Luís Gustavo Barioni1
A taxa de lotação possui importância chave na determinação da produtividade de sistemas de produção animal em pastagens. A produtividade de um sistema de produção animal em pastagem pode ser calculada pelo produto de:
Produtividade anual (GDP/ha, kg/ha/ano) = Taxa de lotação (TL, animais/ha) * Ganho de peso médio por animal (GDP, kg/animal/dia) * 365 (dias no ano),
Todavia, a taxa de lotação e o ganho de peso vivo por animal não são independentes. Quanto mais elevada a taxa de lotação, menor o GDP dos animais quando o sistema de forrageamento e animais são mantidos constantes. Assim, em um sistema de produção animal a pasto, pode se imaginar que a produtividade (GDP/ha) é uma função direta da taxa de lotação utilizada nas pastagens.
No pós-guerra, com a pressão por geração de dados capazes de fácil disseminação entre produtores, experimentos envolvendo taxas de lotação foram amplamente utilizados de forma a estabelecer a lotação ótima para a região, pastagem e categoria animal em estudo. Essa informação era facilmente disseminada e aplicada por produtores. Entretanto, logo notou-se que os dados experimentais eram extremamente específicos e sua extrapolação para outras regiões, espécies forrageiras e mesmo níveis de fertilidade de solo poderia gerar equívocos no manejo de pastagens. Assim houve a demanda por modelos que pudessem de forma genérica representar a variação nos ganhos por animal e por hectare. O primeiro deles foi provavelmente o modelo de Mott (1960), apresentado abaixo:
O modelo apresenta no eixo x um índice relativo à taxa de lotação ótima da pastagem, isto é, o valor 1.0 corresponde à taxa de lotação ótima do sistema em questão. No eixo y, são apresentados tanto o GDP quanto o GDP/ha. O modelo assume que existe pequena alteração do GDP até que a lotação ótima seja atingida. A partir daí o desempenho animal cai abruptamente, com GDP = 0 em lotações 50% superiores à lotação ótima. Essa queda abrupta deve-se à pressuposição do autor de que cerca de 2/3 do total dos gastos energéticos dos animais são com mantença quando a lotação é ótima. Portanto, quando ocorre um aumento de 50% da lotação, toda energia consumida pelos animais seria utilizada para mantença e o ganho de peso seria, portanto, nulo. Outra premissa é a de que praticamente não existe variação no desempenho dos animais em lotações abaixo da ótima. Esse modelo foi de grande engenhosidade e impacto na época em que foi publicado, porém desconsiderava alguns fenômenos elucidados mais recentemente, os principais especificados abaixo:
1. Os animais podem aumentar o desempenho em pastejos lenientes, isto é, menos severos, devido a uma maior taxa de ingestão de forragem e consequente redução da limitação imposta pelos mecanismos pré-ingestivos de controle de ingestão de matéria seca, além da seleção de forragem de maior valor nutricional
2. A taxa de utilização da pastagem, isto é, a proporção da forragem que é consumida em relação ao crescimento total aumenta com acréscimos da taxa de lotação
3. A exigência de mantença dos animais é moderadamente diminuída quando os animais são submetidos a níveis mais modestos de nutrição em pastejos mais severos.
Posteriormente, outros modelos de resposta à taxa de lotação foram propostos, inclusive uma modificação de Mott para seu próprio modelo e a discussão sobre a validade e interpretação deles se estende até hoje. Na sequência discutiremos modelos alternativos de resposta, as razões das variações entre esses modelos e visões mais modernas de otimização da lotação em sistemas de produção animal a pasto.
Fonte: Mott, G. O. Grazing pressure and the measurement of pasture production. Proceedings of the Eighth International Grassland Congress, p.606-611, 1960.
____________________________________________________________
1 Doutorando, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP