Em comentários anteriores ao surgimento do veto canadense à carne bovina brasileira, aqui nesta mesma seção, o Dr. Celso Boin já se manifestava pela condução de uma política de prevenção e campanhas de esclarecimento para evitar sua entrada (BSE) no Brasil. O rastreamento da produção e consumo de farinha animal, o rastreamento dos bovinos importados, a realização de testes visando detectar a presença da doença, são apenas algumas medidas de caráter governamental que necessitam ser tomadas. Saúde pública é um assunto sérissimo, se tratado com menor importância, em países também sérios, colocam ministros no “olho da rua”.
Deixando de lado o nosso sentimento nacionalista ferido, pois há muito tempo não se via uma revolta tão grande, manifestações internas e externas, de estivadores e sindicatos, a calçadistas e comerciantes, contra uma sanção comercial a um produto nosso, pergunto :- fizemos nós o nosso mais elementar dever de casa ? Já se fala de BSE há praticamente duas décadas. Da Inglaterra para os países do Continente Europeu como França, Espanha, Portugal, Suiça, Alemanha e Itália, foi só uma questão de tempo. O próprio Canadá já teve em 1993 o seu caso de “vaca louca” detectado em um animal importado do Reino Unido (gato escaldado ou rabo de palha?). Já mudou de continente, chegando ao nosso Continente. O que temos feito para evitar que sejamos nós os próximos ? Onde está o rastreamento do gado importado ? Dizem uns que são pouco mais de 4 mil animais, agora já se fala em 5.500. Face ao que já vem ocorrendo não era para termos esse número na “ponta da língua” ? O que aconteceu com todos esses animais ? Diz o Diretor de Vigilância da Secretaria da Agricultura de Santa Catarina, Adelino Renuncio, que só agora recebeu solicitações oficiais sobre as importações de gado. Não é só o gado. Onde estão os controles de produção, métodos, volumes, temperaturas, etc. da produção de farinhas de origem animal? Quem consome estas farinhas ? Muitas dúvidas ainda pairam no ar e precisam de respostas. Já não somos mais o país deitado eternamente em berço esplendido. Mexeu incomoda.
Não existem dúvidas, por mais que se expliquem os Srs. Pierre Pettigrew e Brian Evans, diz o The Globe and Mail:- cheira à peixe ! O representante do governo canadense rebate dizendo que não se trata de uma questão comercial, mas de segurança do alimento. Deixando de lado o Grande Santos Dumont, que já fez a sua parte, em minha opinião, sendo ou não uma briga por aviões, nós “deixamos a porta aberta, demos a cara para bater”. De que adiantam todas as nossas justificativas de que o nosso boi só come capim dentre muitas outras, se deixamos para depois o elementar. De que adianta a Dra. Margaret Haydon e colaboradores saírem em nossa defesa? Honestamente, para mIm, se a briga é por essa ou aquela razão, passou para segundo plano, “fomos pegos no contrapé, abriram nosso guarda-roupa”.
Toda essa história tem um ar de “Dejá Vú”. Qualquer semelhança com café, suco de laranja, aço, açúcar, soja, não é apenas semelhança, é realidade, realidade que o Brasil passará a enfrentar cada vez mais, de hoje em diante, nessa tal de globalização da economia. Todas as vezes que tentarmos adentrar ou desalojar algum membro do famoso G7 (o Canadá faz parte), preparem-se porque é guerra. Nessa guerra globalizada do século XXI, não se sabe como, de que lado, ou mesmo contra quem virão os mísseis, uma coisa é certa, eles virão.
Vamos colocar nossas informações em dia, vamos passar de risco 2 para risco 1 na GBR (escala de 1 a 5, 1 pouco risco, 5 muito risco), vamos voltar a exportar. O que sobra de tudo isso? Como bem disse o Professor Pedro Eduardo de Felicio, não adianta reagirmos como cães raivosos, há lições a serem tiradas de tudo o que aconteceu. Que essas lições, não só a “vaca louca”, mas a da febre aftosa, do café, do suco de laranja, do aço, e outras mais, sejam usadas como exemplos do que podemos esperar daqui para frente. Usemos o aspecto construtivo dos acontecimentos para não repertirmos o mesmo erro da próxima vez.
O Canadá vai suspender o veto à carne brasileira já na próxima semana, vai voltar a comprar nossa carne, os técnicos retornarão aos seus países de origem, depois de conhecerem um pouco melhor o nosso país. Acabou a guerra ? Espere para ver. Todas as vezes que o Brasil ameaçar algum mercado enfrentaremos sanções das mais variadas ordens, algumas mais veladas, outras mais duras e diretas. Como disse o nosso Presidente: – isso é guerra !
Finalizando pergunto: Depois disso tudo como ficará a reunião da ALCA – Aliança para o livre comércio das Américas (NAFTA em inglês) a ser realizada em Abril na cidade de Quebec ? Quando você era criança ouviu contar a fábula: “a panela de ferro e a panela de barro” (Esopo por La Fontaine)?(Se não ouviu eu lhe mando por e-mail).
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Albino Luchiari Filho é Zootecnista, PhD em produção animal, colaborador do BeefPoint. E-mail: linbife@uol.com.br