Na pesquisa de opinião referente a esse assunto colocada no BeefPoint na mesma data do comentário, a grande maioria (66,7%) respondeu que o sistema de brasileiro de tipificação de carcaças deve ser totalmente modificado e o restante (33,3%) que ele precisa de pequenas modificações. Nenhuma resposta foi dada à alternativa que propunha a não necessidade de modificação.
Essa posição dos participantes dessa pesquisa de opinIão parece estar de acordo com a grande maioria dos que de fato participam e se interessam para a valorização da carne bovina perante os consumidores. Que resposta, nós da cadeia produtiva de carne bovina, poderíamos dar a uma simples pergunta de um consumidor sobre como se orientar para comprar carne bovina de qualidade (maciez, suculência, sabor) em nossas casas de carne. A resposta é muito difícil porque os cortes são resultantes de carcaças uniformes pelo sistema brasileiro de tipificação, mas muito desuniformes quanto à qualidade. As razões dessa desuniformidade são pelo menos duas: grande variação de idade (maturidade) dentro de um mesmo tipo de carcaça; exigência muito pequena para acabamento mínimo de gordura. Existem também mais dois aspectos que precisariam ser levados em consideração: um relacionado com o sistema de avaliação da maturidade pelos dentes, em virtude das diferenças entre taurinos e zebuínos nas idades de trocas da dentição de leite pela permanente; e o outro relacionado à possibilidade de machos inteiros de dentição de leite (zero dente) terem suas carcaças na mesma tipificação de novilhos ou novilhas. Um outro ponto é a ausência de um indicador de sabor e suculência no sistema brasileiro de tipificação.
Qualquer esforço em andamento nos programas de alianças mercadológicas e de lançamento de selos de qualidade ficam limitados por não haver um sistema de tipificação eficiente em termos de identificar carcaças por qualidade e rendimento de carne aceito em nível nacional por todos os componentes da cadeia. Na discussão e elaboração de uma revisão do sistema brasileiro de tipificação de carcaças, o atendimento do consumidor deve receber prioridade, deixando de lado interesses de grupos tanto relacionados com abate e comercialização como a determinadas raças.