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Gastroenterite verminotica em bovinos (parte II)

O diagnóstico das gastroenterites verminóticas é baseado nos sintomas clínicos e na presença de ovos nas fezes, observados através da contagem de ovos (OPG), ou através da coprocultura. Existem quatro principais categorias de tratamentos com anti-helmínticos: tratamento preventivo extensivo, tratamento tático, tratamento curativo, tratamentos estratégicos.

Diagnóstico

O diagnóstico das gastroenterites verminóticas é baseado nos sintomas clínicos e na presença de ovos nas fezes, observados através da contagem de ovos (OPG), ou através da coprocultura.

Tratamento

Existem quatro principais categorias de tratamentos com anti-helmínticos:

Tratamento preventivo extensivo

Neste caso, o princípio ativo é fornecido aos animais durante períodos mais ou menos longos e contínuos, isto é, durante dias ou meses. Exemplos: a aplicação de produtos de atuação prolongada ou a implantação de engenhos que permitam uma liberação lenta e prolongada em forma de bolos. A finalidade desta tecnologia é evitar a necessidade de juntar os animais diversas vezes durante o período identificado como sendo de maior transmissão de infecções.

Deve-se ressaltar que o princípio ativo não elimina 100% das formas infectantes e, isto pode acarretar no perigo da seleção de cepas resistentes. A presença de resíduos dos princípios ativos nos tecidos em se tratando de gado de corte ou leite também é importante e deve ser lembrada ao optar-se por esta forma de tratamento.

Tratamento curativo (tratamento de emergência, tratamento de salvamento)

Nesta categoria são incluídas as aplicações de anti-helmínticos em animais clinicamente doentes (observadas perdas econômicas no hospedeiro). Embora comum, o uso de anti-helmíntico neste caso é economicamente o mais desfavorável em termos de custo/benefício entre as quatro categorias aqui descritas, especialmente quando aplicado somente nos animais “mais doentes”.

Tratamento tático

Esta categoria de tratamento implica no conhecimento dos ciclos dos parasitas e dos fatores responsáveis pelo desencadeamento do processo de translação. Isto é, para a aplicação de tratamento tático precisa-se do conhecimento epidemiológico das infecções. Quando há modificações no ambiente dos animais como: chuvas pesadas com temperaturas elevadas numa época normalmente seca; introdução de animais de outra área ou em pastagem recém-formada, queima de pastagem etc., é importante aplicar um tratamento tático para se evitar que aumente a contaminação do ambiente. Estes tratamentos, junto com os de esquemas estratégicos, fazem parte de um programa flexível.

Tratamentos estratégicos

Um programa quando adaptado à dinâmica usual de translação e cuja finalidade é a de interromper este processo nas condições locais, é chamado “estratégico”, o conhecimento epidemiológico permite a identificação de épocas críticas para os tratamentos. Um programa estratégico é um conceito estatístico baseado na probabilidade da ocorrência de certos eventos epidemiológicos em certas épocas do ano, nas condições usuais da região.

Alguns fatores que limitam a utilização do esquema estratégico de controle da verminose em uma determinada região foram analisados por Bianchin & Melo (1985) e Honer & Bianchin (1987).

• Modificações climáticas que ocorrem periodicamente, grandes variações climáticas podem ocorrer de ano para ano, modificando a dinâmica de população de larvas infectantes nas pastagens e, em conseqüência, as cargas de helmintos nos animais. Nestes casos, há necessidade de se utilizar medicações anti-helmínticas adequadas, adicionais àquelas previstas no esquema estratégico. Em alguns países já funciona um serviço de previsão de surtos de algumas helmintoses, de acordo com as variações de temperatura e precipitação, e tem por objetivo alertar os criadores e os técnicos de campo sobre a ocorrência de surtos potenciais em determinados anos.

• Necessidade de conciliar com o manejo geral da propriedade, o esquema estratégico de controle não pode depender de outras atividades de manejo da propriedade, como por exemplo, a vacinação anti-aftosa, porque as épocas estratégicas de aplicação de anti-helmínticos devem ser estabelecidas “a priori” pelos resultados da pesquisa.

• Efeitos a médio prazo, o controle estratégico da helmintose é essencialmente preventivo. Ele visa principalmente à redução dos níveis de contaminação das pastagens para se evitar, com isto, que os animais adquiram altas cargas de helmintos que venham comprometer a produtividade do rebanho. Sendo assim, os efeitos positivos do controle estratégico só podem ser visualizados depois de um certo tempo após a sua aplicação, em torno de dois a quatro anos.

Ao contrário dos esquemas tradicionais essencialmente curativos utilizados pelos criadores, o esquema estratégico de controle deve ser repetido anualmente, nas épocas, idades e categorias previamente determinadas. Para contornar esta possibilidade de falhas locais, falamos de um programa “estratégico flexível” onde, além dos tratamentos predeterminados estrategicamente, poderiam ser incluídos um ou mais tratamentos táticos adicionais, quando houver necessidade.

Gráfico 1. Os quatro tipos principais de esquemas de tratamento com anti-helmínticos. A eficiência de cada tipo é relacionada à carga de helmintos presente e à razão custo/benefício


Fonte: Honer & Bianchin (1987)

Controle

O controle das helmintoses gastrintestinais é feito, quebrando-se um elo da cadeia do ciclo biológico, ou seja, combatendo os estádios evolutivos no ambiente ou no hospedeiro. Somente a interação do combate nas duas fases é que trará resultados plenamente satisfatórios.

Controle dos estádios de vida livre

Existem os controladores naturais de populações de parasitos de vida livre, que, embora não atinjam parcelas tão significativas no controle de parasitos, são objetos de estudos para futuros métodos auxiliares de controle. Dentre eles, os mais importantes são os fungos predadores ou parasitas de larvas, e os coleópteros, que participam do processo de degradação do bolo fecal, cavando túneis nos bolos fecais, dessecando o seu interior, e enterrando-o posteriormente. Estes podem ser utilizados como controle biológico das helmintoses.

Algumas práticas relacionadas ao manejo também podem ser utilizadas para diminuir a contaminação dos animais como:
• rotação de pastagens, que apesar da grande resistência das larvas infectantes às variações ambientais, a maioria dos estádios evolutivos é destruída pela ação direta dos raios solares. Essa prática é utilizada em poucas propriedades e nem sempre alcança resultados satisfatórios;
• manutenção de pastos limpos, também aumenta a incidência de raios solares, prejudicando as migrações das L3 e a rotação de pastagens com espécies animais diferentes, têm um efeito significativo sobre as populações de vida livre;
• alternância de pastejo com outras espécies de animais ou com culturas sazonais, havendo uma divisão por faixa etária auxilia bastante no controle, a localização de piquetes para bezerros deve ser acima dos currais ou dos animais adultos em criação intensiva ou mista;
• as áreas em volta de cochos e bebedouros devem ser calçadas ou cascalhadas para evitar manutenção de ovos. Proceder a construção de esterqueiras para um bom manejo das fezes, assim como levar em consideração as condições da região para determinar um bom manejo dos animais e finalmente, os animais devem estar sempre bem nutridos, elevando assim o seu grau de imunidade contra esses parasitos.

Controle dos estádios parasitários

O controle é feito através da aplicação de anti-helmínticos. O tipo de anti-helmíntico, assim como a dose utilizada e o espectro de ação, influencia diretamente no sucesso do tratamento. Na maioria das vezes, a ação do anti-helmíntico é avaliada exclusivamente sobre as formas adultas dos parasitos que são mais sensíveis às drogas do que as formas imaturas. O que realmente deve ser avaliado é a sua ação sobre os estádios evolutivos no hospedeiro.

A administração do vermífugo é de grande relevância, já que em algumas circunstâncias como a utilização de cochos coletivos para administração de anti-helmínticos, os animais são submetidos ao fator hierárquico, onde aqueles animais mais lesados, e que são justamente os que precisam mais do tratamento anti-helmíntico, podem não ingerir quantidades necessárias de medicamento.

A dose utilizada também é importante, pois subdoses podem agir somente sobre estádios adultos ou em determinadas espécies de parasitos, além da possibilidade dessas subdoses selecionarem espécies parasitárias ou cepas resistentes a medicação.

Esse aspecto da resistência tem sido bastante discutido no meio veterinário, a medida que a indústria farmacêutica investe no campo. No entanto, sempre é concluído que o melhor controle que pode ser feito segundo Bianchin (1987), de forma que se evite o surgimento de surtos gastroentéricos causados por verminoses é através do tratamento estratégico de acordo com as condições regionais, associado ao manejo adequado de um rebanho.

Referências bibliográficas:

BIANCHIN, I.; MELO, H.J.H. Epidemiologia e controle de helmintos gastrintestinais em bovinos de corte nos cerrados. 2.ed. Campo Grande : EMBRAPA-CNPGC, 1985. 60p. (EMBRAPA-CNPGC. Circular Técnica, 16).

BIANCHIN, I.; HONER, M.R.; CURVO, J.B.E. Produção de ovos de nematódeos gastrintestinais em vacas Nelore, durante o período periparto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.22, n.11/12, p.1239-1243, 1987.

HONER, M.R.; BIANCHIN, I. Considerações básicas para um programa de controle estratégico da verminose bovina em gado de corte no Brasil. Campo Grande : EMBRAPA- CNPGC, 1987. 53p. (EMBRAPA-CNPGC. Circular Técnica, 20).

0 Comments

  1. Horácio Lemos Albertini disse:

    Excelente artigo. Ainda vemos uma grande resistência da maioria dos criadores em adotar, por exemplo, o controle estratégico. Como diz o matuto : “é a tar da economia que, no final, sai caro”.

  2. heloisa lourenço zucatelli disse:

    Excelente. Vemos ainda que os produtores esquecem que o tratamento do ambiente também tem que ser feito, se não combater as fases amiente x hospedeiro o controle ficará mais dificil.

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