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MS: produção diferenciada e marca são saídas para crise

A crise da aftosa no Mato Grosso do Sul acelerou a decisão da Agropecuária Rio da Areia de integrar seu processo produtivo, agilizando a produção de carne de qualidade com marca, sonho antigo do presidente da empresa, Édio Nogueira e diretores da agropecuária Rio da Areia, Evandro Cassaro, Donato Godoy e Roberto Barcellos.

A criação de uma marca própria, a Rio da Areia, está sendo executada com o apoio de Roberto Barcellos, agrônomo com experiência em produção animal e frigoríficos, responsável pelo desenvolvimento e comercialização dos cortes de carne da Rio da Areia. Roberto conversou com o BeefPoint sobre essa nova iniciativa.

Os primeiros produtos da marca serão o Rio da Areia Prime Beef, cortes de carne bovina de qualidade diferenciada, e o Ternero Bolita, cortes de vitelo rosa. A empresa pretende, ainda, colocar no mercado a carne de cordeiro Prime Lamb.


Foto: Logo Rio de Areia Prime Beef

Histórico do projeto

A fazenda Itaguassú, de propriedade da Agropecuária Rio da Areia, no município de Antônio João/MS, trabalhava com engorda de animais em um sistema de confinamento, com elevados investimentos em equipamentos para alimentação animal, como secadores de grãos e uma fábrica de ração. No confinamento, entravam bois magros, que permaneciam por, aproximadamente, 90 dias. A alimentação era baseada na utilização de volumoso, como cana e silagem.

A empresa entregava o boi gordo em um frigorífico e obtinha preços na @ melhores que os praticado no mercado local, até o momento em que a crise da aftosa no MS inviabilizou a continuidade do negócio. “O foco sempre foi a qualidade, pois sabíamos que chegaria o momento de trabalharmos com carne” afirma Roberto Barcellos.

Diante disso, o projeto surgiu como uma opção para aumento de lucratividade. A oportunidade foi identificada a partir de um nicho que, hoje, é explorado por carnes importadas da Argentina e do Uruguai. “A genética e alimentação são as mesmas empregadas na pecuária argentina e uruguaia”, completa Roberto.

Para preencher este espaço, a marca irá oferecer os produtos, buscando uma qualidade diferenciada a partir dos animais produzidos na própria fazenda.

Os cortes estão sendo desenvolvidos para atender a exigência de qualidade de diversas parriladas (típicas churrascarias argentinas) que surgem nas grandes capitais brasileiras, como t-bone, prime rib, master beef, os cortes tradicionais argentinos bife de chourizo e bife ancho, além da picanha, coração de alcatra e o assado de tira, famoso corte de costela argentino.


Foto: Caixa com picanha Rio de Areia Prime Beef

Execução do projeto

O objetivo é desenvolver parcerias, tanto no suprimento de ingredientes para a alimentação animal quanto na reposição de bezerros.

Para a reposição de animais, a empresa buscou em centrais de genética nos EUA e no Brasil os reprodutores que gerassem resultados de qualidade de carne em conformidade os atributos desejados nos cortes. Busca-se, para os cortes Rio da Areia Prime Beef, um marmoreio superior ao oferecido pela carne brasileira ofertada no mercado interno.

Serão utilizados animais de cruzamento industrial (de 1/2 sangue a 5/8), a partir das raças britânicas, em sua maioria Angus, e também Hereford. A genética foi difundida entre alguns criadores, que serão os parceiros na reposição de animais.

Utilizam confinamento de alto grão, passando a trabalhar com 100% dos ingredientes comprados de parceiros da região. A empresa irá desenvolvider essas parcerias para fornecer os ingredientes, como aveia ou sorgo, conforme a necessidade.

O sistema de produção

Hoje a produção é de 250 animais por semana. Para isso, são necessários 4.000 animais em confinamento, com reposição contínua. A meta do grupo é chegar a 500 animais por semana ainda este ano.

A padronização é extremamente importante. “A única forma de padronizar a carne, é padronizar o sistema de produção: a idade de abate, a raça, o grau de sangue, a alimentação e o período de engorda”, afirma Roberto Barcellos. Uma das dificuldades é manter o sistema de confinamento por todo o ano, devido aos problemas relacionados à época de chuvas.

Na produção do Prime Beef, são abatidos novilhas e novilhos castrados de 15 a 18 meses de idade. A carcaça atinge rendimento de até 56% para os machos e 53% para as fêmeas, com acabamento de gordura de até 6 mm e carcaça uniforme. Os machos são abatidos com cerca de 460 Kg e as fêmeas 420 Kg.


Foto: Novilho em confinamento

Na produção do Ternero Bolita, serão abatidos animais de 7 meses, cuja carcaça tem acabamento de 2 mm de gordura e rendimento de até 52%. O peso de abate é de cerca de 280 Kg. O ciclo de engorda no confinamento é de 90 dias e os animais ganham de 1,4 a 1,55 Kg/dia.

No caso do Prime Lamb, a escala de produção ainda é pequena, no entanto o objetivo é criar um núcleo de produtores para realizar os abates.

Controle de qualidade

Os ingredientes usados na alimentação são analisados em laboratório. Laudos de ausência de metais pesados e toxinas na alimentação ficam arquivados na empresa. Além disso, ingredientes usados na nutrição animal são avaliados através de protocolos específicos.

O controle sanitário conta com o apoio de dois laboratórios de medicamentos. Essas empresas realizam o treinamentos dos funcionários e fazem o acompanhamento do manejo sanitário, além de realizarem atividades de pesquisa dentro da fazenda.

A empresa criou o próprio selo de qualidade, que atesta que o processo produtivo passou pelas etapas que asseguram a qualidade dos cortes, através da documentação interna. O sistema de produção também está em processo de certificação Eurepgap.

Processamento e distribuição

O abate é realizado em um frigorífico no município de Ponta Porã/MS, que cobra uma taxa de abate e entrega a carne desossada e o couro. Os cortes são despachados para a cidade de São Paulo.

A distribuição é realizada por entreposto frigorificado e transportadora contratados, que irão distribuir os produtos para os estabelecimentos de venda final.


Foto: Carcaças de novilhos super precoces

A Agropecuária Rio da Areia está procurando expandir seu canal de distribuição, mas o primeiro objetivo é colocar o produto em hotéis, restaurantes e botiques de carne. Duas das principais churrascarias de São Paulo já fecharam contrato de compra de carne.

Existe ainda a intenção de comercializar os cortes nas lojas de conveniência de uma rede de postos de gasolina, já que a empresa atua no ramo de distribuição de combustíveis (FIC Distribuidora de Combustíveis). A empresa também busca formas de agregar valor nos cortes de dianteiro no mercado interno.

Promoção

A empresa busca promover o consumo de carne bovina no mercado interno, através da criação ou do apoio de campanhas feitas por instituições existentes no setor. O presidente da empresa já manifestou até mesmo a intenção de disponibilizar uma quantia de recursos que serão destinados a essas campanhas.

Crescimento

Os idealizadores planejam expandir o projeto. “Futuramente, iremos recorrer aos grandes confinamentos, e buscar animais aptos ao programa, pagando um diferencial que, com certeza, o frigorífico não pagaria. Tendo a questão sanitária e nutricional similar, podemos até fazer uma parceria”, finaliza Roberto Barcellos.

Otavio Negrelli, Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Paulo E. F. Loureiro disse:

    Roberto,

    Que alegria ver o projeto da Rio da Areia funcionando completamente, produzindo uma carne com alto padrão de qualidade. Sonho de muitos, mas poucos com coragem e competência para fazer. Vocês são especiais.

    Parabenizo-os pelo empreendimento e creio que o Sr. Édio deve estar muito feliz.

    O Mato Grosso do Sul precisa de projetos assim.

  2. Domingos Gracias Dio disse:

    “É com os olhos do dono que o bicho engorda”. E isto é de encher os olhos.

    Com Roberto Barcellos, o dono poderia até ser cego. Bom apetite, Nação Brasileira.

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