A startup JetBov, que criou uma plataforma de gestão de fazendas de pecuária bovina, pretende fazer, nos próximos meses, uma nova rodada de investimentos, na qual buscará recursos para sua expansão. Hoje, cerca de 2,5 mil fazendas, com 5 milhões de animais, estão cadastradas na plataforma da empresa. Além do Brasil, que concentra o maior volume de clientes, a agtech atua também em Angola, Bolívia, Moçambique e Paraguai.
O crescimento da JetBov – que, em 2021, pretende dobrar seu faturamento pelo terceiro ano seguido, segundo o CEO, Xisto Alves de Souza (a empresa não informou sua receita) -, ocorre na esteira do avanço da “Pecuária 4.0”, baseada no uso de tecnologia para captar e interpretar dados sobre a produção. De acordo com estudo do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), da Embrapa Gado de Corte, se o nível de gestão e tecnologia no segmento não mudar, mais da metade dos pecuaristas em atividade deixarão o campo até 2040 por falta de rentabilidade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,5 milhão de produtores rurais saíram da atividade entre 2006 e 2017 devido a problemas de rentabilidade e baixa retenção de jovens. O pecuarista Murilo Trindade, 32 anos, de Aquidauana (MS), quase entrou para a estatística do IBGE. A tradição, que começou com o tataravô, na época da fundação do município, tornou-se uma “poupança” pouco rentável, por conta do modelo de gestão. Tanto é que, aconselhado pelo próprio pai, Murilo decidiu mudar-se para São Paulo, em 2004, para estudar.
Porém, em meados de 2014, ele começou a perceber quanto dinheiro eles estavam perdendo. As três fazendas dos Trindade somavam 2,1 mil hectares, mas não davam lucro condizente. “Se a gente vendesse tudo e colocasse o dinheiro na poupança, o rendimento seria maior”, diz. Foi então que o produtor começou um movimento de transformação, que culminaria no abandono da profissão como engenheiro civil, em 2018, e no retorno ao pantanal sul-matogrossense.
Levando na bagagem todo o conhecimento em gestão de projetos e pessoas, Murilo criou uma empresa, a FitAgro, com cotas divididas entre ele, o irmão e os pais. “Começamos a fazer uma gestão empresarial, com fluxo de caixa. Integramos a família e mudamos a mentalidade”, afirma.
Em novembro de 2018, o pecuarista se tornou cliente da JetBov, que nasceu após o administrador de empresas Xisto Alves de Souza perceber a dificuldade que os pecuaristas de Lages (SC), região onde moravam parentes de sua esposa, tinham para coletar e analisar dados manualmente. Em 2016, após conversar com produtores de diversos pontos do país, ele lançou a solução.
Segundo Trindade, a plataforma vem agilizando o trabalho. Cada animal conta com um brinco que é lido por um bastão eletrônico e que se conecta à balança do curral. Basta um clique para que os dados sejam enviados, via nuvem, para serem visualizados pelo produtor, em um computador na sede da propriedade. A facilidade implica na possibilidade de tomar decisões quase que em tempo real.
Outra funcionalidade presente na plataforma é o controle de pastagens. Nela, o produtor pode desenhar o piquete, inserir informações e entender a capacidade produtiva, segundo o gerente de marketing da JetBov, Thiago Bernardon. Murilo Trindade afirma que isso é importante porque o capim precisa ser visto como uma cultura semelhante ao milho e à soja, que tem momento de crescer e ser colhida, para não perder o valor nutricional.
Em três anos, o novo modelo de gestão resultou em aumento de 50% no rebanho da família Trindade, que chegou a 1,5 mil bovinos, além de diversos investimentos na estrutura das fazendas.
Para que a Pecuária 4.0 seja implementada, produtores vão precisar de recursos. Por isso, a agtech anunciou recentemente parceria com a startup de crédito E-ctare, que fornecerá crédito com condições melhores para os clientes da JetBov que, além de usarem a plataforma na gestão da propriedade, adotarem as boas práticas recomendadas.
“Muitas vezes, o pecuarista quer aumentar a produção na mesma área, mas não tem capital para comprar gado. Então, esse modelo permite que produtores que estão mais maduros tenham uma linha de crédito competitiva”, frisa. “Ele transforma gado em ativo financiável, digitalmente vira uma Cédula de Produto Rural (CPR)”, explica.
Fonte: Valor Econômico.