Em tempos de crise energética no Brasil, o meio rural atingiu a marca de 1 gigawatt de potência instalada em geração distribuída, aquela em que se produz a própria energia – e que pode ser “vendida”, por meio de créditos na conta de luz, ao sistema nacional, caso exista excedente.
Além de diminuir em cerca de 95% os custos com eletricidade na atividade rural, essa potência instalada seria suficiente para abastecer cerca de 1,5 milhão de habitantes, de acordo com a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD).
“Estamos em um momento de alto custo da energia, e quanto mais sobe fica mais atrativo para investir. A própria falta de chuva também afetou a produção, então é necessário buscar novas maneiras para baixar os custos”, afirma Carlos Evangelista, presidente da ABGD.
A associação aponta que a adoção de geração distribuída está em ritmo acelerado no país e que o agronegócio tem aumentado sua participação nesse mercado, que está em 14% do total de 7,15 gigawatts.
Estímulos como financiamentos com baixa taxa de juros e uma área ampla para a instalação de painéis ou outras usinas, como de biogás e biomassa, fazem a ABGD estimar que a capacidade instalada do setor alcance 2,5 gigawatts em 2022, o suficiente para atender 3,75 milhões de habitantes. Isso significa que o setor poderá ofertar ou evitar o uso de algo próximo a 50 megawatts por mês – ou uma nova cidade de 75 mil habitantes a cada 30 dias.
Afora o alto custo, outro fator que contribui pela alta procura por geração própria é que está em discussão no Senado um marco legal para o setor (PL 5.829/2019) que propõe, entre outras questões, que novas conexões ao sistema elétrico passem a pagar uma taxa pelo uso da infraestrutura, algo que não é cobrado hoje. Quem optar pela geração própria, manterá a gratuidade por mais de 20 anos, segundo o texto em debate.
Apesar de não necessariamente enviar toda essa produção energética à rede, o setor indica que pelo menos isso deixa de ser gasto no já sobrecarregado sistema elétrico. “O meio rural está engajado na adoção, especialmente para mitigar a alta causada pela crise hídrica. Além da economia, há sim uma injeção de energia na rede”, diz Evangelista.
Entre as mais de 64,5 mil micro e mini usinas instaladas no campo para produção própria de energia, mais de 95% são de painéis fotovoltaicos. As outras fontes são hídrica (com quedas d’água na área das propriedades), biomassa e eólica.
Em todo o Brasil, são mais de 780 mil unidades de geração distribuída, espalhadas em 5.368 municípios. Minas Gerais lidera.
Fonte: Valor Econômico.