O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Leôncio de Souza Brito Filho, substituiu ontem a palavra “suspender” por “sugerir a suspensão”, em relação ao boicote de venda de gado aos frigoríficos exportadores por um período de 30 dias. Para garantir que terá força, a entidade realiza no próximo dia 11 de março, uma mobilização entre os vários segmentos do setor para ouvir os produtores rurais de Mato Grosso do Sul. A posição da entidade, que faz parte do movimento encabeçado pelo Fórum Permanente de Pecuária de Corte (FNPC), de destacar que apenas está sugerindo aos produtores que suspendam a venda de bovinos, leva a crer que houve um recuo, ou pelo menos uma amenização do boicote no estado, até a mobilização.
O discurso destoa da entrevista concedida no dia 19 de fevereiro, quando Brito afirmou de forma veemente que “o produtor só irá honrar os compromissos com os frigoríficos e suspender, por 30 dias, novas vendas”.
No entanto, ontem, a assessoria da Famasul explicou que Brito falou como produtor rural e não em nome da Famasul, pois cada produtor é livre para decidir o que fazer. “Nesta ocasião estaremos ouvindo os produtores sul-matogrossenses para então tomarmos a decisão que melhor corresponder aos anseios de todos”, disse Brito.
Com base nas decisões do FNPC, a Famasul está orientando os sindicatos rurais do estado a fazerem reuniões locais, a fim de ouvir a opinião de suas bases e também estimular a participação na mobilização.
A entidade nega que seja um recuo e diz que o movimento de suspensão das vendas continua forte. “Estamos entrando em contato com sindicatos rurais do interior e conseguindo mobilizar a classe para este problema, que é seríssimo. No entanto não podemos obrigar os pecuaristas, principalmente aqueles menores, que precisam fazer caixa, a não fazer as vendas para manter sua propriedade”, explicou Teresa Cristina, da diretoria da Famasul.
Os frigoríficos alegam que toda essa movimentação dos produtores deveria conter mais embasamento para que seja tomada uma decisão. Um dos pontos que devem ser analisados é se houve queda no preço da arroba em reais ou se aconteceu uma queda comparada ao dólar. Em 2004, a cotação do gado em relação ao dólar foi histórica e hoje, com a baixa cotação da moeda norte-americana, o preço da arroba para exportação também caiu.
Além dessa desvalorização, deve ser levado em conta que o número de compradores no mercado externo não aumentou, mas por outro lado, a produção de gado para exportação registrou crescimento. As leis do mercado são bastante simples: quando há muita oferta de mercadoria e a demanda não aumenta, sobra mercadoria e a tendência é de queda no preço do produto ofertado, ressalta um dos proprietários de frigorífico.
Também segundo esses proprietários, a hora seria de união entre produtores e frigoríficos no sentido de abrir novos mercados para exportação. Eles frisam que este embate só prejudica a cadeia, mas neste momento não adianta falar, a solução é esperar o “estresse” passar e a “água ficar limpa”, explica um dos empresários.
Fonte: Correio do Estado/MS (por Vera Halfen), adaptado por Equipe BeefPoint