O Ministério da Agricultura vai pedir esta semana ao Ministério da Defesa a liberação de efetivos do Exército e Marinha para reforçar a vigilância da febre aftosa nas fronteiras com a Argentina e Paraguai e evitar a entrada da doença no Brasil, segundo reportagem de Aldo Renato Soares, publicada hoje na Gazeta Mercantil. O pedido, feito ontem pelos secretários da Agricultura do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, inclui o fornecimento de lanchas para o trabalho de fiscalização nos rios Uruguai (Rio Grande do Sul) e Paraná (Paraná) e recursos para custeio e investimentos. O secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, José Hoffmann, propôs a suspensão das importações de trigo, arroz em casca e milho da Argentina, onde foram descobertos vários focos de aftosa.
A reunião no ministério não pôs fim às divergências entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina sobre a volta da vacinação do rebanho bovino. Hoffmann defende a retomada da vacinação desde que a medida não signifique o isolamento do estado do resto do País – o que acarretaria prejuízo aos criadores e frigoríficos do estado. O secretário da Agricultura de Santa Catarina, Odacir Zonta, é contra a vacinação.
Os dois estados chegaram a ser considerados livre de aftosa sem vacinação até o aparecimento da febre aftosa no município de Jóia, em agosto de 2000. “Voltar a vacinar sem qualquer motivo é mostrar instabilidade para o mercado nacional e internacional”, disse Zonta.
Santa Catarina, que não teve casos de aftosa, não quer perder o status de estado livre sem vacinação. Por isso, defende a divisão do circuito pecuário sul caso sejam descobertos novos focos no Rio Grande do Sul. O diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), Rui Vargas, disse que os técnicos examinarão a proposta gaúcha, de suspensão da importação de grãos argentinos. “Precisamos ter fundamentos científicos para defender uma proposta como esta.” Segundo Vargas, não existe comprovação de que os cereais “carreguem” o vírus da aftosa.
Hoffmann, que levou ao ministério um levantamento feito por fotografia aérea com 52 pontos críticos, todos localizados na fronteira com a Argentina, disse que a situação é de alto risco. “Estamos sentados num barril de pólvora.” Ele pediu R$ 39 milhões para comprar veículos, computadores e o fundo de ressarcimento da pecuária. Quer ainda 11 lanchas para patrulhar 725 quilômetros de fronteira com a Argentina e que a União assuma os postos fixos de fiscalização para que os fiscais estaduais possam fazer a vigilância móvel.
O secretário de Santa Catarina pediu R$ 15 milhões para o fundo de indenização sanitária e o secretário do Paraná, José Poloni, quer R$ 22 milhões para reforçar o trabalho de vigilância sanitária.
(Por Aldo Renato Soares, para Gazeta Mercantil, 15/03/01)