Por Durante o século XX, a população mundial praticamente quadruplicou. Apesar de diversos fatores terem contribuído para esta expansão, durante a última geração ela não teria sido possível sem a evolução dos processos de produção de amônia.
O nitrogênio é necessário para a síntese de DNA e RNA (moléculas que armazenam e transmitem a informação genética) e proteínas, sendo que o homem, assim como outros animais superiores, não consegue sintetizar estas moléculas a partir do nitrogênio atmosférico e precisa adquirir compostos nitrogenados do alimento.
A participação do nitrogênio na composição do tecido vivo é pequena quando comparada ao carbono, hidrogênio e oxigênio. No entanto, enquanto estes três elementos podem ser facilmente adquiridos, através da água e alimentos, a partir de suas reservas naturais, o nitrogênio se mantém “preso” na atmosfera. Apenas uma pequena fração deste nutriente se encontra em uma forma prontamente absorvível por plantas e animais.
A relativa escassez do nitrogênio pode ser atribuída às suas características químicas. Átomos de nitrogênio pareados (N2) correspondem a 78% dos gases atmosféricos, mas este composto é muito estável para ser transformado de forma fácil em compostos químicos que possam ser absorvidos pelas plantas. A maior parte da fixação natural de nitrogênio (quebra de N2 e incorporação do nitrogênio em amônia) é feita por bactérias, principalmente do gênero Rhizobium.
A combinação de práticas como adubação orgânica (aplicação de adubos orgânicos como, por exemplo, esterco) e adubação verde (plantio e posterior incorporação de leguminosas), em princípio, fornece cerca de 200 a 250 kg/ha de proteína vegetal, o que impõe um limite teórico de 15 pessoas/ha de área cultivada em locais de solo bom e clima favorável. Na prática, no entanto, a densidade populacional em áreas que dependem exclusivamente de agricultura orgânica é ao redor de 6 pessoas/ha de terra cultivada. Esse limite é decorrente de fatores como: estresse ambiental e necessidade de se cultivar plantas que não são destinadas à produção de alimentos (ex: fibra) (Smil, 1997).
Figura 1: Número de habitantes por ha de terra cultivada em algumas regiões do mundo (o uso de fertilizantes nitrogenados no mundo aumentou a partir da década de 50). Adaptado de Smil (1997)
Dados do Censo 2000 (IBGE, 2001) mostram que o Brasil possui quase 170 milhões de habitantes distribuídos em seus 850 milhões de ha , sendo a densidade demográfica inferior a 1 habitante/ha, até mesmo nas áreas mais populosas. A Tabela 1 mostra a utilização da terra nos estabelecimentos agrícolas brasileiros.
Tabela 1: Utilização da terra nos estabelecimentos agrícolas brasileiros em 1995/1996
A partir da Tabela 1, é possível observar que no Brasil há menos de 5 pessoas/ha de terra cultivada. De acordo com essas informações, o país seria capaz de produzir alimentos em quantidade suficiente para atender sua demanda, mesmo sem o uso de fertilizantes nitrogenados.
No entanto, é preciso lembrar que a maior parte da população (acima de 80%) está concentrada em áreas urbanas, que nem toda a área disponível vem sendo cultivada e que algumas áreas se encontram em regiões de clima muito desfavorável (semi-árido).
Desta forma, apesar da densidade populacional no Brasil ser baixa, o uso de fertilizantes nitrogenados ainda é uma ferramenta importante para que o país consiga atender a demanda por alimentos de sua população.
A adubação nitrogenada feita de forma indiscriminada, por outro lado, pode trazer sérios prejuízos ao ambiente e à saúde humana. Além disso, apesar da tendência mundial de se buscar técnicas mais “naturais” de produção, as informações precisam ser avaliadas com mais critério. Os adubos orgânicos, de forma geral, são desbalanceados em sua composição e a sua aplicação, quando mal orientada, também pode ser prejudicial ao meio. Diversas áreas dos Estados Unidos e Europa, por exemplo, têm apresentado problemas de contaminação do lençol freático devido à aplicação excessiva de esterco.
Nos próximos artigos desta série, serão discutidas as conseqüências de uma fertilização nitrogenada mal orientada e algumas alternativas para evitá-la.
1 Colaborou
Patricia Menezes Santos, Engenheira Agrônoma, doutoranda em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP