A pecuária de corte nacional tem sofrido uma grande queda no seu percentual de lucratividade nos últimos dez anos. Isso se deve ao aumento de custo dos insumos e uma estabilização no valor da arroba. Dentro desse contexto os produtores precisam organizar seu sistema de produção, diminuindo os custos de produção e ou aumentando a eficiência de produção através da aplicação de tecnologias no sistema de produção.
Houve uma grande mudança no enfoque da pesquisa científica no ramo da nutrição animal, passando do estudo do valor nutritivo dos alimentos para o estudo dos processos fisiológicos e como esses são afetados por diversos fatores.
Os aditivos alimentares aparecem como boa ferramenta para ser utilizada no aumento da eficiência de produção. Os ionóforos são moléculas de baixo peso molecular e, os primeiros foram inicialmente utilizados na produção animal como agentes coccidiostáticos, destacando-se a monensina e a lasalocida. Apesar da monensina ser utilizada como modelo nos estudos do modo de ação desses compostos, quando comparada com a lasalocida, apresenta algumas diferenças, como menor palatabilidade e maior toxidez. É interessante notar que a menor palatabilidade pode ser utilizada como uma vantagem estratégica, uma vez que permite melhor controle da ingestão, não sendo, desta forma, uma desvantagem deste princípio ativo. A menor palatabilidade da monensina também reduz os riscos de intoxicação por excesso de ingestão, constituindo-se novamente em aspecto favorável ao uso do aditivo.
Atualmente, existem em torno de 76 produtos conhecidos como ionóforos. Apresentam uma estrutura poliéter convencional , com alguma alteração na composição química e na extensão da atividade biológica. A eficácia de utilização do ionóforo vai depender da qualidade da forragem disponível, do sexo e status fisiológico do animal suplementado. Os efeitos dos ionóforos sobre a ingestão de alimentos, digestibilidade, degradabilidade, parâmetros de fermentação do rúmen e desempenho animal têm sido bastante variáveis, provavelmente devido às diferentes condições experimentais.
Modo de ação dos íonóforos
O modo de ação dos ionóforos pode ser dividido em dois tipos: básico e sistêmico. O modo de ação básico é caracterizado pela interferência dos ionóforos em nível de membrana celular dos microorganismos presentes no rúmen, enquanto o sistêmico está ligado à resposta dos animais à modificação do metabolismo das bactérias presentes no rúmen. (SHELLING, 1984)
Tipo Básico
O modo básico de ação dos ionóforos parece resultar da interferência no fluxo iônico normal através da membrana dos microorganismos e dissipação do gradiente de prótons e cátions (BERGEN E BATES, 1984). Como, esta interferência pode ser compensada com o uso de ATP, as células que possuem um sistema de transporte via ATP terão melhores condições de sobreviver.
As bactérias gram-positivas são as mais afetadas pela ação dos ionóforos, pois além de não possuírem a camada de peptidiglicanas (característica das gram-negativas) que as protegem contra agressores externos, elas produzem menos ATP por mol de glicose fermentada, já que realizam somente a fosforilação em nível de substrado. Sendo assim, acabam esgotadas energeticamente e tendem a desaparecer do meio.na presença de ionóforos.
Tipo Sistêmico
O tipo sistêmico de ação é composto de sete formas, resultantes da ação do tipo básico nos microorganismos do rúmen (SCHELLING, 1984).
1. no consumo de alimentos
2. na produção de gases
3. na digestibilidade e degradabilidade dos alimentos
4. na utilização de proteína
5. na modificação de produção dos ácidos graxos voláteis
Consumo de alimentos
Os ionóforos deprimem o consumo voluntário de alimentos, isso provavelmente devido a um maior tempo de retenção de matéria seca no rúmen. Segundo VAN SOEST (1983) a queda no consumo de matéria seca seria devido a um aumento na concentração de ácido propiônico na corrente sanguínea, estimulando o sentido da saciedade dos animais.
Segundo LANA ET AL., (1997) há uma correlação negativa entre a porcentagem de proteína na dieta e o consumo na presença de inonóforo. Assim pode-se concluir que em dietas com baixa quantidade de proteína pode não haver queda no consumo. Os resultados são muito contraditórios em relação a diminuição ou não do consumo em animais suplementados com ionóforos, porém de forma geral há uma queda no consumo de matéria seca dos animais com dietas adicionadas de ionóforos. Essa queda no consumo normalmente não afeta a produção devido ao aumenta da conversão alimentar.
Produção de gases
A produção de metano no rúmen devido à fermentação ruminal leva a uma perda de energia no processo digestivo, pois esse gás será eliminado por eructação e portanto diminuindo a quantidade de energia para produção.
A utilização de ionóforos pode levar a uma queda na produção de metano tornando o processo digestivo mais eficiente através da diminuição das perdas energéticas. Ao utilizar ionóforos, as bactérias gram-negativas irão predominar sobre as gram-positivas, que são as bactérias predominantemente produtoras de metano. Com isso há uma queda na produção de metano no processo fermentativo.
Digestibilidade e degradabilidade dos alimentos
A atuação dos ionóforos sobre a degradabilidade e digestibilidade dos alimentos pode sofrer ação de vários fatores, como: adaptação, dieta, estado fisiológico, idade, tempo de incubação, tipo de ionóforo, dose, etc.
Utilização da proteína
Com a adição de ionóforo na dieta, há uma melhora na utilixação na proteína da dieta, melhorando a conversão alimentar e a produção dos animais.
Produção de ácidos graxos voláteis
Os ionóforos atuam na produção de ácidos graxos voláteis, aumentando a produção de ácido propiônico, diminuindo a relação entre o ácido acético e o propiônico. Essa alteração na proporção molar dos ácidos graxos voláteis é considerada o principal efeito dos ionóforos nos ruminantes.
Conclusão
Os ionóforos são mais uma ferramenta a ser utilizada pelos produtores para aumentar a eficiência de produção dos rebanhos de corte brasileiros. A categoria animal, forma e maneira de suplementação dos ionóforos devem ser analisadas com bastante critério para que os resultados sejam otimizados.
Referências Bibliográficas:
BERGEN, W.G.; BATES, D.B. Ionophores: Their effect on production efficiency and mode of action. J. Anim. Sci. , v. 58, n. 6, p. 1465-1483, 1984.
LANA, R.P.; FOX, D.G.; RUSSEL, J.B.; PERRY, T.C. Influence of monensin on holstein steers fed high concentrate diets containing soybean meal or urea. J. Anim. Sci. , v. 75, p. 2571-2579, 1997.
SCHELING, G.T. Monensin mode of action in the rumen. J. Anim. Sci. , v. 58, n. 6, p. 1518-1527, 1984.
PEIXOTO, K.C. Efeitos de tempo de ação e níveis de lasalocida sódica sobre a digestibilidade de alimentos no rúmen, em bovinos. Pirassununga, 1998. 96p. Dissertação de mestrado – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
1 Comment
Bovinos de corte ,machos de 180 a 400 kg recriados somente a pasto ,podem estar recebendo em meio ao sal mineral ,por exemplo a monensina sódica ?
Observação : nossos pastos são de brachiarão com altura média de 30cm a 50 cm nos períodos secos e chuvosos