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15 de dezembro de 2000

NRC-2000 para Gado Leiteiro à vista

Prof. Dr. Paulo Henrique Mazza Rodrigues e Prof. Dr. Felix Ribeiro de Lima

É grande a expectativa para o lançamento da sétima edição dos Requerimentos Nutricionais de Gado Leiteiro (NRC-2000) a ser realizado entre os dias 16 e 17 de janeiro de 2001 no estado de Iowa, Estados Unidos. O pré-lançamento do NRC foi realizado em Kansas City, estado de Missouri, nos dias 01 e 02 de novembro de 2000, com participação de 53 representantes de vários estados dos Estados Unidos e países como Canadá, Espanha, Israel, África do Sul e Brasil. O evento contou com a participação de membros do Comitê em Nutrição Animal e do Subcomitê em Nutrição de Gado Leiteiro, que desenvolveram o novo modelo, e teve como objetivos a apresentação e discussão das principais mudanças adotadas no novo modelo, bem como o treinamento dos agentes de divulgação na utilização do novo software desenvolvido. Do Brasil estiveram presentes os Professores Doutores Paulo Henrique Mazza Rodrigues e Felix Ribeiro de Lima, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (Campus de Pirassununga), que serão responsáveis pelo evento de lançamento do novo sistema via satélite e em tempo real dos Estados Unidos para o Brasil (cidade de São Paulo).

Segundo eles, o novo NRC-2000 incorporou grande parte da metodologia adotada pelo sistema de Cornell, mas somente aqueles aspectos confirmados na literatura. Por exemplo, o software desenvolvido se assemelha bastante ao sistema Cornell ou ao NRC-1996 Requerimentos Nutricionais de Gado de Corte, uma vez que estima as exigências dos animais, avalia a dieta e compara com as exigências, embora não formule dietas. Desta forma, o modelo apresenta um balanço obtido pela diferença entre os nutrientes fornecidos pela dieta e os exigidos pelo animal. Isso significa que o técnico terá que utilizar um programa de formulação, antes de submeter sua dieta ao avaliador do NRC-2000. Como vantagem, o modelo desenvolvido permite acomodar flutuações ocasionadas pela combinação dos alimentos sobre a disponibilização de nutrientes e, consequentemente, prever com maior acurácia o desempenho animal.

Para estimar o consumo de matéria seca, o novo NRC leva em consideração o peso vivo e a produção de leite, fazendo um ajuste para a depressão do consumo observada no início de lactação. Segundo o NRC-2000, todos os dados utilizados para gerar a equação foram obtidos a partir de vacas holandesas, apresentando, portanto, uso mais apropriado para esta raça. Nenhum ajuste foi necessário para o número de partos, uma vez que vacas de primeira e segunda crias apresentam menor peso vivo e menor produção de leite, características estas que já foram consideradas suficientes para predizer o consumo. Também não foram adotados ajustes em função das condições ambientais, como faz o sistema Cornell, em virtude da falta de dados disponíveis na literatura. Segundo o NRC-2000, a diminuição na produção de leite observada em vacas submetidas ao estresse calórico já é suficiente para ajustar o consumo de MS.

As exigências de energia são expressas em energia líquida para lactação, procedendo-se a soma das exigências de energia para mantença, produção, gestação, crescimento (vacas de primeira e segunda cria) e mudanças nas reservas corporais. O aumento das exigências decorrentes do caminhar para a ordenha é somado às exigências de mantença. A grande inovação do NRC-2000 diz respeito à metodologia utilizada para estimar a energia dos alimentos. Diferentemente de um valor fixo de energia para cada alimento adotado pelo NRC-1989 ou das 4 frações (A: rapidamente degradável; B1: degradação intermediária, B2: lentamente degradável e C: não disponível) adotadas pelo sistema Cornell, o novo NRC calcula o NDT disponível em cada alimento em função da digestibilidade das frações carboidratos não fibrosos, proteína bruta, extrato etéreo e carboidratos fibrosos (FDN). Dependendo do tipo de alimento, cada fração possui sua digestibilidade estimada. Isso faz com que o NDT seja estimado em função da composição bromatológica do alimento, abandonando-se as concentrações em energia fixas, obtidas em ensaios com animais. O NDT estimado em nível de mantença é posteriormente descontado pelo consumo atual da vaca, uma vez que a digestibilidade diminui com o aumento do consumo. Só então o NDT corrigido é utilizado para estimar a energia líquida para lactação. Com esse sistema, um determinado alimento não mais terá um valor de energia líquida fixo, mas sim a dieta resultante da combinação de diferentes alimentos.

Para a proteína, adotou-se um sistema para encontrar as exigências animais semelhante ao utilizado pelo NRC-1989 ou pelo sistema Cornell. Já a caracterização da composição dos alimentos quanto às frações protéicas diferiu dos demais sistemas. Enquanto que o NRC-1989 separou as frações protéicas em duas (degradável e não degradável) e o Cornell em 5 (A: solúvel; B1, B2, B3: rápida, mediana e lentamente degradável; C: indisponível), o NRC-2000 adotou 3 frações (A: solúvel; B: degradável; C: indisponível) associadas a uma taxa de degradação da fração B, obtidas principalmente pela técnica dos sacos de nylon in situ. O fornecimento de proteína é obtido em termos de proteína metabolizável, que é resultante da somatória das frações proteína microbiana, proteína não degradável no rúmen e, como grande novidade, proteína endógena (proteínas da saliva, células de descamação e enzimas animais) digestíveis. A proteína microbiana é estimada em função do NDT descontado para o consumo. A proteína não degradável é estimada em função das frações e das taxas de degradação da proteína, corrigindo-se para uma taxa de passagem característica para cada tipo de alimento (concentrados, volumosos secos ou volumosos úmidos). Já a proteína endógena é estimada em função do consumo de MS. Enquanto que a proteína microbiana e proteína endógena possuem digestibilidades fixas no intestino delgado, o novo sistema adotou digestibilidades intestinais variáveis de acordo com o tipo de alimento para a proteína não degradável. Com relação aos aminoácidos, o novo sistema lista a concentração de aminoácidos essenciais digestíveis, em relação à proteína metabolizável, disponíveis no intestino delgado. Embora nenhuma tabela de exigências de aminoácidos esteja disponível para comparação com a composição de aminoácidos fornecidos no intestino delgado, permitindo encontrar o aminoácido limitante, o NRC-2000 recomenda que os teores de lisina e metionina digestíveis no intestino delgado não sejam inferiores a 6,5% e 1,9%, respectivamente, em relação à proteína metabolizável.

A grande inovação, em relação ao NRC-1989, ao estimar a energia líquida e a proteína não degradável, é que uma mesma dieta, com uma mesma composição, fornecida a animais diferentes possuem diferentes concentrações de energia e de proteína não degradável no rúmen.

Para as exigências de fibra, não se observaram grandes mudanças em relação ao NRC-1989, com recomendação mínima de 25% de FDN, sendo 75% desta oriunda de alimentos volumosos. Embora reconheça que a metodologia do slope-ratio, utilizada para calcular a efetividade da fibra, seja a melhor solução para estimar as exigências de fibra para vacas leiteiras, o NRC-2000 justifica a não adoção desse parâmetro no novo modelo em virtude da falta de dados para caracterizar os alimentos listados em seu arquivo de ingredientes.

Quanto aos minerais, o NRC-2000 inova ao adotar diferentes biodisponibilidades para cada mineral, dependendo do tipo de alimento. Por exemplo, fontes minerais de cálcio possuem maiores disponibilidades desse elemento do que os alimentos concentrados e esses possuem maiores disponibilidades que os volumosos.

O arquivo de ingredientes do novo modelo foi ampliado quanto ao número de alimentos listados e permite a fácil inclusão de novos ingredientes. Aumentou também o número de análises necessárias para caracterizar um determinado alimento que não conste no arquivo. Entretanto, de posse dessas análises, espera-se que acurácia para estimar a concentração energética de um alimento seja maior, melhorando a estimativa do desempenho animal.

Os técnicos presentes no pré-lançamento em Kansas City se surpreenderam com o software desenvolvido para avaliação das dietas, uma vez que este trabalha em ambiente Windows e encontra-se bastante amigável quanto à alimentação dos dados e completo na apresentação dos resultados. Porém, sua adequada utilização exigirá boa base de conhecimento de fisiologia e nutrição de ruminantes, compatíveis com a exploração leiteira do próximo milênio.

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Paulo Henrique Mazza Rodrigues e Felix Ribeiro de Lima são professores doutores de Nutrição Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ/USP)

0 Comments

  1. ricardo maia disse:

    gostaria de informaçoes sobre o NRC 2000,como adquiri-lo.grato

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