A qualidade da silagem e produtividade da cultura podem ser afetadas pelo tipo de sorgo e suas características, tais como: teor de matéria seca, estádio de maturação, carboidratos solúveis totais e porcentagem de grãos, hastes e folhas na planta no momento da ensilagem. Além disso, diversas práticas culturais podem afetar um ou mais fatores acima descritos, como: época de semeadura, densidade de plantas (stand), nível de fertilização e controle de plantas daninhas, pragas e doenças. Aliado a isso, solo e clima também são fatores de interferëncia nesse complexo sistema de produção.
FERTILIDADE DO SOLO
O uso de cultivares modernos de milho e de sorgo, híbridos mais produtivos e adaptados às condições locais e plantas anato-fisiologicamente mais eficientes tem sido apontados como responsáveis pelos ganhos efetivos obtidos em produtividade nessas culturas. No entanto, verifica-se que a fertilidade do solo é um dos principais fatores limitantes responsáveis pela baixa produtividade nas áreas cultivadas, devido a adubações muito modestas, ou até mesmo o uso da fertilidade natural do solo como proposta de exploração agrícola. A cultura de milho ou de sorgo, para produção de silagem, requer uma adubação completamente diferente da exigida para áreas em que se produz grãos tradicionalmente. A total retirada do material da área de produção faz com que as glebas que se destinam à produção de silagem exijam 2 a 3 vezes mais nutrientes por área que aquelas destinadas à produção de grãos, onde há a incorporação das palhadas. A adubação do sorgo deve ser função dos resultados das análises dos solos, bem como de sua exigëncia em nutrientes. A análise de solo permite que seja feito o monitoramento de sua fertilidade, de modo a repor todos os nutrientes extraídos pela cultura. Para uma produtividade de 14t/ ha de MS, o sorgo retira do solo 140 kg de N, 28 kg de P, 171 kg de K, 49 kg de Ca, 38 kg de Mg, 14 kg de S, 0,9 kg de Mn, 0,4 kg de Cu e 0,3 kg de Zn.
ÉPOCA DE PLANTIO
A época de plantio tem muita influência na produtividade em decorrência de vários fatores climáticos, especialmente umidade e temperatura. Em regiões de altitude elevada, assim como nas de alta latitude, a temperatura reduz o período de plantio e exerce grande influência no desenvolvimento da planta. Em função da exigência de unidades de calor pelas plantas, as culturas estabelecidas após o mês de agosto vão sofrendo significativa redução no ciclo, por atingirem tais exigências mais rapidamente em função da elevação das médias térmicas. Em geral essa tendência só será alterada com os plantios a partir de meados de fevereiro, onde a planta passa a aumentar seu ciclo devido à presença de baixas temperaturas. Nesse sentido, os cultivares de milho e sorgo têm mostrado uma redução na produção de grãos, relativamente à produção em época normal, superior à redução na produção de massa. Considerando a produção de silagem, esta é uma importante característica condicionante da qualidade do material a ser ensilado.
O Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo recomenda o período de 15 de outubro a 30 de novembro para as diversas regiões de Munas Gerais e adverte que a partir desta data há um decréscimo gradativo da produção de grãos pelas deficiências climáticas que aumentam a incidência de panículas vazias, além de maior probabilidade de ataque da mosca do sorgo (Contarinea sorghicola), que também pode contribuir para essa redução.
Considerando-se a grande variação climática do Brasil, propõe-se a seguinte distribuição para as épocas ideais de plantio de sorgo granífero e forrageiro e maior aproveitamento da rebrota: região Sul – o plantio é realizado desde o mês de setembro até meados de novembro; região Sudeste e Centro-Oeste – o plantio estende-se desde outubro até a segunda quinzena de novembro; região Nordeste – de acordo com as características climáticas locais, o plantio ocorre desde março até meados de abril; região Norte – o plantio coincide com o das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
O plantio também deve ser programado para que os períodos mais críticos de água para a planta (germinação, florescimento e enchimento de grãos) ocorram antes ou depois de períodos de veranico. Em sistemas de sucessão de culturas, onde há um uso mais racional da terra , o sorgo pode ser plantado após culturas de soja, arroz, amendoim e milho, normalmente no mês de fevereiro, após a retirada da cultura de verão. Em algumas regiões do Rio Grande do Sul, efetua-se ainda a sucessão sorgo/trigo, sendo que neste caso o sorgo é plantado no início da estação chuvosa (setembro) para permitir o plantio do trigo em março. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, utiliza-se, além do milho, também o sorgo em sucessão à soja, principalmente devido à sua maior tolerância à escassez de chuvas após o mês de março. Algumas variedades ou híbridos de sorgo plantados no início do verão possibilitam normalmente uma rebrota após o primeiro corte, rebrota esta, que dependendo da época do primeiro corte, das práticas culturais, do clima, do solo e do ano pode variar de 20 a 50% do rendimento obtido no primeiro corte para sorgos forrageiros, funcionando como uma segunda safra. Sorgos forrageiros de porte alto, devido à maior incidência de acamamento, têm sido semeados em épocas mais tardias ou como safrinha para impedir que épocas de chuvas mais intensas coincidam com o período de colheita.
DENSIDADE DE PLANTIO (“Stand”)
Tanto para sorgos graníferos (principalmente), como para os forrageiros e sacarinos, em solos de boa fertilidade e em regiões de boa distribuição de chuvas, obtem-se maiores produções com espaçamento entre fileiras na faixa de 0,5 a 0,7 m, sendo que ocasionalmente há preferência pelo espaçamento maior, por proporcionar maiores facilidades na execução dos tratos culturais. A densidade ideal para o sorgo granífero tem sido apontada como a mais próxima de 200 mil plantas/ha, enquanto que para forrageiros recomenda-se reduzi-la para um máximo de 150 mil, objetivando diminuir o acamamento que normalmente pode ocorrer em populações maiores. Para sorgos forrageiros há aumento de massa verde total e produção de açúcares totais apenas até 148.500 plantas/ha, dependendo do híbrido utilizado. O gasto de sementes no plantio varia com o tipo de sorgo, tamanho da semente, população desejada e valor cultural das mesmas. De modo geral são necessários de 08 a 10kg/ha de sementes. Devido ao tamanho reduzido das sementes é importantíssimo um cuidadoso preparo de solo e a profundidade de semeadura deve ser no máximo de 3 cm, devendo o adubo ser depositado 3 cm ao lado e 2 cm abaixo da semente.
Na prática é desconsiderado o tipo de sorgo no momento de se determinar o stand, ocorrendo normalmente superpopulação para sorgos mais altos e sub-populações para sorgos graníferos. Esses problemas estão relacionados, ainda, à ineficiência no processo de plantio, à falta de ajuste das semeadoras, ao equipamento em péssimo estado, à profundidade acima do permitido e ao adubo misturado com a semente, sendo relativamente comuns a ocorrência dos mesmos. Para sorgos de duplo propósito ou silageiros pode-se utilizar também espaçamentos de 80 a 90 cm, similares aos de milho, mas com aproximadamente 8 a 10 plantas por metro linear (90 a 125 mil plantas / hectare).
PRODUTIVIDADE
A produção média de grãos em ensaios de competição de cultivares de sorgo granífero instalados em quatro localidades de Minas Gerais foi de 4,6, com uma variação de 2,6 até 7,8t/ha de grãos. A produtividade de matéria seca (MS) de sorgos forrageiros está geralmente correlacionada com a altura da planta. O potencial de produção de MS aumenta com a altura da planta. A porcentagem de panículas decresce a uma taxa menor nos híbridos de porte baixo ou médios, e a uma taxa maior naqueles cultivares de porte muito alto. O inverso ocorre em relação à porcentagem de colmos ou hastes, mas a porcentagem de folhas decresce com a elevação da altura, porém a uma taxa menor e constante.
Os híbridos de sorgo de porte médio e de duplo propósito (silagens mais similares às de milho) apresentam normalmente menor produção de matéria seca por hectare do que os de porte alto. Produções de 11 a 13, de 13 a 16 e maiores que 16t/ha de MS, com porcentagens de panículas próximas de 40, 30 e menores do que 20% são comuns, respectivamente, para sorgos de porte baixo, médio e alto. As produções de matéria seca obtidas com a cultura do sorgo somente no primeiro corte em alguns experimentos tëm variados de 11 a 15t/ha, semelhantes às obtidas com a cultura do milho. Inúmeras comparações de dados mostram que, em média, os híbridos de sorgo apresentam maiores produtividades de MS do que os híbridos de milho. Este fato é mais evidenciado em condições marginais de cultivo, como em solos de baixa fertilidade, locais onde a ocorrência de estiagens longas são frequentes e a irrigação não é comumente utilizada.
COMENTÁRIO: Deve haver, por parte do produtor, uma preocupação constante com os tratos culturais aplicados às áreas de produção de silagem, não só pela possibilidade de obter máxima produtividade e redução de custos, mas também pelas características favoráveis à maximização da qualidade da silagem obtida, tais como a porcentagem de grãos, matéria seca e açúcares solúveis na planta no momento da colheita. Dependendo do sorgo utilizado, as produções podem ser muito maiores que as do milho, contudo, há uma redução da quantidade de grãos e consequentemente a densidade energética das silagens obtidas. A opção pelo plantio no início da estação das águas permite o aproveitamento de uma rebrota com bom potencial produtivo, entretanto, o sorgo é também uma excelente alternativa como cultura de “safrinha”. O uso de plantio direto em áreas para produção de silagem também deve ser considerada como prioridade, não só pela redução de custos de produção ao longo do tempo, mas também pela otimização do uso das áreas de produção (várias culturas anuais), bem como pela necessidade de um esmerado preparo de solo pelo tamanho reduzido das sementes de sorgo.
Fonte: DEMARCHI, J.J.A.A.; BOIN, C.; BRAUN, G. A cultura do sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) para a produção de silagens de alta qualidade. Zootecnia, v. 33, n.3, p.111-136, 1995.