O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que se o Canadá não retificar sua posição em relação à carne brasileira, o país vai “engrossar”, segundo informa reportagem de Luís Nassif, publicada hoje na Folha de São Paulo. O presidente, de posse das informações recebidas, foi taxativo, dizendo que a posição do Canadá foi arbitrária.
Segundo FHC, em 1998 foi preparado um relatório minucioso sobre o tema. A última importação brasileira de animais da Europa foi em 1996, quando ainda não havia a síndrome da vaca louca. Todos os animais foram acompanhados por especialistas da União Européia, e não se detectou nenhum caso suspeito.
FHC afirma que um dos fatores que motivou essa atitude canadense é a tentativa dos países centrais de manter o comando das ações internacionais, ou seja, ele não querem abrir espaço para o Brasil, que começa a incomodar com seu crescimento.
FHC não endossa a afirmação de Pratini -anunciada logo após o encontro que teve com ele- de que a união com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) está comprometida. Diz que a frase é de seu ministro, não sua. Mas não demonstra contrariedade com o que foi dito.
O segundo motivo para essa escalada do Canadá é o próprio mercado de carne mundial. O Brasil é bastante competitivo nesse setor, explica FHC, e o Canadá vê com temores o seu crescimento no mercado internacional, especialmente após a erradicação da aftosa. Esses dois episódios explicam o fato de o Canadá praticamente declarar guerra ao Brasil em um momento no qual seu parceiro, os Estados Unidos, lutam para a consolidação da Alca.
Segundo FHC, é cedo para qualquer decisão em relação a sua participação no Encontro das Américas, em Québec, em abril. Muita água vai rolar até lá, diz ele. E tudo irá depender da atitude que o Canadá vier a adotar nos próximos 15 dias.
Por Luís Nassif, para Folha de São Paulo, 09/02/01