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Joel Salatin: conheça o inovador fazendeiro que poderá ter um posto importante no USDA no governo Trump

Foto: https://www.thelunaticfarmer.com/

Joel Salatin, de 67 anos, se autodenomina um fazendeiro lunático capitalista ambientalista cristão libertário. Outros que gostam dele o chamam de o fazendeiro mais famoso do mundo, o sumo sacerdote do pasto e o pensador mais eclético da Virgínia desde Thomas Jefferson. Aqueles que não gostam dele o chamam de bioterrorista, Maria Tifoide, charlatão e defensor da fome.

Com uma sala cheia de troféus de debate dos tempos de colégio e faculdade, 15 livros publicados e uma próspera fazenda familiar multigeracional, ele recorre a uma vida de experiências com alimentos, agricultura e fantasia para entreter e inspirar plateias ao redor do mundo. Ele se sente tão confortável movendo o gado no pasto quanto discursando para CEOs em Wall Street.

Seus tópicos abrangem desde orientações práticas sobre agricultura regenerativa lucrativa até filosofia cultural, como ortodoxia versus heresia. Com uma habilidade única para as palavras e como comunicador, ele leva as plateias do riso às lágrimas, da frustração à esperança. Frequentemente aplaudido de pé, prefere a palavra “performance” a “apresentação” para descrever suas palestras. Sua atividade favorita? Perguntas e respostas. “Adoro a interação”, ele diz.

Ele é coproprietário, junto com sua família, da Polyface Farm em Swoope, Virgínia. Apresentada no best-seller do New York Times O Dilema do Onívoro e no documentário premiado Food Inc., a fazenda atende mais de 5.000 famílias, 50 restaurantes, 10 pontos de venda e um mercado de agricultores com carne de boi, porco, aves criadas a pasto e produtos florestais. Quando não está viajando para dar palestras, está em casa na fazenda, mantendo os calos nas mãos e a terra sob as unhas, orientando jovens, inspirando visitantes e promovendo sistemas alimentares locais e regenerativos.

Salatin é editor da The Stockman Grass Farmer, catalisadora do movimento de agricultura a pasto. Ele escreve a coluna mensal “Confessions of a Steward” (Confissões de um Zelador, em tradução livre) para a revista Plain Values, a coluna “Homestead Abundance” para a revista Homestead Living e três colunas mensais para a revista digital Manward. Ele também coapresenta o podcast BEYOND LABELS com a coautora do livro de mesmo nome, Dra. Sina McCullough.

Frequentemente convidado em programas de rádio e podcasts voltados para preparadores, moradores de sítios e entusiastas de alimentos, as soluções práticas e realizáveis de Salatin, combinadas com seus monólogos apaixonados pela sustentabilidade, oferecem a todos uma reflexão e planos para agir.

Misturando humor travesso com informações impactantes, Salatin entretém e move as pessoas. Raramente usa PowerPoint e muitas vezes fala a partir de um esboço rabiscado em um bloco de notas amarelo, dependendo de sua teatralidade, estilo e conteúdo envolvente para manter a atenção e defender posições inovadoras. Essa rara combinação de profeta e praticante faz dele uma leitura e presença obrigatórias em tempos que clamam por liderança íntegra e exemplar.

Sua fala e escrita refletem a experiência “com terra debaixo das unhas”, pontuada com humor irreverente. Ele defende apaixonadamente as pequenas fazendas, os sistemas alimentares locais e o direito de optar por sair do paradigma alimentar convencional. Quatro gerações de sua família atualmente vivem e trabalham na fazenda.

História

No ensino médio, Salatin iniciou seu próprio negócio vendendo coelhos, ovos, manteiga e frango da fazenda de sua família no Staunton Curb Market. Ele então frequentou a Bob Jones University, onde se formou em Inglês e foi um líder estudantil. Ele se formou em 1979. Salatin se casou com sua namorada de infância em 1980 e se tornou escritor de destaque no jornal The News Leader, em Staunton, Virgínia, onde havia trabalhado anteriormente digitando obituários e relatórios policiais.

Cansado de “ver suas histórias serem descartadas,” ele decidiu tentar a agricultura em tempo integral, após se envolver inicialmente em uma estação de compra de nozes administrada por dois garotos do ensino médio. O avô de Salatin era um jardineiro e apicultor entusiasta e seguidor de J. I. Rodale, o fundador da jardinagem orgânica regenerativa. O pai de Salatin trabalhava como contador e sua mãe ensinava educação física no ensino médio. Os pais de Salatin compraram a terra que se tornaria a Polyface após perderem uma fazenda na Venezuela devido a turbulências políticas. Eles criavam gado usando métodos orgânicos, mas não conseguiam sobreviver apenas com a agricultura.

Salatin produz carnes de alta qualidade “além do orgânico”, criadas de forma ambientalmente responsável, ecologicamente benéfica e sustentável. Jo Robinson, autora de Pasture Perfect: The Far-Reaching Benefits of Choosing Meat, Eggs and Dairy Products From Grass-Fed Animals (2004), disse sobre Salatin: “Ele não está voltando ao modelo antigo. Não há nada nos serviços de extensão rural ou na ciência agrícola tradicional que realmente o guie. Ele está simplesmente olhando de uma maneira totalmente nova para como maximizar a produção em um sistema integrado em uma fazenda holística. Ele é totalmente inovador.”

Salatin considera sua agricultura um ministério e condena o impacto negativo sobre seu sustento e estilo de vida do que considera uma abordagem cada vez mais regulatória adotada pelas agências do governo dos Estados Unidos em relação à agricultura.

Polyface Farm

Foto: https://www.thelunaticfarmer.com/

Em 1961, William e Lucille Salatin mudaram sua jovem família para o Vale de Shenandoah, na Virgínia, adquirindo a fazenda mais degradada, erodida e explorada da área próxima a Staunton. Usando a natureza como modelo, eles e seus filhos começaram o processo de recuperação e inovação que agora sustenta três gerações. Ignorando o conhecimento convencional, os Salatin plantaram árvores, construíram grandes pilhas de compostagem, cavaram açudes, moveram o gado diariamente com cercas elétricas portáteis e inventaram sistemas de abrigo móvel para criar todos os seus animais em policulturas perenes de pastagens.

Hoje, a fazenda representa, provavelmente, o principal oásis de produção de alimentos não-industrial dos Estados Unidos. Acreditando que o design do Criador ainda é o melhor modelo para o mundo biológico, a família Salatin convida pessoas com a mesma visão a se unirem à missão da fazenda: desenvolver empreendimentos agrícolas que promovam melhorias emocionais, econômicas e ambientais e facilitar a replicação desses modelos pelo mundo. Os Salatin continuam a aperfeiçoar seus métodos para levar as práticas agrícolas ecologicamente sustentáveis a novos níveis de excelência.

Seus principais produtos incluem:

  • Carne bovina produzida exclusivamente com pasto: conhecida como “salad bar beef“, proveniente de gado criado em pastagens naturais.
  • Carne suína de porcos criados em pasto e florestas: chamada de “pigaerator pork“, resultante de porcos que auxiliam na aeração do solo enquanto se alimentam.
  • Frangos e perus de corte criados em pasto: aves que crescem em ambientes ao ar livre, com acesso a pastagens frescas.
  • Ovos de galinhas poedeiras criadas em pasto: ovos de galinhas que têm liberdade para pastar, resultando em produtos de alta qualidade.
  • Produtos artesanais: incluindo alimentos artesanais e produtos florestais, como madeira serrada e lenha.

A fazenda também oferece pacotes em massa e opções de assinatura para seus clientes. Os produtos são comercializados diretamente aos consumidores por meio de vendas na fazenda, clubes de compras e mercados locais, além de fornecimento para restaurantes e pontos de venda na região.

Livros

Joel Salatin escreveu diversos livros que abordam temas como agricultura regenerativa, produção de alimentos e filosofia agrícola. A seguir, uma lista de seus principais livros em inglês:

  • “Salad Bar Beef” (1996)
  • “Pastured Poultry Profits” (1996)
  • “You Can Farm: The Entrepreneur’s Guide to Start & Succeed in a Farming Enterprise” (1998)
  • “Family Friendly Farming: A Multigenerational Home-Based Business Testament” (2001)
  • “Holy Cows and Hog Heaven: The Food Buyer’s Guide to Farm Friendly Food” (2005)
  • “Everything I Want To Do Is Illegal: War Stories From the Local Food Front” (2007)
  • “The Sheer Ecstasy of Being a Lunatic Farmer” (2010)
  • “Folks, This Ain’t Normal: A Farmer’s Advice for Happier Hens, Healthier People, and a Better World” (2011)
  • “Fields of Farmers: Interning, Mentoring, Partnering, Germinating” (2013)
  • “The Marvelous Pigness of Pigs: Respecting and Caring for All God’s Creation” (2016)
  • “Your Successful Farm Business: Production, Profit, Pleasure” (2017)
  • “Polyface Designs: A Comprehensive Construction Guide for Scalable Farming Infrastructure” (2020)
  • “Polyface Micro: Success with Livestock on a Homestead Scale” (2021)
  • “Homestead Tsunami: Good for Country, Critters, and Kids” (2024)

Até o momento, não há registros de traduções oficiais das obras de Joel Salatin para o português. No entanto, alguns de seus livros estão disponíveis em espanhol, como “Esto No Es Normal”, tradução de “Folks, This Ain’t Normal”.

Para leitores brasileiros interessados, é possível adquirir as edições originais em inglês por meio de livrarias online que entregam no Brasil, como a Amazon.

Nova função no governo Trump

Após a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, Salatin reacendeu discussões sobre o futuro da agricultura nos EUA ao mencionar que Thomas Massie (R-Ky.) poderia ser o novo Secretário de Agricultura no governo de Trump.

Em um post recente, Salatin afirmou ter sido convidado pela equipe de transição de Trump para assumir uma posição como “Conselheiro do Secretário” no USDA e mencionou Massie como uma escolha alinhada para liderar o Departamento de Agricultura. Entretanto, Massie rapidamente esclareceu que, embora esteja “pronto e disposto” a contribuir para a agenda agrícola de Trump, ele não recebeu qualquer oferta oficial para o cargo de Secretário de Agricultura e considera prematura qualquer discussão sobre o assunto.

A visão de Salatin, baseada em princípios naturais e ecológicos, alinham-se com as propostas de agricultura regenerativa que Massie apoia, como o PRIME ACT, um projeto de lei que, se aprovado, seria um marco na descentralização da indústria de processamento de carne.

A relação entre Salatin e Massie fortalece a perspectiva de uma agricultura que prioriza pequenos produtores e métodos sustentáveis, em contraste com as práticas industriais convencionais. Massie, que vive em uma propriedade autossuficiente no Kentucky, onde cria galinhas e cultiva seus próprios alimentos, compartilha com Salatin uma abordagem “além do orgânico”. Ambos defendem uma visão de agricultura local e sustentável, uma postura que ressoa com eleitores que buscam uma alternativa à produção agrícola massiva.

Apesar de seu histórico misto com Trump — incluindo divergências durante a pandemia, quando Massie insistiu em um voto registrado para um projeto de ajuda contra a COVID-19 — os dois políticos têm demonstrado apoio mútuo desde então. Contudo, ainda não há confirmação oficial sobre o papel que Massie, ou mesmo Salatin, poderiam desempenhar na próxima administração de Trump, deixando em aberto a possibilidade de uma reestruturação significativa no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Fontes:

https://www.thelunaticfarmer.com/

https://polyfacefarms.com/

https://rewildamerica.com/blog/polyface-farm

https://worldpermacultureassociation.com/polyface-farm-designs-guide/

https://stories.renewingthecountryside.org/2012/06/polyface-farm/

https://beefpoint.com.br/28-criadores-de-gado-inovadores-que-estao-moldando-o-futuro-das-proteinas/

https://www.amazon.com.br/stores/author/B000APFOT2/about

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