Luís Gustavo Barioni1
A. Comparação entre métodos de estimativa de massa de forragem
Nas últimas 3 décadas, vários métodos têm sido desenvolvidos para medição da massa de forragem. Via de regra, tais métodos utilizam a medição de alguma característica da pastagem que possui relação com sua massa por unidade de área. Entre os métodos indiretos de estimativa da massa de forragem, os mais importantes são:
* Estimativa visual
* Altura da pastagem
* Disco para medição de altura comprimida (ascendente ou descendente)
* Medidor de capacitância
* Medidores de atenuação luminosa.
A maioria desses métodos possui acurácia semelhante na média das situações. Em pastagens de clima temperado, os discos para medição de altura comprimida levam ligeira vantagem em relação à medição de altura. Esse mesmo comportamento tem sido observado preliminarmente em pastagens tropicais de capim tanzânia irrigado. Entretanto, em espécies com folhas curtas e caule com estrutura frágil como as pastagens de Cynodon, a altura da pastagem pode ser um parâmetro tão bom ou melhor que a altura comprimida, embora o disco descendente seja bastante utilizado com pastagens de Cynodon nos Estados Unidos. Em pastos de braquiária, a eficiência de tais aparelhos ainda é uma incógnita, apesar de alguns bons resultados com o medidor de disco ascendente com B. mutica em Cuba. Alguns trabalhos indicam que a estimativa da massa de forragem com o prato ascendente é mais rápida que com réguas para medição de altura, devido à característica dos aparelhos de disco ascendente possuirem um contador automático para acumular as leituras de altura.
Medidores de capacitância já estão em fase de teste por empresas com objetivos comerciais no Brasil. Estes medidores possuem boa correlação com massa de folhas da pastagem, sendo nessa característica ligeiramente superior ao medidor de prato ascendente.
Projetos para avaliação de medidores de atenuação luminosa estão em andamento na USP-ESALQ. Medição de massa de forragem usando atenuação luminosa é baseada em medidas da quantidade de luz que chega ao dossel da pastagem e daquela que chega ao nível do solo, passando pelo dossel ou através de sistemas de lentes que permitem através de leitura abaixo do dossel a estimativa do índice de área foliar da planta. Tal aparelho é frequentemente chamado “Canopy Analyser”.
A estimativa visual é um outro método de boa precisão que pode ser utilizado para estimação de massa de forragem em plantas tropicais. A estimativa visual requer, entretanto, que a pessoa seja treinada para tanto (estimadores não treinados podem cometer erros comprometedores) e que a “calibração do olho” seja feita frequentemente para evitar tendências.
B. Cálculo das taxas de crescimento e ingestão
As taxas de acúmulo e ingestão de forragem podem ser calculadas a partir de estimativas sucessivas da massa de forragem em pastejo rotacionado. A taxa de acúmulo de forragem pode ser estimada através da medição sucessiva da massa de forragem em piquetes não pastejados enquanto a ingestão média de forragem pode ser calculada a partir do conhecimento da massa de forragem pré e pós-pastejo no período em questão.
No exemplo abaixo, supomos uma propriedade com 10 piquetes de áreas desiguais. Em um período de 15 dias para o qual desejamos estimar as taxas de acúmulo (crescimento – senescência) de forragem, 4 piquetes foram pastejados (J, A, B, D; Tabela 2), enquanto 6 piquetes não o foram (C, E, F, G, H, I; Tabela 1). A massa de forragem foi medida antes e após o pastejo nos piquetes nos quais os animais foram alocados. As medidas de massa de forragem nos demais piquetes foram realizadas no início e no final do período (12/03 e 27/03 de 2000, respectivamente, Tabela 1). A sequência para estimar o crescimento de forragem é a seguinte:
1. Identificar e estimar as áreas (ANP) dos piquetes não pastejados
2. Obter a massa média de forragem no início (MFi) e no final do período (MFf) para piquetes não pastejados.
3. Calcular o acúmulo total de massa de forragem (T) utilizando a diferença das estimativas de massa de forragem e a área do respectivo piquete ([MFf-MFi]*A), para cada um dos piquetes medidos.
4. Somar o total de massa de forragem acumulada no período (( Ti) e as áreas de todos os piquetes não pastejados medidos.
5. Calcular a taxa média de acúmulo de forragem (TMAF) dividindo-se o crescimento total pelo produto da área e intervalo entre medições, 15 dias nesse caso (TMAF = T/[A *IM]).
A taxa média de ingestão (desaparecimento) de forragem pode ser calculada seguindo-se o roteiro abaixo:
1. Identificar e estimar as áreas (AP) dos piquetes pastejados.
2. Determinar o período de ocupação (Oc) e o número de animais (NCab) nos piquetes sendo pastejados.
3. Obter a massa média de forragem imediatamente antes (MFpr) e imediatamente após (MFps) o pastejo pelos animais para os piquetes pastejados no período.
4. Calcular o desaparecimento total de forragem (DTF) nos piquetes durante o pastejo (FD=Ap*[MFpr – MFps]).
5. Calcular os somatórios da área, período de ocupação e DTF nos piquetes.
6. Calcular a ingestão média de matéria seca por hectare e por cabeça. IMS/cab/dia = DTF*(1-Perdas)/[Ncab*Oc] IMS/ha/dia = DTF*(1-Perdas)/[(A+Ap)* Oc].
Sabendo-se que tais piquetes foram pastejados por 2682 animais e considerando-se 25% de perdas de pastejo, IMS/ha/dia = 290627*(1-0.25)/[13*268] = 62.6 kg MS/cab/dia, enquanto que a IMS/cab/dia = 290627*(1-0.25)/[13*2682] = 6.25 kg MS/cab/dia.
Finalmente, pode-se comparar as taxas médias de crescimento e consumo da pastagem, respectivamente da ordem de 54 e 62 kg MS/ha/dia, podendo-se considerar, nesse caso bem equilibradas.
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1 Doutorando, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP