A Olimpíada do Rio é um belo exemplo de livre acesso de atletas e torcedores do mundo inteiro, que se reúnem em um país, integrando-se para competir no mesmo campo esportivo, sob as mesmas regras. Infelizmente em outros campos nem sempre há livre acesso, regras comuns e competição.
Um dos exemplos mais notáveis é o comércio exterior: tarifas, subsídios domésticos e toda sorte de barreiras não tarifárias (técnicas, sanitárias, burocráticas etc.) dificultam o acesso aos mercados, impedindo a competição leal e prejudicando milhões de consumidores. Além das barreiras comerciais mais visíveis, o acesso aos mercados é também impactado por percepções de clientes e consumidores que têm gerado dificuldades e barreiras de “imagem”.
Acesso aos mercados é a capacidade de cruzar fronteiras, entrar no mercado e lutar de forma justa pela preferência do consumidor. No caso do agronegócio, esse é seguramente o tema mais complexo e desafiador do setor, que, se bem conduzido, pode produzir resultados expressivos em comércio e investimentos.
Produtos agrícolas como soja, milho, café verde, celulose e algodão circulam com bastante facilidade pelo mundo. Porém produtos mais processados como óleo de soja, açúcar, etanol, carnes, laticínios, papel e café solúvel enfrentam maiores barreiras. Além disso, a falta de comunicação adequada sobre a realidade gera percepções de imagem distorcidas e equivocadas sobre quase todos os produtos exportados, principalmente nos temas ambiental (desmatamento, biodiversidade, emissões de carbono) e social (condições de trabalho, questões indígenas).
Não há dúvida de que o tema acesso a mercados depende, em primeira instância, da fluidez e da qualidade do diálogo entre os governos envolvidos. O dia a dia do “acesso” passa pela assinatura de acordos de equivalência sanitária, preenchimento de questionários, trâmite ágil de documentos, missões de inspeção de plantas produtivas, visitas de ministros e autoridades, listas de pedidos e troca de concessões de parte a parte. Eventualmente o acesso passa, também, por negociações mais amplas e formais, em nível bilateral, regional ou multilateral.
Mas a experiência de vários países mostra que o sucesso das ações depende, também, da presença e do comprometimento do setor privado no processo. Afinal, são as empresas, e não os governos, que realizam o comércio e os investimentos.
Ações de suporte ao tema comumente praticadas por empresas e entidades do setor privado são o mapeamento e o engajamento de stakeholders locais (clientes, associações, mídia, academia, formadores de opinião, ONGs e outros), o entendimento do ambiente regulatório e de políticas públicas do país destino, a montagem de coalizões com grupos locais que tenham visões confluentes e a defesa formal de interesses via ações de lobby nos países em que a atividade é regulamentada.
O trabalho de relações públicas e governamentais oferece um amplo menu de opções, que precisa ser estudado e adaptado a cada realidade institucional. Tais atividades são executadas pelo setor privado, e não pelo governo, e há muitos exemplos de sucesso no mundo, seja na conquista do acesso aos mercados, seja na melhoria da imagem do país e de suas empresas e produtos.
Um amplo esforço de cooperação entre o governo (Mapa, MRE e Apex) e uma dezena de entidades privadas do agronegócio começa a ser desenhado neste momento. Um esforço que chega em ótima hora, num país que precisa desesperadamente se organizar melhor para recuperar o tempo perdido.
Por Marcos Sawaya Jank, especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo (edição de 06/08/16).