O Ministério da Agricultura confirmou ter detectado três casos de “scrapie” em ovelhas na região centro-sul do Paraná, segundo reportagens de Alda do Amaral Rocha, Cláudia Trevisan e Mauro Zanatta, publicadas no Valor online. A doença, degenerativa, atinge o sistema nervoso dos animais e tem características semelhantes ao mal da vaca louca, que tem causado pânico na Europa.
Os ovinos doentes eram descendentes de animal importado do Canadá em 1989, informou o coordenador de Defesa Animal da Secretaria de Agricultura do Paraná, Felisberto Batista. Antes de chegar ao Brasil, o animal passou pelos Estados Unidos.
O coordenador de programas sanitários do Ministério, veterinário Jamil Gomes de Souza, disse que a doença teve confirmação laboratorial no dia 12.
Conforme Batista, os três animais – duas fêmeas e um macho da raça Hampshire Down – adoeceram na primeira semana do ano, quando o Serviço de Defesa Animal do Paraná foi contatado. Eles foram sacrificados e material do cérebro analisado.
Segundo o Ministério, após o surgimento dos casos, já foram sacrificadas 238 ovelhas de uma propriedade em Candói, a 350 quilômetros de Curitiba, e 67 animais localizados em Agudos do Sul, na mesma região. As propriedades estão interditadas.
A “scrapie” – cujo nome científico é paraplexia enzóotica – não tem cura conhecida e causa, além da degeneração do sistema nervoso, tremedeiras e coceiras. O agente causador da doença é uma proteína infecciosa, o príon.
O governo informou a descoberta da doença, ainda no dia 12, à Organização Internacional de Epizootias (OIE) e aos quatro países-membros do Mercosul.
Segundo Felisberto Batista, está sendo feito rastreamento para localizar outras ovelhas da mesma “família” daquelas contaminadas. O governo ainda não sabe quantos animais foram importados, “mas todos serão sacrificados”, segundo Jamil de Souza.
A “scrapie” é uma doença exótica no Brasil. Em 1985, foram registrados casos entre ovinos recém- importados do Canadá, que estavam em quarentena obrigatória. Os animais nem chegaram a ir para as propriedades no Paraná e foram sacrificados, disse Batista.
O Ministério descartou a associação entre o “scrapie” e a vaca louca, apesar de ambas serem causadas por uma proteína infecciosa. “As pessoas fazem associação, mas em países como Canadá e EUA, que têm o “scrapie”, não há registros de vaca louca”, afirmou Souza. Segundo ele, os vínculos distanciam as duas doenças, apesar dos sintomas parecidos. “Animais alimentados com farinha de osso de ovelhas com “scrapie” não desenvolveram a vaca louca”, garante.
Batista, da Defesa no Paraná, reforça:”O fato de ser causada por um príon não significa que seja a mesma doença”, afirmou.
Suspensa importação de ovinos
O Ministério da Agricultura decidiu suspender as importações de ovinos, caprinos e material genético de países que tiveram registro de casos de “scrapie”.
O secretário interino de Defesa Agropecuária, Rui Vargas, informou ontem que haverá um aumento na vigilância das propriedades da região sul do Paraná. Vargas disse ainda que “não há comprovação científica em nenhum lugar do mundo de que o “scrapie” tenha associação com o mal da vaca louca”.
Argentina aumenta fiscalização
As autoridades sanitárias argentinas vão aumentar a fiscalização na fronteira com o Estado brasileiro do Paraná, em razão da aparição em ovelhas de casos de “scrapie”.
No final da tarde do dia 17, técnicos do Senasa (Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentária) estavam reunidos para detalhar as medidas a serem adotadas.
Segundo a assessoria de imprensa do organismo, estava descartado o fechamento da fronteira com o Brasil. Mas havia a possibilidade de suspensão da importação de determinados tipos de alimentos.
Anteontem, a Argentina proibiu a importação de produtos que contenham carne de vaca e de outros ruminantes de 20 países da Europa, em reação ao aumento de casos do mal da vaca louca. Também foi determinado o recolhimento de todos os produtos semelhantes que já estivessem sendo comercializados em supermercados.
O presidente do Senasa, Vítor Eduardo Machinea, afirmou que a medida que atinge os países europeus é transitória e foi adotada de maneira emergencial.
Por Alda do Amaral Rocha, Cláudia Trevisan e Mauro Zanatta, para valor Online, 19/01/01