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Nutrição e imunidade em bovinos – parte 1

Por Maria Sílvia Furquim de Azevedo Morgulis1

O aumento no número de doenças que antes eram exóticas em nosso país, bem como a maior incidência de doenças já conhecidas, mostram a necessidade de se entender melhor a imunidade dos bovinos e os mecanismos de melhorá-la para manter a boa saúde do rebanho. O mercado consumidor é cada vez mais exigente por alimentos saudáveis e sem resíduos de medicamentos. Mostramos competência para produzir carne bovina. Precisamos mostrar competência para garantir a qualidade dessa carne. Após enormes avanços no melhoramento genético, a imunidade é um tema que certamente entrará em pauta em pecuária de corte.

Ilustraremos com o que ocorreu com a criação de frangos de corte. Cientistas compararam a imunidade de animais de linhagem comercial de 1957, (ou seja, animais que não passaram pelo processo de seleção genética desde aquela data), com a de aves de linhagem de 2001 (selecionadas desde 1957 para ganho de peso), e alimentadas com dieta utilizadas em 1957 ou em 2001, isolando os efeitos da dieta e da seleção genética (Cheema, Havenstein e Qureshi). A intensa seleção para ganho de peso e produção de carne resultou numa ave extraordinariamente eficiente em termos zootécnicos, mas com menor capacidade de produção de anticorpos. No sentido inverso, outros pesquisadores mostraram que animais de linhagem selecionada exclusivamente para alta produção de anticorpos (ou seja, altas respondedoras) são mais leves que as aves normais ou baixas respondedoras. Assim, parece que as características para ganho de peso e produção de anticorpos não são selecionadas ao mesmo tempo.

Se isso é verdadeiro para as aves, é pouco provável que com os bovinos não ocorra a mesma coisa. Embora seja possível argumentar que um bovino criado a pasto somente seja capaz de expressar bons índices de ganho de peso se tiver uma boa resposta imunológica, não podemos esquecer que o animal não está exposto a determinados agentes patogênicos o tempo todo. Algumas doenças ocorrem em surtos, não sendo o animal necessariamente exposto a elas durante a criação. Mais que isso, é importante lembrar que ao selecionarmos um animal mais pesado, podemos inadvertidamente selecionar um animal baixo respondedor a vacinas.

Saúde é sinônimo de boa imunidade, ou seja, da capacidade do organismo reagir às doenças. Numa visão mais moderna, o sistema imunológico não apenas reage às doenças. Ele ajuda a manter o equilíbrio do organismo. Para melhorar a imunidade dos animais, precisamos controlar inúmeras variáveis, entre elas o estresse. Em diversos momentos da criação, os animais são submetidos a situações de estresse. Recentemente, a nutrição surgiu como mais uma ferramenta a ser utilizada em momentos críticos da criação, quando o estresse imposto pelo manejo tem efeito negativo sobre a imunidade. Muito tem se falado em minerais e vitaminas que, a serem administrados aos bovinos na desmama, melhorariam a resposta imunológica.

Influência da nutrição sobre a imunidade

Os estudos em nutrição determinam níveis ótimos de diferentes nutrientes para crescimento, ganho de peso e conversão alimentar máximos. Por outro lado, alguns pesquisadores argumentam que para o desenvolvimento de resposta imune eficiente, parte da energia e dos nutrientes utilizados para ganho de peso seria desviada para o sistema imunológico. Assim, os níveis ótimos de alguns nutrientes para ganho de peso e crescimento podem não ser suficientes para desenvolver resposta imunológica adequada. Em geral, embora não necessariamente, para alcançar resposta imunológica eficiente são necessários níveis mais altos de alguns ingredientes do que aqueles normalmente recomendados para crescimento e produção, como ilustra o gráfico de Wikse (1992).


Como atuam os nutrientes sobre a imunidade

Os nutrientes exercem efeitos sobre o sistema imunológico por meio da transdução de sinais e na expressão de genes importantes na regulação do sistema. Alguns elementos fazem parte de enzimas fundamentais na resposta imunológica. Mais raramente observa-se um efeito direto do nutriente sobre o agente patogênico. Por exemplo, o ferro é um mineral importante para o crescimento de patógenos como a E. coli. Durante a resposta do organismo ao agente patogênico, na chamada “resposta de fase aguda”, há aumento na produção de uma proteína que se liga ao ferro, deixando menos mineral disponível no plasma para ser utilizado pela bactéria. Isso dificulta a multiplicação do agente patogênico facilitando o controle da doença.

Os nutrientes mais estudados em imunidade são energia, proteína, vitaminas e principalmente os minerais, Zinco, Selênio, Cobre, Cromo, Cobalto e Ferro. Outros minerais são importantes, pois têm efeito negativo sobre a imunidade, como metais pesados como Chumbo e Alumínio. Em outra ocasião, falaremos especificamente sobre a ação dos diversos nutrientes sobre a imunidade de bovinos.

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1Maria Sílvia Furquim de Azevedo Morgulis, médica veterinária, formada pela FMVZ-USP em 1982, doutora em Patologia Experimental e Comparada pelo Departamento de Patologia, da FMVZ-USP. Pós-doutorado no mesmo departamento em Neuroimunomodulação: efeitos do estresse e de drogas de ação central sobre a resposta imune/inflamatória. Professora do mestrado da FACIS-IBEHE, na disciplina “Efeito placebo e neuroimunomodulação”. Pecuarista.

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