Produtores brasileiros que adotam o sistema integrado de produção lavourapecuária-floresta (iLPF), uma das principais técnicas do Plano de Agricultura para Baixa Emissão de Carbono (ABC), passarão a contar com um novo fundo de financiamento a partir de hoje, com US$ 68 milhões para aplicação em 2021 e potencial de chegar a US$ 1,4 bilhão até 2026.
Por meio de uma plataforma com tecnologia nacional, as fazendas que acessarem os recursos serão monitoradas 24 horas por dia e os proprietários poderão ser premiados com juros menores e dinheiro na conta conforme melhorarem os resultados dos indicadores socioambientais.
O SAFF (Sustainable Agriculture Finance Facility) é o primeiro fundo de finanças climáticas desenvolvido para o agronegócio brasileiro e pretende atingir produtores de todos os tamanhos. Trata-se de uma parceria público-privada apresentada pela Rede iLPF ao Global Innovation Lab for Climate Finance (Lab), um programa de aceleração de investimentos em sustentabilidade gerenciado pelo Climate Policy Initiative e que reúne mais de 60 investidores estrangeiros, a maioria da Europa.
O primeiro critério para acessar o fundo será a certificação das propriedades por meio do TrustScore, plataforma desenvolvida pela empresa Ceptis Agro para medir a sustentabilidade das fazendas produtoras. São 124 indicadores econômicos, sociais e ambientais avaliados por meio de monitoramento por satélite, cruzamento de dados e autodeclaração. O fundo vai bancar o processo e a assistência técnica, sem custos aos produtores.
Quem tem ao menos 5% de iLPF na propriedade pode se candidatar para pegar o financiamento. Cooperativas e revendas de insumos serão cadastradas para atuar junto aos produtores. No primeiro ano, a meta é alcançar 90 mil hectares em fazendas do Paraná, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A implementação pode mitigar a emissão de 2,5 milhões de toneladas de gás carbônico em dez anos.
Hoje, a ILPF é usada em 17 milhões de hectares em todo o país, e a meta é alcançar 30 milhões. “Há uma dificuldade inicial para o produtor conhecer a tecnologia de fato. Só depois disso que ele vai pensar em acessar o crédito. Com o SAFF, a assistência técnica já vem acoplada ao crédito, o que facilita muito o processo”, diz o presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF, Renato Rodrigues.
Serão cinco linhas de financiamento: custeio, aquisição de animais vivos, aquisição de maquinário agrícola, correção de solo e manejo florestal. Os juros acompanham as taxas do Plano Safra, como o Programa ABC e o Moderfrota, e variam de 4,5% a 9,1%, mas sem custos adicionais.
Quanto maior o índice de sustentabilidade no TrustScore, menores serão os juros e melhores as condições do empréstimo. A nota varia de 0 a 100 e será atualizada a cada 15 dias. “Se a nota for 100, pode reduzir em 2 pontos percentuais os juros no final do processo. O rebate será feito com dinheiro direto na conta e o produtor pode gastar no que quiser”, conta José Pugas, sócio da Ceptis Agro, sobre o modelo de cashback. “Queremos criar o conceito de meritocracia rural. Quem está além da lei deve ser premiado. Precisamos sinalizar ao produtor que ser sustentável não é só bom, mas também é lucrativo”.
O fundo pretende desembolsar US$ 68 milhões em 2021, US$ 300 em 2022 até chegar a US$ 1,4 bilhão em 2026, valor maior que o Fundo Amazônia. O SAFF é abastecido com recursos de doações filantrópicas, sem remuneração, e aplicações verdes de bancos estrangeiros, entidades internacionais e fundos soberanos.
O rendimento das aplicações varia de 5,5% a 12,2% ao ano, conforme o nível dos investidores e a performance do fundo. Empresas que investirem no SAFF poderão optar pela remuneração com crédito de carbono, que será emitido em breve pelos produtores.
As informações são do Valor Econômico.