Luís Gustavo Barioni1
Em sistemas de produção de bovinos de corte a pasto, a forragem disponível está altamente correlacionada ao desempenho dos animais. Cada espécie forrageira possui uma amplitude ótima dentro da qual o manejo deve ter por objetivo mantê-la. Além disso, a disponibilidade de forragem é um indicador da quantidade da “reserva” forrageira, a qual pode ser utilizada parcialmente para tamponar eventuais oscilações nas taxas de crescimento da pastagem, como por exemplo, as causadas por veranicos, sem que haja necessidade de ações enérgicas de controle (assim como suplementação ou venda de animais fora das épocas estabelecidas no planejamento). O conhecimento da quantidade de forragem disponível também permite estimativas das taxas de crescimento e ingestão de forragem no pasto em sistemas de pastejo com lotação intermitente (pastejo rotacionado) através da diferença da massa de forragem em avaliações subsequentes. Vamos agora seguir com a questão que você espera que seja respondida aqui: como fazê-lo?
Existem vários métodos que podem ser utilizados na medição da massa de forragem em pastagens. O melhor deles é cortar toda a massa disponível na pastagem, pesa-la e seca-la. Esse método é obviamente impraticável na maioria das situações exceto em pequenas parcelas experimentais. Um segundo modo de estimar a massa de forragem no pasto, comumente utilizado é amostragem com molduras de área conhecida em nível do solo. As molduras normalmente são de formatos quadrado, retangular ou circular. O tamanho mais indicado depende da espécie forrageira em questão. Seguem algumas sugestões baseadas em informações pessoais:
Vale salientar que a massa de forragem na pastagem é via de regra bastante heterogênea, assim o número de amostras necessárias deve ser de pelo menos 5 a 8 para determinar a massa de forragem média em uma determinada área com acurácia aceitável. Uma ou duas amostras aleatórias serão uma medida extremamente grosseira da massa de forragem podendo fornecer informações tendenciosas e repercutir em erros na tomada de decisão. Quanto maior o número de amostras, menor o erro associado à estimativa. Infelizmente, os métodos que implicam em corte e pesagem da forragem são bastante trabalhosos, o que impede contemplar a variabilidade espacial da massa de forragem no pasto.
Visando contornar a morosidade da amostragem direta, métodos indiretos têm sido desenvolvidos com o intuito de facilitar a medição da massa de forragem no pasto. Os mais comuns atualmente são a altura da pastagem, o medidor de prato ascendente, o medidor de capacitância, o analisador de dossel e a estimativa visual. Esses métodos indiretos são baseados na técnica chamada dupla amostragem.
A dupla amostragem consiste em efetuar-se uma primeira amostragem para calibração do método indireto e uma segunda amostragem, utilizando o método indireto, para medição da massa de forragem. A calibração envolve os seguintes passos:
1. Leitura do instrumento e subsequente corte da forragem (normalmente ao nível do solo) no local da leitura. Idealmente esse procedimento deve ser realizado 10 a 20 vezes e os locais devem ser escolhidos de forma a incorporar toda amplitude de massa de forragem a ser medida e não deve estar concentrada em apenas um piquete ou local da propriedade.
2. Secagem da forragem (se desejar estabelecer relação c/ a matéria seca de forragem)
3. Desenvolvimento de uma equação de calibração.
Para a maioria dos métodos, a equação de calibração é desenvolvida através de regressão linear simples. Planilhas eletrônicas como o MS Excel dispõe de diversos comandos que permitem o cálculo automático de equações de regressões lineares. Uma das formas mais simples de fazê-lo é criar um gráfico da relação entre leitura (eixo x) e massa de forragem (eixo y), clicar sobre um dos pontos da série de dados no gráfico, pressionar o botão direito do mouse e escolher a opção adicionar linha de tendência. Um formulário será apresentado. Escolha as opções “linear” e “apresentar equação no gráfico. A equação de calibração será apresentada diretamente no gráfico como na figura abaixo.
A calibração é específica para uma espécie forrageira e época do ano. Os instrumentos devem, normalmente serem recalibrados a cada 3 meses. Após o desenvolvimento de algumas equações de regressão para a espécie em questão em condições semelhantes elas podem ser utilizadas sem problemas em anos subsequentes. Na continuação desse radar analisaremos as características e o desempenho de alguns dos métodos indiretos quando usados em pastagens tropicais.
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1 Doutorando, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP