Que tal um hambúrguer sem carne, mas com o mesmo sabor da carne, menos gordura e calorias, e mais proteína e fibras? Essa é a proposta da Typcal, spin-off da startup Fungi Biotecnologia, que tem sedes em Curitiba e Ponta Grossa, no Paraná. A foodtech paranaense desenvolveu uma proteína concentrada no micélio, que é a parte vegetativa de fungos e cogumelos.
A ideia surgiu em 2021, quando o engenheiro de bioprocessos Eduardo Sydney e o empreendedor Paulo Ibri se uniram para criar um alimento alto em proteínas e fibras, e baixo em gordura e calorias. Diretor de Tecnologia da startup, Sidney explica que uma das maiores dificuldades de alimentos à base de plantas, como soja e ervilha, é o sabor.
“A vantagem do micélio é que ele não tem sabor, então quando você o adiciona como ingrediente, ele não afeta o gosto do produto. Nossa expectativa é escalar a produção e ver os primeiros produtos no mercado já em 2025”, afirma o engenheiro.
O ingrediente é produzido a partir de um processo de fermentação líquida semelhante ao utilizado na produção de cervejas e etanol. O produto final sólido, conforme a startup, tem características como textura e aparência similares a um frango desfiado, sabor neutro, além de benefícios à saúde. Dessa maneira, ele pode ser usado no mercado vegano e vegetariano como um substituto de frango.
Outro foco da empresa é inserir o produto no mercado de comidas saudáveis, misturando a proteína do micélio com a proteína animal. Segundo Sydney, um hambúrguer híbrido contém 50% menos gordura e calorias, e maior quantidade de fibras, melhorando o perfil nutricional. Outra possibilidade é usar o ingrediente no mercado de nutrição esportiva para aumentar o valor nutricional de alimentos, como barrinhas de proteína, shakes e snacks.
Atualmente, a empresa está em fase de escala piloto e de interação com a indústria, fechando os primeiros acordos comerciais para levar o produto para o mercado no próximo ano. A startup foi umas das 68 selecionadas no primeiro edital do Paraná Anjo Inovador, programa desenvolvido pelo Governo do Paraná, e recebeu R$ 250 mil de incentivo, por meio da Secretaria da Inovação, Modernização e Transformação Digital.
Sydney explica que o aporte do Paraná Anjo Inovador é importante por causa da dificuldade de encontrar investidores no mercado na fase atual da startup. “O investidor está focado na venda e geração de receita e não em desenvolver a tecnologia, que é uma área de risco, mas essencial para qualquer negócio, especialmente em biotecnologia.
A Fungi atua com dois processos de fermentação: sólida e líquida. Em ambas são utilizados resíduos vegetais e subprodutos que sobram da agroindústria como palha, bagaço e folhas, para cultivar o fungo. Na produção dos alimentos da Typcal, a empresa usa o processo de fermentação líquida em que o fungo é adicionado em um meio líquido e ali ele se desenvolve dentro de um biorreator.”, avalia.
A empresa também ressalta que essa técnica é pioneira na América Latina, sendo o processo fermentativo mais rápido do mundo quando comparado com outras startups que usam a mesma tecnologia. A média de tempo de fermentação de outras empresas é de 48 horas a 72 horas.
A Typcal afirma que consegue realizar o mesmo processo em 24 horas, além de utilizar um fungo que tem histórico de consumo humano, o que facilita questões regulatórias para lançar o produto no mercado. Na escala atual, a fábrica-piloto consegue produzir até 100 quilos do micélio fresco por mês.
Segundo Sydney, no Brasil é necessário comprovar que a população já consome aquela espécie de fungo há mais de 25 anos e, sem esse histórico, seria preciso entrar com um novo ingrediente e passar por todas as etapas de regulação.
A tecnologia desenvolvida pela Typcal também se destaca por ter uma produtividade 7 mil vezes maior e consumir 99% menos água que a de produção de carne bovina. Outro ponto destacado pela startup é a redução de impactos ambientais e o alinhamento sustentável, uma vez que a empresa usa uma matéria-prima abundante e de baixo custo, os subprodutos da agroindústria que não são aproveitados pela indústria. A empresa também salienta que a produção acontece em escala vertical, utilizando menos espaço que uma fazenda de gado, por exemplo, que usa escala horizontal.
Fonte: Globo Rural.