O cenário de incerteza da pecuária bovina, o aumento dos riscos e a falta de liquidez do mercado futuro levaram os grandes frigoríficos a suspenderem as compras de boi a termo.
Segundo Fabiano Tito Rosa, gerente de compra de gado da Minerva Foods, diante da baixa liquidez e da queda no número de contratos de boi gordo negociados na BM&FBovespa, as companhias têm mais dificuldade de buscar no mercado futuro a proteção para os negócios feitos no mercado a termo.
“Quando a gente fazia o termo, 100% do risco era do frigorífico. Diante do mercado atual, com a ameaça ao fluxo de caixa das chamadas de ajuste, não vale a pena. Este ano, ou uma parte deste ano, não vamos fazer (compras a termo). Mas, sim, no ano próximo, posso reavaliar.”
A Minerva Foods, segundo ele, oferece outras opções ao pecuarista, entre elas as compras no balcão, e ainda está montando operações de “barter” que são as trocas de insumos para a pecuária pelo correspondente em arrobas de animais a serem abatidos no futuro.
Leandro Bovo, sócio da Radar Investimentos, ratifica a posição de Tito Rosa e lembra que o número de contratos abertos na BM&FBovespa para o boi gordo chegou a 70 mil no passado e hoje está em 10 mil, o que mostra a baixa liquidez no mercado futuro.
“Companhia precisava travar na bolsa para negociar com o pecuarista, o que está difícil. Para o pecuarista, uma saída são os contratos de opção de venda, os quais, na prática, ele compra um seguro para poder vender a arroba por um preço mínimo no mercado futuro ou negociar por um valor maior no mercado físico.”
Segundo Fabio Dias, diretor de relacionamento com o pecuarista da divisão de carnes da JBS, seria uma irresponsabilidade a companhia fazer operações a termo sem poder se proteger na bolsa. Segundo ele, a JBS já tinha uma parcela baixa de aquisição de bovinos a termo desde o ano passado, com 20% de toda a compra feita por esse tipo de operação.
Já Mauricio Manduca, gerente da mesa de negócios da Marfrig Global Foods, diz que a companhia até tentou operar negócios a termo no começo de março, mas pecuaristas rejeitaram as ofertas feitas para a venda em maio e outubro. Segundo ele, antes da Operação Carne Fraca, o contrato futuro de maio apontava uma arroba do boi entre R$ 143 a R$ 145 e a empresa oferecia R$ 141 para venda a termo, por exemplo. “Para outubro a oferta era de R$ 145 a arroba, um ótimo negócio hoje (com a queda dos preços), mas ninguém fez.”
Certificação
Já a paralisação da certificação de raças foi por conta dos impactos da crise econômica na demanda por proteína animal, de acordo com Manduca. “A gente vive um cenário em que o impacto da crise chegou ao setor produtivo e ao consumidor. Estamos ajustando produção frente à necessidade real, um ajuste normal de mercado”, disse.
Manduca explicou ainda que, apesar de a companhia pagar uma premiação por todo animal certificado de uma determinada raça no passado, “infelizmente tínhamos inúmeros cortes de qualidade sem valorização no mercado, o que comprometia a rentabilidade”.
Fabio Dias afirmou que a certificação custa caro aos frigoríficos e é preciso demanda para mantê-la. “Há um problema de colocação de grandes volumes de carne de alta qualidade, apesar do crescimento na demanda/
Já Tito Rosa considera que frigoríficos têm de se ajustar às condições do mercado. “Certificar tem custo, pois é preciso que o frigorífico coloque um técnico para avaliar a qualidade do processo. Se mudarem as condições de mercado, mudará estratégia.”
Fonte: Estadão, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.