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Na China, vender carne é um negócio para os gigantes?

“Ainda não conhecemos o chinês”. Dita em tom de lamento, a constatação do dono de um frigorífico brasileiro ilustra o problema dos recém-chegados ao cobiçado mercado do país asiático.

A declaração é também uma indicação de que o jogo na China pode ficar mais concentrado nos grandes frigoríficos, que têm poder de fogo para lidar com os solavancos e estão mais acostumados ao mercado do país asiático.

Para os médios frigoríficos, a montanha-russa chinesa teve início em setembro. Exultantes com a habilitação de 17 abatedouros de bovinos do Brasil, muitos correram para vender, mas se descuidaram dos riscos de crédito e negligenciaram a sabedoria milenar dos chineses no comércio.

Enquanto habilitava frigoríficos brasileiros para abastecer a demanda para o Ano Novo Chinês – que começa no sábado – e atenuar os efeitos da peste suína africana, Pequim também liberava a carne de países pouco tradicionais no comércio de carne. A Bolívia talvez seja o melhor exemplo de indústria desconhecida aberta pela China.

No processo, Pequim também derrubou o embargo sanitário de quase 20 anos que vigorava contra a carne bovina britânica. Os chineses retiraram, ainda, o embargo diplomático contra o produto canadense e ampliaram a lista de frigoríficos argentinos habilitados. Hoje, Brasil e Argentina são os principais fornecedores.

O resultado é que, poucos meses após a euforia dos empresários brasileiros, os importadores chineses impuseram descontos expressivos – de até 30% – sobre cargas de carne que estavam a caminho dos portos, deixando pouca margem de negociação aos frigoríficos.

Se os frigoríficos de médio porte tivessem ações listadas na bolsa, o estrago seria grande. Basta ver o que aconteceu ontem com os grandes ( Marfrig e Minerva), cujos papéis registraram forte baixa – para um executivo da indústria, a reação foi exagerada.

Na B3, as ações da Marfrig caíram 2% – segunda maior baixa do Ibovespa. Os papéis da JBS recuaram 0,13%, mas chegaram a cair mais ao longo do dia. No caso dessas companhias, pode haver um movimento de realização de lucros embutido. Em 2020, JBS e Marfrig acumulam alta de 16,5% e 21,5%, respectivamente. No ano passado, as duas empresas também registram forte valorização.

Na bolsa, as ações da Minerva foram as mais castigadas, o que pode estar relacionado à oferta de ações da companhia. Os papéis do grupo, que não faz parte do Ibovespa, recuaram 7,7%. Ontem, executivos da Minerva estavam em reuniões com investidores para fechar o livro para a oferta, que pode movimentar R$ 1,4 bilhão. A precificação da oferta está prevista para hoje. Segundo uma fonte, a companhia já garantiu o volume de recursos para realizar a emissão. A oferta da Minerva é coordenada pelos bancos BTG Pactual, J.P. Morgan, Morgan Stanley, Bradesco BBI, Itaú BBA e BB Investimentos.

Embora o investidor de grandes frigoríficos tenha reagido negativamente às notícias sobre as renegociações com a China, a percepção de fontes do setor é que, após o Ano Novo Chinês, serão os grandes frigoríficos os maiores beneficiados pela retomada da demanda do país asiático. Em relatório, o banco Credit Suisse fez avaliação similar.

Com acesso ao mercado chinês há anos, JBS, Marfrig e Minerva conhecem os clientes, e já passaram por outros solavancos. Em 2016, uma queda de braço com os importadores chegou a travar as vendas à China por mais de 50 dias. Com esse histórico, os grandes tinham condição de atenuar o efeito da queda sazonal da demanda que precede o Ano Novo.

Fonte: Valor Econômico.

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