Nos Estados Unidos, que votaram ontem (5/11) para decidir quem presidirá o país nos próximos quatro anos, os eleitores que têm ligação com a atividade agropecuária formam um público numeroso e influente. De acordo com o Censo de 2020, mais de 66 milhões de pessoas, ou quase 20% da população americana, vivem em áreas rurais do país, locais em que dedicam-se à agricultura, à pecuária ou trabalham na agroindústria.
Os EUA são o segundo maior produtor global de commodities agrícolas, em um ranking que tem a liderança da China e o Brasil em terceiro lugar, segundo a Agência das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). Mas, assim como tem ocorrido com os agricultores brasileiros, os americanos têm sofrido com a queda dos preços de produtos como trigo, milho, soja, o que tem comprometido a renda no campo.
Neste ano, a margem de lucro das fazendas (“da porteira para dentro”) deverá ser US$ 40 bilhões menor do que a de 2023, de acordo com a American Farm Bureau Federation (AFBF), entidade que representa 2 milhões de produtores rurais de todo o país. A queda será a maior que já se registrou de um ano a outro.
Ao falar a esse público, o republicano Donald Trump, virtualmente eleito, respondeu a um questionário da AFBF em que a entidade abordou temas que estão no centro dos debates — e das preocupações – dos produtores rurais dos Estados Unidos.
A seguir, um resumo das ideias do novo governante dos EUA:
Promete lutar contra barreiras “injustas” no comércio exterior. Para isso, quer editar uma lei, a “Trump Reciprocal Trade Act”, que prevê “medidas de reciprocidade” para derrubar essas barreiras e priorizar os produtores americanos, em detrimento de fornecedores estrangeiros terceirizados.
Promete cortar taxas e impostos, o que, segundo ele, seria também uma forma de reduzir a inflação, uma das principais preocupações dos consumidores americanos.
Quer priorizar o “mérito” na relação com trabalhadores imigrantes para assegurar que estrangeiros que entrarem nos EUA de fato contribuam com a atividade econômica local.
Trump promete acabar com o “Green New Deal” (conjunto de ações que propõem um modelo econômico sustentável) e “desmantelar” o que vê como a raiz dos problemas desse sistema: a neutralização de emissões de poluentes, que, segundo o candidato, encareceu a energia no país todo — e no agro em particular. “Os produtores americanos são os campeões mundiais do clima. No sequestro de carbono, ninguém faz melhor”, diz.
Promete adotar “transparência e bom senso” na revisão de exigências regulatórias. Diz que seus cortes de barreiras regulatórias vão representar uma economia de US$ 5 mil ao ano para cada unidade familiar.
O republicano quer acabar com “restrições distorcidas” nos mercados de petróleo, gás natural e carvão, mas diz que pretende estimular a geração doméstica de energia em todas as frentes. No caso do etanol, por exemplo, ele quer não só aumentar a produção no país, mas também exportar o biocombustível para todo o mundo. O candidato promete reduzir os preços da energia para patamares recorde.
Trump promete cortar pela metade o custo da energia em seu primeiro ano de governo, o que reduzirá os custos de produção no campo e deverá baratear os alimentos para o consumidor final. A política de incentivo à transição energética do atual governo encareceu os derivados do petróleo, o que inclui insumos agrícolas, como fertilizantes e defensivos, argumenta ele.
Trump pretende “acabar permanentemente” com a dependência que o país tem da China em todos os produtos agrícolas essenciais e fazer melhorias em programas como os de preços mínimos, seguro de safra e cobertura de margem em laticínios.
O republicano diz que usará “toda a autoridade” que a Constituição lhe assegura para tentar impedir que os Estados — e ele cita nominalmente a Califórnia, um tradicional reduto democrata — imponham barreiras a produtores de outros locais.
O eleito quer capacitar os fazendeiros para que eles possam atuar na preservação das espécies sem que fiquem sujeitos a regulamentações excessivas.
Trump quer impedir a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) de ter ingerência sobre recursos hídricos que ficam dentro de propriedades rurais.
Vê a biotecnologia de ponta como um elemento de evolução da produção agropecuária e quer agilizar os processos de aprovação de novas tecnologias para que os fazendeiros possam ter acesso a avanços científicos mais rapidamente.
Pretende expandir a cobertura de internet banda larga no campo e melhorar a infraestrutura e a assistência médica em áreas rurais.
Quer dar mais autonomia para Estados, comunidades e produtores rurais administrarem terras, águas e outros recursos naturais das áreas que estão nas mãos de produtores privados.
Fonte: Globo Rural.