A principal conclusão do relatório “Lidando com a mudança climática através da pecuária”, realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é: o setor pecuário é um importante emissor de gases do efeito estufa, e também tem grande potencial para redução de suas emissões.
Este relatório é um material completo sobre as emissões dos gases do efeito estufa (GEE), o qual apresenta uma avaliação detalhada da magnitude, fontes e vias de emissões de diferentes sistemas de produção e cadeias de fornecimento.
Assim sendo, com base na avaliação do ciclo de vida, análises estatísticas e construção de cenários, o relatório identifica opções concretas para a redução das emissões.
Outro fato interessante se deve ao fato de que o setor pecuário pode fazer uma importante contribuição a esses esforços internacionais compensando alguns dos aumentos das emissões do setor, que são esperadas à medida que a demanda por produtos pecuários deverá crescer em 70% até 2050.
Emissões importantes de GEE
É sabido que o setor pecuário tem um papel importante na mudança climática.
Estima-se que o setor emite 7,1 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2-eq) por ano, representando 14,5% de todas as emissões induzidas por humanos.
A produção de bovinos de corte e de leite é responsável pela maioria das emissões, respectivamente contribuindo com 41% e 19% das emissões do setor. A produção de carne suína e de frango/ovos contribuem, respectivamente, com 9% e 8% com as emissões do setor.
As principais fontes de emissões são: produção e processamento de alimentos animais (45% do total – com 9% atribuível à expansão de pastagens e cultivos agrícolas usados na alimentação animal nas áreas de florestas), fermentação entérica dos ruminantes (39%) e decomposição do esterco (10%). O restante é atribuível ao processamento e transporte de produtos de origem animal.
Reduções consideráveis ao alcance
As emissões do setor já podem ter caído significantemente por causa do uso mais amplo das melhores práticas e tecnologias. As tecnologias e práticas que contribuem para a redução das emissões já existem, mas podem ser usadas mais amplamente.
Uma redução de 30% nas emissões de GEE seria possível se os produtores em um dado sistema, região ou zona climática adotassem as tecnologias e práticas atualmente usadas por seus pares com menor emissão intensiva (emissões por unidade de produto animal).
Reduções substanciais nas emissões podem ser obtidas em todas as espécies, sistemas e regiões.
Eficiência é chave para a redução das emissões
Possíveis intervenções para reduzir as emissões são principalmente baseadas em tecnologias e práticas que melhoram a eficiência de produção a nível de animal e rebanho. Elas incluem melhores práticas de alimentação animal, manejo e gestão de saúde.
As práticas de manejo do esterco que garantem a recuperação e a reciclagem de nutrientes e energia contida no mesmo e as economias de energia e reciclagem ao longo das cadeias de fornecimento são mais opções de mitigação.
Mitigação para o desenvolvimento
A maioria das intervenções de mitigação pode fornecer co-benefícios ambientais e econômicos. Práticas eficientes e tecnologias que podem aumentar a produtividade e dessa forma, contribuir para a segurança alimentar e o alívio da pobreza.
Necessidade urgente de uma ação global e coletiva
Uma ação global envolvendo todos os membros do setor é uma necessidade, para projetar e implementar estratégias de mitigação custo-efetivo e equitativas, além de estabelecer as políticas de suporte necessárias e sistemas institucionais.
A adoção de novas práticas e tecnologias irá requerer um mix de políticas de suporte, incentivos, pesquisa e trabalho de extensão.
Vale destacar que este relatório é complementado por dois relatórios técnicos fornecendo uma análise mais profunda sobre as emissões dos setores (cadeias de fornecimento de suínos e frangos e de ruminantes).
Fonte: FAO, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
2 Comments
Vejo como solução de grande impacto a adoção de um mix de políticas de suporte envolvendo o setor público e privado, contudo quanto a fermentação entérica, não acredito ser preocupação, mas sim a devastação de florestas para a atividade da pecuária e o manejo inadequado do sistema de produção aliado aos outros fatores geradores de GEE.
Nessas estatísticas por certo foi considerado as afirmativas de Ângelo Paes de Camargo:
Toda floresta adulta, em clímax, apresenta sobre o solo uma camada de matéria orgânica oriunda da folhagem senescente que cai da copa das arvores e que apresenta na parte inferior em contato com o solo uma camada em decomposição. A floresta virgem, ao mesmo tempo em que produz oxigênio pela fotossíntese, produz também o gás carbônico, pela decomposição da matéria orgânica quando morrem. Assim, não alteram a oxigenação da atmosfera.
Devem ter levado em conta também que a pastagem em constante renovação fotossintética dos tecidos capta carbono e melhoram os atributos físicos, químicos e biológicos do solo.