Em um comentário do mês de abril, o título foi: “ser contra a volta da vacinação para aftosa: decisão sábia ou irresponsável?” Pelos acontecimentos dessa última semana, a resposta parece óbvia demais.
Uma outra pergunta colocada em um dos comentários anteriores foi se a manutenção do “status” de livre de aftosa sem vacinação valeria a pena o risco que estávamos correndo em ter a doença de volta no chamado Circuito Sul. A resposta também parece óbvia em função das repercussões e das decisões de países importadores suspenderem a importação de carne bovina brasileira. Além dos prejuízos imediatos diretos, o conceito do país em lidar com problemas de sanidade animal sofreu novo abalo diante da comunidade internacional.
O segundo foco já surgiu e outros poderão surgir, e as autoridades responsáveis continuam discutindo pontos de vistas puramente pessoais no nosso entender. Acusações e trocas de ofensas não vão resolver nada. O leite já derramou. Esperava-se, no mínimo, que as autoridades contrárias à volta preventiva da vacinação tivessem um programa bem delineado e bem discutido sobre o que fazer de imediato no caso de surgimento de um foco. Aparentemente não tinham nenhum plano. Ao invés disso, aconteceu o que mencionamos acima: discussão infrutífera e acusações descabidas.
Quem vai bancar os prejuízos, tanto financeiros como morais, dessa nova ocorrência de febre aftosa em uma região que, por decisão de autoridades federais, tinha que continuar com o “status” de livre sem vacinação, por motivos muito tênues em face dos grandes riscos de surgimento de focos após o grande número de focos ocorridos na Argentina? A resposta novamente parece óbvia demais. Os financeiros ficarão principalmente por conta dos produtores, embora tanto empresários e em especial trabalhadores da cadeia da carne bovina terão sua cota de contribuição. Os morais servirão mais uma vez para denegrir o conceito do Brasil perante o mundo. Nenhuma autoridade provavelmente arcará com as conseqüências de seus atos.
Como sempre, a crise pode servir para que algo mais digno, relevante e responsável venha a acontecer. Esperamos que o retorno da febre aftosa ao Brasil (Rio Grande do Sul), depois de seu surgimento no Paraguai, Argentina e Uruguai, e suas conseqüências desastrosas, sejam a motivação que faltava para o estabelecimento de um programa continental (América do Sul) de controle e futura erradicação da doença. Afinal, ter pensamentos positivos, mesmo que acontecimentos anteriores possam não justificá-los, deve fazer parte do comportamento de cada um. Chega de reuniões infrutíferas de autoridades de diferentes países falando do mencionado programa, sem que nenhuma ação concreta seja de fato tomada.